Elisabete Jacinto, piloto: "Era criança e frequentava a escola primária quando se deu o 25 de Abril. Pouco tempo depois, constatei que o muro que separava o espaço de recreio entre a escola dos rapazes e das raparigas tinha desaparecido. Agora rapazes e raparigas podiam brincar juntos ou, pelo menos, partilhar o mesmo espaço. Tal não aconteceu. Percebi rapidamente a razão porque tinha desaparecido o muro mas demorei muitos anos a entender porque é que este facto não tinha alterado o nosso comportamento. Podia ir brincar para o lado de lá, se quisesse, mas não queria! A decisão podia ser minha. Este foi o grande impacto que o 25 de Abril teve em mim enquanto mulher. Percebi que, a partir daí, podia ser eu a decidir. E esta foi uma das grande conquistas que o 25 de Abril nos trouxe, a nós mulheres, a possibilidade de sermos responsáveis, capazes de optar, de ter acesso ao que nos interessa, de ter um trabalho pago e de sermos autónomas financeiramente. A minha mãe não teve esta possibilidade" [DR]
Joana Gíria, presidente da Comissão para Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE): "No dia 25 de abril de 1974, Portugal afirmou-se como Estado de direito democrático respeitador da voz de cada mulher e de cada homem. O Dia da Liberdade recorda-nos que sem igualdade de oportunidades entre mulheres e homens não há progresso. 45 anos depois, ainda encontramos barreiras que teimam em persistir. Por isso, não podemos desistir.” [DR]
Aida Tavares, Diretora do Teatro S.Luiz: "O 25 de Abril trouxe-me a possibilidade de um futuro. A minha família pertencia a uma classe que não via os filhos ascender socialmente, por isso sinto-me diretamente filha da Revolução." [Leonardo Negrão / Global Imagens]
Leonor Xavier, escritora e jornalista: "O 25 de Abril trouxe-me o mundo, quando passei a viver em São Paulo. Aprendi as pessoas e as culturas, a ditadura e a liberdade, os privilégios, a violência, o medo. A pobreza e a opulência. A imensidão da cidade. Aprendi a pensar, falar e agir seguindo a intuição e a consciência." [Fotografia: Jorge Carmona / Global Imagens]
Teresa Tavares, atriz: “Nasci quase 10 anos depois do 25 de Abril. Felizmente, não sei o que é viver num mundo em que nem todas as mulheres podem votar, não podem sair do país sem autorização do marido, em que os maridos têm todos os direitos sobre os bens das mulheres e sobre os filhos, em que não me posso divorciar. Provavelmente, não teria frequentado a universidade, dificilmente seria atriz em Portugal e não poderia falar livremente e dar a minha opinião nestas circunstâncias. As conquistas da revolução ao nível dos direitos das mulheres são extraordinárias e não podem ser esquecidas: é graças a ela que hoje falo de igual para igual com um homem, tomo as minhas próprias decisões, faço as minhas escolhas, vou para onde quero, sou independente e me afirmo como sou e pelo que sou - como mulher. Obrigada a todos os que não baixaram os braços e lutaram pela Liberdade. Saio todos os anos à rua nesta data, consciente de que há um longo caminho a percorrer como mulher para chegarmos à igualdade, mas grata porque sem a liberdade de expressão que a revolução me permitiu, hoje, provavelmente, já nem sequer estaria viva.” [DR]
Fátima Lopes, estilista: “O 25 de abril significa Liberdade. E a pessoa que sou hoje devo-a ao facto de ter nascido e crescido num pais que nos dá a possibilidade de sermos nós e de isso mesmo estar nas nossas mãos. Podemos fazer o nosso presente e o nosso futuro porque temos a sorte de viver a liberdade.” [Pedro Nunes/Reuters]
Sofia Branco, presidente do Sindicato dos Jornalistas: “Nasci depois do 25 de Abril (a que nenhum Acordo Ortográfico tirará a maiúscula), mas fui educada como filha da Revolução, livre e independente, na premissa de que mulheres e homens são iguais em direitos e responsabilidades. Reconhecidas as conquistas, lembremos o que falta ainda: salário igual para trabalho igual; acesso a cargos de chefia; partilha de responsabilidades parentais. É já menos, mas ainda é muito. Falta cumprir Abril.” [Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens]
Justa Nobre, chef: “Quando o 25 de Abril aconteceu eu estava há dois anos em Lisboa, vinda de Trás-os-Montes. Tinha 17 anos, ainda era uma adolescente, por isso é difícil lembrar-me da diferença e do impacto que isso tive para mim enquanto mulher. Deu-me, sem dúvida, mais oportunidade de me exprimir sem medos e receios.” [Paulo Spranger/Global Imagens].
Melânia Gomes, atriz: “Se não fosse o 25 de Abril provavelmente teria nascido em Angola, uma vez que boa parte da minha família nunca teria saído de lá. Possibilitou-me também ter uma carreira como atriz, com liberdade para me expressar artisticamente, sem que isso fosse encarado com maus olhos.” [Paulo Jorge Magalhães / Global Imagens]
Joana Metrass, atriz: "O 25 de Abril trouxe para as mmulheres o deixar de ser considerada 'cidadã de segunda' e propriedade de outra pessoa, precisando de autorização do marido para viajar e trabalhar. 'Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei' - Constituição Portuguesa de 1976." [DR]
Mariana Monteiro, atriz: “Ter feito parte da série 'Mulheres de Abril' deu-me a possibilidade de entrar em contacto com o modelo da sociedade de então. Ainda que num ambiente ficcionado foi-me possível sentir o quão submisso e limitado era o papel da mulher. Os seus direitos eram quase nenhuns. Não podia votar. Não podia ser juíza, diplomata, militar ou polícia. Para trabalhar no comércio, sair do país, abrir conta bancária ou tomar contracetivos, a mulher era obrigada a pedir autorização ao marido. E ganhava quase metade do salário pago aos homens. Estas e outras leis foram rasgadas no 25 de Abril, quando, um ano depois da revolução, os direitos das mulheres foram consagrados na Constituição da República. Portanto ao 25 de Abril devemos a liberdade e a conquista de um espaço igualitário na sociedade. Ainda que seja uma luta atual esta da igualdade de género, a verdade é que é incomparável o que a mulher representa hoje na vida familiar, social e política. [DR]
Irene Flunser Pimentel, historiadora: “O 25 de abril trouxe-me todas as possibilidades legais e agora é só utilizá-las. A alteração ao código civil que fazia da mulher casada alguém que devia ser obediente ao marido, então o chefe da família. Agora, no casal, ambos tem os mesmos direitos e os mesmos deveres.” [Orlando Almeida/ Global Imagens]
Maria do Céu Santo, ginecologista e obstetra: Do que o 25 de abril trouxe para as mulheres, destaco, talvez por ser médica, o Serviço Nacional de Saúde, como essencial para a qualidade de vida desde a gravidez até a geriatria. Realço a liberdade conseguida pelas mulheres na igualdade de direitos, na liberdade sexual, mas sobretudo no acesso ao ensino e na consequência dessa valorização. Mas atualmente também estamos a aproximarmo-nos de um precipício com o acumular de funções difíceis de gerir (pais idosos, filhos, profissão e parceiro/a) e entrar num “burnout” não só profissional, mas também familiar, levando a um aumento de divórcios e de consumo de anti- depressivos. Temos de encontrar o equilíbrio entre as diferentes vertentes da vida para não passarmos 70% do tempo com sensação de cansaço. [Gonçalo Villaverde/Global Imagens]
Cláudia Bicho, cientista e proprietária da Micropadaria da Graça (Lisboa): “No meu percurso destaco a possibilidade que o 25 de Abril de 1974 me proporcionou de aceder à educação. No meu caso, licenciei-me e doutorei-me na área da Biologia Celular. Considero que a educação foi essencial para o exercício da minha liberdade e das minhas escolhas.” [Natacha Cardoso/Global Imagens]
Júlia Pinheiro, apresentadora: “O 25 de Abril é a grande porta para a liberdade da verdadeira emancipação feminina porque trouxe a possibilidade de lutarmos paritariamente por direitos que só agora se estão a traduzir em realidades concretas: a discussão da paridade salarial, a inclusão das mulheres em cargos de chefia e em fóruns mais qualificados. Há ainda uma questão que considero da máxima importância e que tem a ver com a despenalização do aborto, uma causa cívica na qual me envolvi publicamente e que achava indispensável que fosse feita. Nada disso teria acontecido se não fosse o 25 de Abril.” [DR]
Inês Pedrosa, escritora: O 25 de Abril alterou radicalmente a minha vida, dado que o curso que fiz - Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa - não existia durante a ditadura. Nunca teria escolhido a profissão de jornalista sabendo que existia censura. E não teria podido ler metade do que li nem escrever e publicar os meus livros sem liberdade. A liberdade é um bem mais escasso e frágil do que pensamos, exige uma defesa constante. E implica um combate constante pela igualdade de oportunidades e pela equidade, porque ninguém pode dizer-se livre numa sociedade em que os direitos e oportunidades não são iguais para todos. Ou seja, a luta pela liberdade continua. Um dos capitães de Abril, Hugo dos Santos, era grande amigo do meu pai, e repetiu-me sempre: “Foi para a tua geração que fizemos o 25 de Abril”. Tenho procurado honrar essa luminosa herança. [DR]
Catarina Munhá, cantora: Para mim, o 25 de abril é a minha avó a contar-me que finalmente celebrou o 1º de maio de 74 na rua, em liberdade, de gabardina vermelha. É ela a partilhar o alívio de saber que os filhos não teriam de ir para a guerra. É a minha mãe a contar-me como foi finalmente para um liceu misto, rapazes e raparigas a conviver sem as antigas proibições, numa misturada feliz e livre. Para mim o 25 de abril é cantar a Grândola Vila Morena em altos berros em almoços e jantares de família e a minha pele virar arrepio insistente enquanto penso neles a viver o 74. Para mim o 25 de abril são os meus pais a contar-me como finalmente puderam dizer o que pensavam, sem medo de as paredes os ouvirem. Sem medo dos vampiros. Sem medo. [DR]
Ana Cristina Silva, escritora: "A revolução de Abril apanhou-me com 9 anos, percebi que era um dia especial ainda que sem compreender os seus contornos. Cresci convencida de que seria natural ir para a faculdade, mesmo sendo a primeira pessoa da minha família a fazê-lo. Tomei como adquirida a igualdade de género, estando certa que as minhas relações amorosas seriam sempre pautadas por essa certeza. A minha adolescência foi preenchida por convicções de igualdade e liberdade que só existiam para os jovens mais politizados da geração anterior." [DR]
Ana Sofia Fernandes, presidente da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres: "A Democracia trouxe às mulheres igualdade na lei e mudança de estatuto em termos jurídicos. O que falta? Como diria Maria de Lourdes Pintasilgo, falta aprofundar a democracia paritária, não só na lei e nas normas, mas na vida toda" [DR]
Eduarda Abbondanza, diretora da ModaLisboa: “Quando o 25 de abril aconteceu eu era adolescente. Começou por me trazer liberdade do ponto de vista geral. Ainda não era mulher, era miúda, mas a primeira coisa que fiz foi mudar de liceu feminino para um misto. Mais tarde, acho que o 25 de Abril trouxe a democracia e a liberdade. E a partir daí pudemos lutar pelos nossos direitos, mas trata-se de uma conquista que ainda não está finalizada. A liberdade é o elemento principal para a construção de um caminho, de uma estratégia.” [DR]
Rita Rato, deputada do PCP: “Mais do que oportunidades e possibilidades, a Revolução conquistou os direitos para as mulheres, formalmente para todas. Consagrou na Constituição o princípio da igualdade segundo o qual ninguém pode ser discriminado. Também na Constituição está o salário igual e trabalho igual. As mulheres ganhavam antes menos do que os homens, o salário igual foi também revolucionário. O reconhecimento dos direitos das mulheres na lei e na vida passou ainda por matérias como o divórcio, direitos sexuais e reprodutivos.”
Sandra Benfica, MDM: "Nasci em 1972, logo toda a minha vida foi vivida num tempo novo que Abril inaugurou. Abril foi uma revolução na vida das mulheres, que nos devolveu a liberdade e consagrou na lei direitos há tanto negados no trabalho, na família e na sociedade. Pôs fim às violências, às humilhações e à subalternidade a que o fascismo nos condenou. Permitiu-nos ser mulheres de corpo inteiro por isso Abril é mulher. E é Igualdade que importa continuar a exigir na vida das mulheres." [Paulo Spranger/Global Imagens]
Cristina Pinheiro, francesa lusodescendente e realizadora do filme "Menina": "O 25 de abril é uma revolução que é a imagem do povo português. Parece que é um mito, um sonho. Se se sonhasse com uma revolução perfeita, era esta: os militares do lado do povo – isso não existe! - e depois o símbolo do cravo, uma flor. Qual é a revolução que tem o símbolo de uma flor? A revolução são as armas, em França foi a guilhotina, a Tomada da Bastilha. O 25 de abril, para mim, é a alma dos portugueses." [Fotografia: Sara Matos / Global Imagens]
Cláudia Pimentel, secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café: "Como mulher, penso que hoje nos é possível aceder a lugares hierarquicamente superiores, o que antes era bastante difícil. A mulher conquistou uma liberdade de ação que anteriormente não tinha, mas isso também é fruto da evolução da sociedade e da globalização. É difícil saber se as mudanças hoje são existentes do 25 de abril em si ou da evolução do mundo. Na minha família já havia mulheres licenciadas antes do 25 de abril" [DR]
Maria Teresa Horta, escritora: “Fui jornalista confrontada com a censura, fui escritora confrontada com a causa da liberdade. Hoje em dia até me custa acreditar! O 25 de Abril é sempre um dia comovente, maravilhoso, a maior alegria, uma das maiores, se não a mais completa, porque toca tudo e toca-me a mim enquanto mulher. Se houve alguém que beneficiou totalmente foi a mulher. Havia tudo por fazer. A situação da mulher hoje continua muito longe do ideal, mas é também uma luta muito lenta, é social e com questões muito pessoais, porque há ainda entraves de muitos e das próprias mulheres até. Dão-se três passos em frente e recuam-se dois. Mas não se pode desanimar e abrir mão dos direitos já conquistados, são direitos humanos.” [Global Imagens]
Patrícia Sequeira, realizadora: "Talvez 45 anos depois do 25 de abril tenhamos que ser nós, as mulheres, a ir à luta, a escrever a sua história, a gritar “ação” e agir em liberdade, lembrando os seus feitos e combatendo o apagão a que ainda somos sujeitas. Fiquei a saber que sou a primeira realizadora no top 20 dos filmes nacionais mais vistos. Digo-o com orgulho, não em minha promoção mas em nossa defesa." [Sara Matos / Global Imagens]
Sandra Cunha, deputada do BE: “Não tive experiência antes do 25 de Abril, mas conheço as histórias, as experiências de quem viveu, o que passaram e de como eram os seus quotidianos. O 25 de Abril mudou toda a perspetiva de futuro, vida e forma de estar. Enquanto mulher, a palavra que me ocorre é a da liberdade. O 25 de Abril representa a liberdade, mas para as mulheres foi especialmente sentida e importante, porque foi ela que permitiu toda a evolução para o caminho para a igualdade, e que ainda não alcançámos. Continuamos a lutar por ela.” [Global Imagens]
Marta Andrino, atriz: “Além das varias historias de família, o 25 de Abril trouxe-me a liberdade de pensamento e de expressão que sempre conheci. Artisticamente, trouxe-me também a oportunidade de estar ao lado de uma mulher que viveu o antes e vive o depois do 25 de Abril e em que a sua palavra artística é tão forte tanto antes como depois, apesar das dificuldades que viveu para estar de acordo com o regime. Estou a falar da grande Simone de Oliveira.” [Filipa Bernardo/Global Imagens]
Patrícia Santos Pedrosa, arquiteta e presidente das Mulheres na Arquitetura: "Com a liberdade chegou, entre outras conquistas fundamentais, a crescente democratização do acesso à universidade. Ainda que incompleta e longe de ser efectiva, a mobilidade social a ela associada trouxe outra coisa importante e às vezes dolorosa para as mulheres: a consciência de que ainda muito está por conquistar, que muito está por lutar para se concretizar uma efectiva democracia universal." [DR]
Teresa Caeiro, deputada do CDS: “O processo do 25 de Abril - e isto é uma posição muito clara para o CDS - só fica concluído como 25 de novembro que veio afastar as pretensões das derivas totalitárias que estavam presentes. Mas falamos sempre de um começo de um processo para a consagração de liberdades para as mulheres. Para a população em geral, foi o fim de um regime que era terrivelmente desigual para homens e mulheres, elas não tinham acesso a determinadas profissões, não podiam ter atividades de comércio ou ausentarem-se do país sem autorização do marido, havia muitas limitações quer no direito de eleger, quer no de ser eleita.” [Leonardo Negrão/Global Imagens]
Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade: “Habituei-me a olhar para a revolução de abril a partir dos ganhos democráticos, sociais e igualitários de que eu própria, nascida dois anos antes, beneficiei e que me fizeram acreditar, já na década de 80, que o futuro seria de consolidação do projeto de modernização social em construção no nosso país. A democratização do ensino, a abertura do país à Europa e ao mundo, os avanços na legislação e nas políticas que garantiram direitos às mulheres. Hoje o desafio é dar continuidade à luta de tantas pessoas antes de nós, para que a igualdade não seja apenas formalismo abstrato mas seja assimilada pelo conjunto da sociedade como prática maior de vida de que não vamos prescindir.” [DR]
Heloísa Apolónia, deputada do partido Os Verdes: “As conquistas de Abril que mudaram a vida de tantas mulheres foram o direito ao voto e o deixarem de estar subordinadas à vontade do marido. Como tenho dedicado a a minha vida à intervenção e participação política, sei bem o valor disso.” [Gonçalo Villaverde / Global Imagens]
Lina Lopes, líder das Mulheres Sociais-Democratas (PSD): “Todos ganhámos com o 25 de Abril, mas sobretudo trouxe para as mulheres, em particular, oportunidades grandiosas. Elas reafirmaram o seu papel na sociedade como cidadãs plenas. Mas hoje, no século XXI, como dantes, é necessário que as mulheres continuem a lutar pelos seus direitos. Quero apelar sobretudo às mais jovens, que já nasceram em liberdade, que recordem os sacrifícios e a luta das avós e das mães, que nos permitiu que hoje possamos celebrar a festa de todas as pessoas trabalhadoras, homens e mulheres.” [Pedro Correia/Global Imagens]
Isabel Moreira, deputada pelo PS: “Já nasci em Liberdade. Devo ao 25 de Abril o fim da subjugação legal das mulheres, a permissão para dar voz às reclamações feministas que se fizeram sentir não apenas no momento da revolução e nas posteriores alterações legislativas, mas também nos anos que se seguiram e que levaram a conquistas sucessivas dos direitos das mulheres. O 25 de Abril deu-me Liberdade, Igualdade e sobretudo voz.” [Diana Quintela / Global Imagens]
Teresa Fragoso, presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género: “Eu nasci em 1974 e tive a oportunidade de crescer numa sociedade democrática assente nos valores de igualdade. Agradeço às mulheres e aos homens que lutaram por isso e trabalho todos os dias para garantir a passagem desse testemunho às novas gerações.” [Filipe Amorim/Global Imagens]
Gisela João, fadista: “Se uma miúda de 20 anos me pergunta se o 25 teve impacto na mulher portuguesa fico com um sorriso na cara, meio maroto, como quem diz: “pff, óbvio!”. Se lhe disser que, para o homem, o casamento era quase como assinar o contrato por uma terra ela não acreditaria nem entenderia como era esta “permissão” para viver que nos era dada. Se disser a essa miúda de 20 anos que as mulheres não podiam trabalhar sem autorização do marido, que para acederem a algumas profissões não poderiam casar ou ter filhos e que outras lhes estavam vedadas, ou que existiam apenas para a esfera familiar? Acho que a miúda não iria acreditar. Digo-lhe então que o 25 de Abril nos foi e nos é importante porque nos permitiu, pelo menos, viver na busca pela igualdade que já está no papel. Agora, é “lutar” pela igualdade em todas as esferas em que nos movemos. E ir deixando claro que a liberdade está em todos os nossos atos. [Adelino Meireles / Global Imagens]
Rita Lello, atriz: “A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.” É com estas palavras que abre a Constituição da República Portuguesa, elaborada pela Assembleia Constituinte e aprovada a 25 de Abril de 1976. Quando comemoramos o 25 de Abril, não comemoramos só a Revolução, comemoramos o aniversário das primeiras eleições livres 25 de Abril de 1975, comemoramos a Constituição de 25 de Abril de 1976, comemoramos a Liberdade decorrente de vivermos numa “República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.” (Artigo 1º). Num mundo em que o fascismo, o extremismo e a prepotência avançam a passos largos é urgente lembrar e ensinar que a Liberdade e a Democracia nunca estão garantidas. 25 de Abril, sempre! Fascismo, nunca mais!”
Capicua, rapper: “O 25 de abril é um divisor de águas na história dos direitos das mulheres, em Portugal. Há um antes e um depois muito claro: antes dele as mulheres não podiam votar, não podiam trabalhar em tudo ou sair do país sem autorização do pai ou do marido, depois do 25 de abril, além desses direitos conquistados muitas outras evoluções se seguiram. Nomeadamente, a grande presença das mulheres nas universidades, no mercado de trabalho. Mas mesmo com as conquistas a nível da família, do casamento, da liberdade sexual, profissional, da escolarização, há muito trabalho a fazer. Por exemplo, somos a maioria das licenciadas, mas o gap salarial ainda é muito grande entre géneros, no topo das grandes empresas há pouca presença feminina. O 25 de Abril, apesar de ter sido uma grande revolução, ainda não resolveu tudo e há que continuar a lutar pela liberdade, pelos direitos e garantias das mulheres e fazer novos 25 de abril todos os dias:” [Gonçalo Villaverde / Global Imagens]
Cátia Curica, co-proprietária da Organii:"Acho que o 25 de abril foi essencial para a nossa abertura ao mundo e nós, especialmente nós no mundo ecológico, vivemos muito do exterior porque sentimos que Portugal ainda é um país muito conservador e que demora a aderir às tendências, enquanto que no norte da Europa e na Califórnia as pessoas aderem e têm vontade gigante de mudar e experimentar. E se não fosse o 25 de Abril nós nunca teríamos acesso na hora no momento a todas estas tendências e ideias. Toda esta comunidade sustentável e ligada no mundo inteiro, é algo que seria impensável sem o 25 de abril. Isto para nós é o ADN daquilo que conseguimos fazer." [DR]
Luísa Barbosa, locutora de rádio: “O 25 de Abril trouxe-me a possibilidade de não ser uma cidadã de segunda categoria. De não ter de escolher entre o amor e as minhas ambições profissionais e, acima de tudo, de não ter a minha liberdade a depender do entender de um homem que se quer meu companheiro. Até então, uma mulher não podia votar, não podia casar se exercesse certas profissões (como enfermeira ou hospedeira de bordo) e nem sequer podia sair do país sem a autorização do marido. Sim, o 25 de Abril é o Dia da Liberdade mas isso é ainda mais verdade para as mulheres. É importante não esquecer que há menos de 50 anos, em Portugal, um marido podia matar a mulher adúltera, tendo como pena o ‘desterro da comarca’ por seis meses. A lei mudou em 1975 mas 2019 tem mostrado que as mentalidades demoram mais do que 50 anos a mudar. A boa notícia é que a Revolução dos Cravos nos devolveu as vozes para podermos gritar ‘Basta!’ e lutar pela verdadeira igualdade de género.” [DR]
Rita Braga da Cruz, advogada: Quando se deu o 25 de Abril ainda não tinha completado 2 anos. Mas tenho consciência de que a Revolução mudou o curso da minha vida. Enquanto mulher, sem Abril, teria tido direitos, que agora temos por adquiridos, restringidos. Enquanto jurista, profissões que me eram vedadas. Enquanto pessoa, não teria podido exprimir-me, pensar ou agir livremente. Mas o que o 25 de Abril trouxe realmente de revolucionário foi esta possibilidade de continuar a fazer a Revolução todos os dias. Nem tudo está conquistado para as mulheres. É preciso lutar pela eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres, pela não discriminação no acesso ao emprego ou a determinados cargos, pela igualdade na divisão das tarefas domésticas. A melhor homenagem que podemos fazer diariamente ao 25 de Abril é continuar a fazer a Revolução todos os dias, a conquistar direitos e liberdades e a garantir que todos/as são tratados/as em conformidade com os valores conquistados; e de forma pacífica, como o 25 de Abril se fez e como historicamente se caracterizam as revoluções feitas pelas mulheres. [DR]
Benedita Pereira, atriz: "O 25 de Abril infelizmente ainda não nos trouxe a igualdade de género mas trouxe-nos a liberdade de lutarmos por ela. E assim o farei até que a voz me doa, e os dedos não consigam mais escrever, porque nada mais me fará parar." [Gustavo Bom / Global Imagens]
Núria Madruga, atriz: "Nos dias de hoje parece difícil acreditar que houve um "antes do 25 de Abril”. Saber que as mulheres não tinham liberdade de escolha profissional e muitas vezes pessoal é quase impensável. Muito se conquistou, mas espero que num futuro próximo as desigualdades que ainda existem sejam completamente superadas.” [DR]
Rita Camarneiro, apresentadora: "Já cresci no pós-25 de Abril, ao contrário da minha mãe. Nos seus apontamentos de escola encontro bordados feitos com rigor, normas claras de como cuidar do lar e dos outros, de como se deve estar enquanto mulher, calada e limpa. Graças a ela, ao meu pai que esteve na guerra forçadamente, aos nossos avós que passaram fome e trabalharam de sol a sol, a todos os que lutaram, é a eles que devo o meu pão e a minha liberdade. Graças ao 25 de Abril pude escolher o que queria ser e tive uma educação igual à dos meninos. O amor é mais livre e solto. Mas ainda conseguimos fazer melhor. Cabe a nós e a cada geração vindoura não esquecer as lutas do passado e continuar a trabalhar para um mundo onde independentemente da condição económica, etnia, género, orientação sexual ou outra qualquer 'diferença', não determine as oportunidades que temos. Um mundo onde a igualdade seja plena e total." [DR]
Elisabete Brasil, UMAR: "O 25 de Abril tem o significado da liberdade e essa liberdade foi e é para homens e mulheres. No que aos direitos das mulheres respeita, a grande revolução, com o 25 de abril, foi a da alteração do estatuto jurídico das mulheres. Abril potenciou um quadro legal, mas também fáctico, o qual possibilita uma luta, ainda que contínua e hoje ainda necessária por direitos e tratamento igual. De construção de uma sociedade onde seja possível, para mulheres e homens, viverem em igualdade, o que significa ir além da igualdade formal já prevista, significa operar a igualdade material. O 25 de Abril tornou ainda possível o sonho feminista: o de que homens e mulheres sejam e vivam em igualdade e que se almeje um dia conquistar a sua ideia mais radical,a de que as mulheres também são pessoas." [Filipa Bernardo/Global Imagem]
No dia em que se celebram os 45 anos da Revolução dos Cravos, perguntámos a 45 personalidades femininas portuguesas, dos mais diversos quadrantes, o que o 25 de Abril lhes trouxe enquanto mulheres, cidadãs e pessoas, individualmente consideradas.
Direitos como “o voto universal para as mulheres conseguido nas primeiras eleições pós 25 de abril” – o mesmo direito tinha sido conseguido pelos homens em 1945 – ou “a abolição da permissão legal de morte da mulher ou filha até aos 21 anos de idade, por parte respetivamente do marido e/ou pai, nos denominados ‘crimes de honra'” foram algumas das conquistas, como lembra Elisabete Brasil, da UMAR.
Mas houve outras que não foram imediatas, porém possíveis com a mudança: o acesso à educação, à liberdade sexual, à saúde reprodutiva e ao planeamento, ao mercado de trabalho, sua perspetiva mais vasta, a liberdade de sair do país e viajar, sem autorizações prévias, o divórcio (por mútuo consentimento e civil para os casados pela Igreja), a participação política, a liberdade de expressão, e, claro, a igualdade e não discriminação, consagradas na Constituição de 1976, estão entre os direitos conquistados e assinalados por estas 45 mulheres, que partilham também as suas memórias e sua história pessoal associadas a esta data – difíceis de resumir em poucas palavras.
Às lembranças de algumas, que viveram de perto ou à distância a revolução, que mudaram de país e se mudaram a si por causa dela, soma-se o legado de conquista de direitos reconhecidos por todas, incluindo pelas das gerações que já nasceram ou cresceram em liberdade. Políticas, atrizes, cantoras, escritoras, arquitetas, chefs, empresárias, jornalistas, ativistas, médicas e desportistas partilham tudo isso. Leia os depoimentos na galeria, acima.