Maria Teresa Horta recebe doutoramento ‘honoris causa’

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Maria Teresa Horta [Fotografia: Global Imagens]

Classificando Maria Teresa Horta como uma “escritora ímpar”, o ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida recordou que o seu nome se celebrizou “como expoente máximo do feminismo e das repressões do mundo social”.

Militante na defesa dos direitos das mulheres, o seu trabalho está diretamente relacionado com a qualidade literária, liberdade e posicionamento disruptivo na escrita, sublinhou o ISPA, em comunicado.

Para a reitora da universidade, Isabel Leal, “Maria Teresa Horta é um nome incontornável da cultura portuguesa do século XX, mas também pioneira da causa das mulheres, da afirmação feminina e da liberdade como valor nodal”.

A imagem da escritora é indissociável de uma escrita “radical e inconformista”, e de um posicionamento ético que se distinguia, muitas vezes, dos padrões da sociedade, com repercussões no seu percurso literário, apontou o instituto, salientando ainda que a escrita poética de Maria Teresa Horta nasceu de uma exigência de liberdade.

Um dos aspetos que mais sobressaíram na escrita de Maria Teresa Horta foi a sua “apropriação de um discurso de prazer que era pertença exclusiva do território masculino”.

A proposta de atribuição do doutoramento ‘honoris causa’ a Maria Teresa Horta partiu de Ana Cristina Silva, escritora e professora do ISPA, para quem “Teresa Horta é um dos expoentes máximos da língua portuguesa e, simultaneamente, uma mulher de luta por causas”, duas dimensões “inseparáveis na sua vida e na sua escrita”.

“A sua literatura, quer na vertente poética quer na vertente ficcional, dão primazia à qualidade literária, porém a sua força e intensidade decorre da postura da autora na resistência ao fascismo e na sua ação contra todas as formas de misoginia”, afirmou.

Por outro lado, a sua ação cívica e de intervenção social é “pautada por essas mesmas lutas”, bastando recordar, por exemplo, as “Novas Cartas Portuguesas” – escritas a par com Maria Velho da Costa e Isabel Barreno –, que “constituem uma obra-prima literária e um marco na literatura de género”, e as consequências que esta obra teve para as autoras, “por ousarem afrontar o regime fascista”, considerou Ana Cristina Silva.

Assinalando que Maria Teresa Horta esteve “próxima do Ispa em diferentes momentos do seu percurso”, a reitora do instituto universitário considerou ser “uma honra e um gosto” inscrevê-la naquela comunidade e homenageá-la publicamente através da distinção honorífica.

Maria Teresa Horta tem sido amplamente premiada ao longo da sua carreira literária, destacando-se, só nos últimos anos, o Prémio Autores 2017, na categoria melhor livro de poesia, para “Anunciações”, a Medalha de Mérito Cultural com que o Ministério da Cultura a distinguiu em 2020, o Prémio Literário Casino da Póvoa que ganhou em 2021 pela obra “Estranhezas”, e a condecoração, em 2022, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

Nascida em Lisboa em 1937, Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube, militante ativa nos movimentos de emancipação feminina, jornalista do jornal A Capital e dirigente da revista Mulheres.

Como escritora, estreou-se no campo da poesia em 1960, mas construiu um percurso literário composto também por romances e contos.

Com livros editados no Brasil, em França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal e é considerada um dos expoentes do feminismo da lusofonia.