O amor tem mesmo de ter limites. A série Seduced to Slay [Seduzida para matar, em tradução literal) quer mostrar casos reais de pessoas que, em nome do romance, foram enredadas, iludidas e levadas a cometer homicídios em nome de uma paixão incondicional por alguém.
A produção de oito episódios que se baseia em casos verídicos estreia-se no canal ID esta sexta -feira, 2 de fevereiro, às 22.00 horas, e traz à luz a importância de se discutir as relações, mais do que tóxicas, perigosas mesmo, que começam por nascer em ambiente de romance. “Seduced to Slay explora as complexidades psicológicas por trás desses crimes hediondos, proporcionando uma visão arrepiante das consequências mortais quando o amor se transforma na motivação principal para cometer o mal”, refere o comunicado.
Todas estes ‘true crimes’ são trazidos e apresentados pela psicoterapeuta norte-americana Stacy Kaiser e chegam carregados de componentes que todos já ouvimos falar e conhecemos, mas quem nem sempre são identificados e trabalhados a tempo: “relações tóxicas, casamentos destruídos, ciúmes doentios, infidelidades”. Por isso, a tempo de se evocar o amor à boleia do dia dos Namorados, que se celebra a 14 de fevereiro, importa também olhar para o lado dos romances que, afinal, tantas vezes se tingem de negro.
A psicoterapeuta, presença frequente em canais norte-americanos como NBC, CBS, ABC e CNN, revela à Delas.pt como se mergulha em comportamentos de risco desta dimensão, quais os sinais a que se deve prestar atenção e que denunciam a possibilidade de uma relação se tornar tóxica, formas de escapar a ela e de como estas histórias podem ajudar sobretudo as vítimas a superarem o horror.
Que impactos psicológicos e comportamentais pode ter uma série desta natureza nas vitimas e nos agressores. O que lhe diz a experiência?
Stacy Kaiser (SK): A maioria dos agressores não assiste a uma série deste tipo. Algumas das vítimas fazem-no para tentar compreender o que lhes aconteceu, assistindo a histórias de outras pessoas. E creio que é muito importante para elas, porque quando uma pessoa é vítima, sente-se muito sozinha. Muitas vezes sentem que se aproveitaram delas. Sentem que não são muito inteligentes e, ao verem que existem outras pessoas que são normais, inteligentes e atenciosas a serem atraídas para esse tipo de comportamentos, acho que a série vai fazer com que [as vítimas] se sintam mais validadas e menos sozinhas.
Em Seduced to Slay falamos de casos-limite. Mas quais são os primeiros sinais ou requisitos mais comuns que indicam que uma relação vai evoluir para um processo desta natureza? A que tipos de pedidos as vítimas devem estar especialmente atentas e que chegam logo no início da relação?
SK: Uma das maiores características que vemos neste tipo de casos e neste tipo de pessoas é a falta de empatia. Pessoas que não têm cuidado e compaixão pelas outras, e muitas vezes essas são as pessoas que cometerão o assassinato. Porque eles nem sequer têm quaisquer sentimentos sobre isso. Normalmente, atraem quem é atencioso e compassivo, que dizer: ‘Ah, acho que é uma pessoa muito boa ou amo-o e todas essas coisas. E por isso procuram pessoas que parecem não se importar com as outras e sem empatia ou que tenham um comportamento equivalente a uma montanha-russa, sendo ora maravilhosas, calorosas, atenciosas, ora frias. As pessoas que conseguem cometer crimes como estes podem desligar os sentimentos e não sentir nenhum remorso ou preocupação com a vítima.
Quais os sinais iniciais que deixam desde logo claro que o relacionamento vai evoluir numa direção tóxica?
SK: Se estiver diante de uma pessoa que, de alguma forma, seja abusiva de forma verbal, física, sexual ou financeira, então estamos diante de uma gigante bandeira vermelha [‘red flag’]. Se pessoa com quem está tem sido muito boa consigo, mas fala de um histórico de tratar outras pessoas de maneira tóxica, então tal também é um sinal de alerta. Se a outra pessoa parece ter aspetos escondidos como, por exemplo, vira o telefone para baixo, não permite que vá à casa dela ou não conhece amigos ou familiares, tudo isso são suspeitas a que se deve estar alerta. Se sentir que está a viver um relacionamento com uma pessoa que a trata de uma forma que evoca uma montanha russa – ora incríveis, ora maus – tal também é uma bandeira vermelha.
Que recomendações deixa para conseguir abandonar um relacionamento tóxico?
SK: O primeiro é conhecer-se bem a si própria, saber se tende a ser carente e excessivamente apegada. E, claro, com tendência para se sentir atraída para relacionamentos com pessoas más. Já trabalhei com pessoas que dizem literalmente: gosto dos ‘mauzões’. Ora, os maus normalmente não são bons para nós. O segundo aspeto a considerar é ter um relacionamento realmente forte com um amigo, um membro da família ou um conselheiro que seja honesto consigo sobre o tipo de relacionamento que está a ter. É mesmo importante estar atenta aos sinais de alerta. A melhor maneira de prevermos o comportamento das pessoas é pelo comportamento que elas já apresentam. E então, se vê que alguém está a ser cruel, a probabilidade é a de que isso continue.
E nas várias fases dos relacionamentos, a quem se pode pedir ajuda e onde?
SK: Bem, se alguém acredita que um crime está prestes a ser cometido ou está preocupado com isso, deveriam ir imediatamente à polícia, porque também podem as próprias vítimas podem estar em perigo. Se esse não for o nível e estando diante de relacionamento tóxico, recomendo que se contacte mais com amigos e familiares que possam apoiar. E estiver com dificuldades em sair de um relacionamento que considere tóxico ou não saudável, é importante procurar ajuda profissional junto de um conselheiro ou terapeuta.