“Mulheres em maior risco de jogar raspadinhas do que outras modalidades”

Porto, 22/08/2019 - Vício das Raspadinhas.(André Rolo / Global Imagens)
[Fotografia: André Rolo / Global Imagens]

No consumo de raspadinhas “não há grandes diferenças entre homens e mulheres”, explica à Delas.pt o psiquiatra que coordenou a investigação, Pedro Morgado. Mas, ainda assim, elas têm mais problemas com o jogo do que eles: 53,15% contra 46,85%.

O sexo feminino está em maior exposição face a este jogo de sorte e azar. “Nas outras modalidades de jogo, a diferença entre géneros é maior, com predomínio nos homens. Aqui, as mulheres são mais, estão mais em equilíbrio com os homens, estão em maior risco de jogar raspadinhas do que outras modalidades de jogo. Como são em maior número, estão também mais vulneráveis”, detalha o especialista que coordenou o estudo a par com o economista Luís Aguiar-Conraria.

O estudo Quem paga a Raspadinha?, elaborado pela Universidade do Minho (UM) para o Conselho Económico e Social (CES), auscultou 2554 indivíduos em Portugal continental e ilhas, dos quais 53,09% mulheres, e evidencia um quase equilíbrio entre géneros quer “na frequência do uso de raspadinhas quer nas patologias”, refere Morgado.

A aposta neste jogo também é mais comum nas pessoas com ensino básico e secundário (5.8 e 3.9 vezes maior probabilidade do que as pessoas com mestrado/doutoramento).

Sublinhe-se que esta investigação identificou 100 mil portugueses com problemas de jogo com a raspadinha, das quais 30 mil já em fase de vício patológico, como uma verdadeira dependência. Foi ainda identificado maior predomínio de sintomas de stress, ansiedade e de depressão em quem tem problemas com o jogo.

Nestes casos patológicos, Pedro Morgado ainda não dispõe de dados por género, especificando que essa será uma matéria que ainda vai ser trabalhada no âmbito desta investigação.

Em média, os portugueses gastam 54 euros por ano em raspadinhas, mas é na população que ganha o salário mínimo nacional e menos, entre 400 euros e 664 euros, que surge a maior consumo desta modalidade de jogo. Ela é, aliás, 3,1 vezes mais do que quem recebe mais de 1500 euros.

Segundo os dados disponibilizados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ao Jornal de Notícias, os portugueses gastaram 1515,2 milhões de euros em raspadinhas durante o ano de 2021. Ora, contas feitas, tal indica uma média de 4,1 milhões de euros por dia.

No estudoQuem paga a Raspadinha?, 221 inquiridos que dizem jogar regularmente, 112 (51%) afirmaram que jogam semanalmente, 91 (41%) mensalmente e 18 (8%) diariamente.