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Se a obesidade aumenta, o cancro vai aumentar

Percorra a galeria e fique a conhecer alguns dados relativos à obesidade, uma verdadeira epidemia global e com especial incidência nas mulheres [Fotografias: Shutterstock]
"680 milhões são quanto o estado gasta por ano a tratar doenças associadas à obesidade. E não à obesidade diretamente", lembra Carlos Oliveira, citando um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública [Fotografia: Shutterstock]
Há medicamentos que não foram autorizados pela Europa, mas que, tendo sido noutros paises, estão a ser comprados online e consumidos por portugueses, alerta o presidente da ADEXO [Fotografia: Shutterstock]
Mariana Monteiro, endocrinologista, professora e representante da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) revela que as mulheres representam 85% dos utentes que chegam às consultas para a cirurgia da obesidade [Fotografia: Shutterstock]
Quase 60% da população portuguesa tem obesidade ou pré-obesidade, segundo estudo realizado entre 2015 e 2017. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, há 1,4 milhões de pessoas obesas em território nacional [Fotografia: Shutterstock]
A obesidade está associada a um decréscimo da esperança média de vida, incluindo doenças cardiovasculares, hipertensão, AVC, apneia do sono e cancro [Fotografia: Shutterstock]
Investigadora do Imperial College os London e ginecologista, Maria Kyrgiou, correlaciona obesidade com cancro e em particular nas mulheres. "O do ovário está a subir no Reino Unido e tal está ligado à obesidade", afirmou a professora aos jornalistas, num workshop que decorreu estar quatra-feira, 16 de maio, Na lista, estão ainda os cancros do útero, da mama e endométrio [Fotografia: Shutterstock]

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É investigadora, ginecologista oncológica no Reino Unido e esteve em Portugal para apresentar o estudo (que pode ser lido no original aqui) no qual correlacionou a obesidade e o cancro. Maria Kyrgiou veio deixar claro que o excesso de peso – já considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde – anda de mão dada com muitas patologias, entre elas o cancro.

As mulheres obesas têm 21% mais risco de cancro do endométrio do que as restantes. E este número já chega para fazer soar todas as campainhas. Há depois todos os outros. “Há muitos mais que estão associados a mulheres obesas como o ovário, do trato genital, cancro da mama, do esófago, colorretal, rim”, explica a investigadora e médica ao Delas.pt.

Maria Kyrgiou [Fotografia: Imperial College Healthcare NHS Trust]

A partir daqui as contas, dramáticas, são fáceis de fazer. Se a obesidade aumenta, o cancro vai acompanhar. Mas há mais, se se perde peso e se volta a ganhar então a estaca volta a ter um zero marcado. Leia a entrevista na íntegra a propósito do Dia Nacional e Europeu de Luta Contra a Obesidade, que se se assinala este sábado, 19 de maio.

Se o número de mulheres obesas cresce, o cancro também vai aumentar…

Exatamente. Os números são claros. Há muitas publicações neste campo e todas mostram a obesidade está a crescer. Atualmente, um em cada três adultos norte-americanos é obeso e é expectável que metade da população feminina adulta seja obesa. Se a obesidade aumenta, o cancro vai aumentar. Não há dúvida porque há uma correlação direta entre ambos.

O cancro do ovário e do endométrico são alguns dos mais elevados nas mulheres obesas, com o segundo a chegar a uma diferença de 21%. Porquê estes?

Não creio que esses dois sejam os cancros principais e mais evidentes em mulheres, são os que acompanho e trato mais como cirurgiã oncológica e ginecologista, no Reino Unido. Mas há muitos mais cancros que estão associados a mulheres obesas, como o de útero, ovário, do trato genital, cancro da mama, do esófago, colorretal, rim. Todos eles estão associados à obesidade.

“É expectável que metade da população feminina adulta seja obesa”

Se as pessoas perderam peso, os tecidos também diminuem?

O que acontece, na verdade, é que nos diferentes marcadores que analisamos em laboratório – e vemos isto em tecidos do cólon e intestino, mas também no cancro do útero – as células encolhem. Falamos de pessoas obesas. Notamos que assim que perdem peso com a cirurgia bariátrica, imediatamente os tecidos encolhem e a proliferação diminui. Mas não é apenas uma questão de tamanho, é uma questão de marcadores. Se o cancro se torna mais pequeno, é mais fácil de tratar, mas as células são grandes e vê-se que tem predisposição para, nos anos anos seguintes, desenvolver cancro. Com a perda de peso, parte do processo é revertido.

Uma vez que a propensão para o obesidade pode começar a desenvolver-se ainda durante a gravidez, ficando como marca posterior para a vida daquele feto e para os seus futuros filhos, o eventual aumento de cancro também pode decorrer daqui?

Não é genético. Há mutações que são conhecidas para cancros específicos. A ligação não é genética e não há prova que as duas, em conjunto, sejam. É a obesidade que encaminha para o cancro.

Qual o papel da gravidez na correlação das duas doenças?

Não há prova científica para isso. Mas há prova de que a obesidade na infância tem sido associado a cancro mais tarde na vida. Mas não está provada a obesidade da mãe e a sua correlação com possível cancro na criança, no futuro.

“Há prova de que a obesidade na infância tem sido associado a cancro mais tarde na vida”

Se as mulheres voltarem a ganhar peso, após terem perdido, a margem para terem cancro aumenta?

Se perdem peso e voltam a recuperar, sim. Mas também depende de durante quanto tempo perde o peso e quanto leva a repor

Mas se tiver um episódio de cancro?

Se teve cancro e volta a ganhar peso, sabemos que o prognóstico de cancro é pior, de recidiva é maior e sabemos que o tempo de vida sem um novo episódio é mais curto.

“Se teve cancro e volta a ganhar peso, sabemos que o prognóstico de cancro é pior, de recidiva é maior”

O que têm as mulheres de fazer?

Exercícios, comer melhor, perceber a importância disto, fazer uma mudança de estilo de vida. Não pode apenas fazer tudo bem uma semana. As dietas não resultam, é preciso ser-se saudável, é preciso educação, campanhas públicas de consciencialização, é preciso que a comunicação social explique o que está a acontecer.

Imagem de destaque: Imperial College Healthcare NHS Trust

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