Apetece comer estes chapéus e até há um prato português

Maor Zabar é designer e cria chapéus e toucados. No seu portfolio, há um pouco de tudo: plantas doces e carnívoras, pássaros, insetos e sardaniscas, camarões e sushi, comida de todo o mundo, verdadeiras mesas postas e até um bacalhau com todos.

Maor Zabar [Imagem: Facebook]
Já imaginou andar com um toucado cuja forma é exatamente um prato com o grão, batata, cenoura e, claro, o sempre tão presente bacalhau? Se percorrer a galeria, irá encontrar esta peça única que surge numa altura em que o criador está a expor em Portugal, no Museu da Chapelaria, em São João da Madeira.

Este designer israelita desafia as ideias pré-concebidas sobre o que se coloca sobre a cabeça e usa o quotidiano como inspiração. Maor Zabar conseguiu, inclusivamente, usar a sua experiência pessoal e exorcizar o diagnóstico de doença de Crohn na sua arte. Na verdade, se hoje existe um chapéu com bacalhau e batatas foi porque Maor Zabar – que pôs um telefone sobre a cabeça de Lady Gaga – soube, como ninguém, converter um problema de saúde em arte.

Ainda não tem clientes portuguesas, mas quem sabe se não é uma questão de tempo. É que se as lusitanas ainda não conhecem Maor Zabar, o designer já se anda a informar sobre o que se faz dentro de fronteiras e Alexandra Moura já lhe despertou a atenção.

É fácil convencer as mulheres a usarem chapéus, hoje em dia?

Nunca é fácil convencer quem quer que seja a fazer o que não quer. O meu trabalho não tem a ver com a vontade de levar alguém a usar algo que faço, mas antes mostrar o que concebo. Usualmente, quem compra os meus chapéus é sempre alguém único. São pessoas que gostam de estar e ser a moda, de marcar a diferença. Essas, sim, são sempre fáceis de convencer a comprar os meus chapéus.

Que tipo de mulheres usualmente compra e usa e os seus chapéus?

Muitos dos meus chapéus são vendidos nos Estados Unidos da América, mas, como disse antes, há pessoas de todo o mundo que irão apreciar as minhas criações e comercializo os meus chapéus também para os países europeus de Leste e, claro, na América. Tenho clientes de idades muito diferentes e que vão dos 20 aos 60 anos e mais. Com os meus chapéus não há uma questão de idade. É sobre estilo, atitude e, acima de tudo, gosto pelas criações que são únicas e artísticas.

Tem clientes portugueses?

Ainda não, mas espero que isso mude.

O que pensa da indústria de moda portuguesa?

Não estou muito familiarizado, mas pelo que vi até agora há bastantes ideias novas e interessantes. Adoro verdadeiramente o trabalho de Alexandra Moura. Ela manipula muito bem o têxtil e as formas únicas.

Tem ou aceita encomendas especiais?

Ocasionalmente, aceito pedidos especiais, tudo depende da minha disponibilidade e do quão interessante pode ser a encomenda, mas, independentemente do tipo de pedido, os clientes sabem sempre que tenho de ter absoluta liberdade criativa sobre o design da cor e de materiais.

Qual foi a mais peculiar e porquê?

Um dos mais engraçados que recebi foi o de ter de criar um toucado para uma senhora que estava a preparar um chá para as amigas e queria que eu fizesse uma pilha de chávenas, no âmbito da minha coleção de miniaturas. Gostei tanto do resultado que decidi colocar esta peça como parte integrante da minha coleção. Estou, aliás, a apresentá-la nesta exposição, em Portugal.


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O seu trabalho em torno da alimentação nos chapéus foi uma forma de lidar com o diagnóstico da Doença de Crohn? Porque o fez e porque escolheu retratar exatamente o que não pode comer?

Quando trabalhei com alimentos nos meus chapéus, isso funcionou como uma terapia. Como se fosse uma fantasia. Nunca pensei ou foi importante saber que não poderia comer todos estes alimentos. Diverti-me a fazê-los e voltaria a divertir-me se os fizesse repetidamente, fosse para quem quisesse comprá-los.

Quais foram os chapéus mais bem-sucedidos que teve na sua coleção de chapéus com alimentos e mesmo com pratos de gastronomia [Zabar concebeu um especialmente para Portugal, um bacalhau com todos]?

Os mais bem-sucedidos, nesta gama, foram a tarte, os camarões e, claro, o sushi. Este teve tanto êxito que, no ano passado, fui convidado a criar uma mini-coleção para uma loja em Nova Iorque com a qual tive oportunidade de trabalhar. Creio que são bem-sucedidos porque as pessoas os consideram algo bem-humorados, cheios de cor e são divertidos quer para usar, quer como objeto de contemplação. Depois, as pessoas gostam quando reconhecem algo que decorre das suas vidas reais, isso pode ser tão divertido quão reconfortante.


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Que tipo de reações tem gerado os seus chapéus?

Independentemente de gostarem dos meus chapéus ou não, sempre recebi reações positivas e respostas maravilhosas sobre eles. Nos chapéus dos alimentos, nunca ninguém os confundiu com comida a sério.

Se colocou algo de tão seu em coleções como a da alimentação, o que quis mostrar em gamas como Miniatura, Infestação ou Plantas Carnívoras?

Tal Markovitch [Fotografia: DR]
A minha colega [Tal Markovitch] é vegan e eu, por outro lado, sou um apaixonado por carne. Estamos sempre a ter conflitos sobre estas questões. Quando criei a coleção das plantas carnívoras, tal começou como um pequeno protesto. Foi como se fosse uma entrada irónica no mundo oposto, no qual uma planta come carne. A coleção Miniatura foi inspirada, por exemplo, no meu trabalho em teatro como responsável de guarda-roupa. Como vejo manequins e maquetes todo o tempo, decidi trazer esses cenários para a minha vida. Descrevi alguns eventos que aconteceram comigo num determinado momento e criei pequenos dioramas em toucados. Nem sempre, quando crio uma coleção, há uma inspiração profunda ou algo que me tenha acontecido a mim. Posso conceber sobre elementos que considero bonitos ou objetos que me chamam à atenção.

Para lá do lado pessoal, o que é que mais o inspira: situações, atualidade, celebridades, mundo?

A minha inspiração surge de diferentes lugares. Da arte, se me cruzar com ma bela exposição. De livros. Do teatro e porque trabalhei como responsável de guarda-roupa. Adoro inspirar-me pela natureza, sejam animais, sejam plantas e, por vezes, adoro sentir-me inspirado por momentos do meu quotidiano.

Começou a trabalhar no mundo dos responsáveis de guarda-roupa – aos 23 anos – como é que isso mudou a forma de olhar para os chapéus que cria?

Comecei como artista ainda muito novo. No universo do guarda-roupa, comecei aos 23 anos. Nos chapéus, estreei-me com 35. Senti que foi a forma mais madura de começar e de criar a minha própria linha, mas sempre quis manter o meu espírito infantil que é parte de mim e das minhas criações.

O que prepara agora?

Estou a começar a minha nova marca para noivas e vestidos de noites, procurando integrar a minha marca de chapéus. Também estou quase a apresentar a minha coleção intitulada Criaturas do Mar, que acabei de revelar plenamente nesta exposição em Portugal.

Tendo em conta a sua experiência no teatro, como responsável de guarda-roupa e como designer de chapéus, como olha para este lado das séries de televisão? Há alguma que lhe pareça melhor e pior?

Frequentemente, procuro designs mais teatrais em televisão, em séries de época ou de fantasia. Sinto-me profundamente inspirado por séries como Game of Thrones, Outlander, The Tudors and Vikings.

 

O que espera desta exposição em Portugal?

Espero receber mais destaque e reconhecimento. Espero que os visitantes gostem do meu trabalho e que este venha a ser bem recebido por novos clientes.

Imagem de destaque: DR