Nutrigenética: Será este o segredo para uma vida mais saudável?

1-Genética

Até que ponto o que comemos, mesmo fazendo parte do rol dos alimentos saudáveis, é o melhor para o nosso corpo? Será que o exercício físico que praticamos é o mais aconselhado para nós? Porque resultam certas dietas e exercícios com os outros e não connosco? É a estas perguntas que a nutrigenética pretende responder, procurando, na quota-parte de importância que os genes têm na saúde de cada um, adequar os fatores ambientais, como a alimentação e nutrição, ao seu bem-estar físico, e, por consequência, emocional.

Partindo do facto de cada pessoa possuir um perfil genético único, com necessidades nutricionais únicas, um plano alimentar baseado na genética tem possibilidade de ser até três vezes mais eficaz do que um plano convencional. Carla Guilhas, especialista em medicina preventiva personalizada, nos laboratórios Synlab, explica, em entrevista ao Delas.pt, em que consiste ao certo a nutrigenética e quais as suas vantagens para a saúde humana.

O que é exatamente a nutrigenética?
Temos a genética e dentro da genética temos uma parte relacionada com a nutrição. A nutrigenética, neste caso, tem a ver com como é que nosso corpo e os nossos genes reagem à alimentação, aos diferentes alimentos, e como é que isso impacta depois ao nível e doenças. Ou seja, é a nossa capacidade de metabolizar determinados tipos de alimentos e que consequências, benéficas ou prejudiciais, é que esta metabolização vai ter para o nosso corpo. E daí a sua importância. Na área da medicina preventiva tem-se em conta a genética e os fatores ambientais. Nesta área da prevenção, vamos considerar que a genética é capaz de valer 30% e depois temos os fatores ambientais (70%) que influenciam na expressão destes genes – como é que o nosso corpo acaba por reagir ao meio ambiente. E o fator ambiental mais importante é a nutrição porque comemos todos os dias, por isso tem um peso muito grande. Vai condicionar toda a nossa capacidade psíquica, cognitiva, corporal, o próprio tratamento de doenças. Se o corpo estiver a funcionar, se tiver os nutrientes e as vitaminas adequadas, se eu souber quais são os alimentos que o meu corpo digere bem, metaboliza bem e vai tirar os melhores benefícios, se eu souber quais são as minhas necessidades de vitaminas e de minerais, sabendo isso devo comer mais alimentos ricos em determinadas vitaminas ou em determinados minerais, para adquirir os níveis ideais.

Como é que a pessoa pode saber o que o seu corpo precisa do ponto de vista genético?
Atualmente, existem vários testes de nutrigenética no mercado. Nós, na Synlab, temos um teste onde são estudados vários genes e a informação que esse gene tem e que pode variar de pessoa para pessoa. E nós vamos obter essa informação, que permite perceber, por exemplo, o que é a capacidade de cada pessoa para metabolizar as gorduras. Se calhar eu consigo comer as gorduras, metabolizo-as rapidamente e não tenho o efeito, e se calhar outra pessoa vai fazê-lo de forma mais lenta e se calhar vai engordar mais facilmente. A mesma coisa em relação ao desporto. Há pessoas que conseguem fazer muito bem um desporto, em que vão usufruir bastante se a atividade for mais intensa, e outras pessoas deveriam talvez fazer caminhadas, mas talvez corridas não, que não são benéficas porque se calhar vão aumentar os níveis de inflamação, por exemplo. Portanto, os testes vão mostrar como é que os genes definem a forma como eu reajo às gorduras, aos hidratos de carbono, às necessidades de nutrientes, como é que é a nível do desporto, de desintoxicação, como é que o meu corpo lida com a adição ao álcool, à nicotina.

E a partir daí o que se segue?
Eu estudo os genes que estão associados a este teste, e depois esse teste traz o relatório personalizado com sugestões alimentares, hábitos e estilos de vida que a pessoa deve e não deve ter, e baseado nisso depois será possível elaborar um plano alimentar adequado às necessidades.

Carla Guilhas, especialista em medicina preventiva, nos laboratórios Synlab [DR]

E o teste é feito como, através de que tipo de recolha?
Normalmente, é feito através de uma recolha de saliva e é preciso ter uma requisição médica. É um teste de genética, portanto implica sempre uma requisição médica, e depois é sempre importante ter um especialista a ajudar a interpretar as recomendações que são feitas e depois, entre essas recomendações, arranjar um plano adequado à pessoa. Um plano alimentar baseado na genética é um plano saudável, porque nós sabendo não vamos estar a comer alimentos que acharíamos saudáveis, mas para nós podem não o ser. Se pensarmos que a alimentação é o mais fácil, o mais barato e o mais simples para manter os níveis de saúde, estes testes com estes planos acabam por ser uma mais-valia.

Quanto é que pode custar um teste destes?
O nosso teste custa €295 e depois mais cerca de €100 para os polimorfismos que vamos estar a estudar, que são quase cerca de 100 análises. Por isso é que considero que é um bom investimento na saúde, para depois não ter de gastar na doença.

Isso também inclui um acompanhamento posterior, um plano de alimentação e/ou de exercício físico?
Não, o plano vem é com várias recomendações consoante aquilo que foi encontrado para cada área. Muitas vezes já com alguma indicação de alguns exercícios ou alimentos mais necessitados ou outros que são ricos naquilo que a pessoa deve evitar. Mas é sempre necessário depois ter sempre o acompanhamento de um médico ou de um nutricionista, que elabore um plano completo de acordo com os gostos da própria pessoa. Portanto, o teste é uma base bastante completa, mas implica sempre um acompanhamento de um especialista para ajudar a pessoa a perceber o equilíbrio que é necessário ter.

Estamos a falar de um plano que implica que a pessoa ceda os seus dados genéticos. Quais são as garantias de confidencialidade e proteção?
Todas. Para já, é preciso uma requisição médica, há um consentimento informado, em que a pessoa é informada de tudo o que isso implica e quais são as salvaguardas que tem. À partida, qualquer laboratório tem de ter isso salvaguardado. Para a genética é primordial, mas mesmo para as outras análises qualquer laboratório compete sempre salvaguardar o sigilo. Isso tem de imperar num laboratório de qualidade. Aqui estamos a falar de medicina preventiva, não estamos a analisar genes que nos digam se somos mais propensas a ter esta ou aquela doença. De qualquer forma é uma análise de ADN, portanto é imperativo esse cuidado acrescido.

Estes testes beneficiam de algum acordo ou comparticipação do Serviço Nacional de Saúde?
Por enquanto, não. Cada vez mais começa a haver a noção de quanto o investir numa medicina preventiva vai poupar muito investimento depois em termos de tratamento de doenças. E estamos a caminhar nesse sentido. Ainda estamos a dar os primeiros passos. O prevenir é melhor do que o curar, que muitas vezes não se consegue, e do que perder muita qualidade de vida. A ideia é envelhecer com qualidade. Pelo que sei, a nível internacional, neste momento, já começa a haver em alguns países, essa sensibilização e atitudes no sentido de investir mais na medicina preventiva, do que só na medicina curativa. Esta é importante e primordial, mas talvez possamos criar muito melhor qualidade de vida e evitar muitas doenças, ou retardar o seu aparecimento, em todo este processo.

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