Os filhos são o reflexo dos pais. No que diz respeito à política, isso pode ser preocupante

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[Fotografia: Pexels/Cottonbro Studio]

De características faciais a intelectuais, as crianças são o reflexo dos pais de várias maneiras. Agora, uma nova pesquisa relata que os adolescentes também adquirem hábitos de votação e perspetivas políticas dos pais. Cientistas da Florida Atlantic University explicam que a apatia política entre os pais previu aumentos na apatia política entre certas crianças.

Viver em democracia significa, em teoria, o povo ser dirigido pelo povo, mas muitos cidadãos que vivem em países democráticos sentem que a sua opinião não está a ser ouvida ou, dito de outra forma, que os votos não estão a fazer diferença. O resultado final é a apatia política, também conhecida como alienação política – sentimentos de impotência política, separação, descontentamento e uma indiferença geral em relação aos partidos e instituições políticas.

Um dos comportamentos mais comuns entre os politicamente alienados é uma recusa categórica em votar ou participar de atividades políticas. Infelizmente, jovens adultos e adolescentes parecem particularmente suscetíveis à apatia política. Os eleitores mais jovens têm as taxas de participação eleitoral mais baixas em vários países da Europa e da América do Norte.

Embora essa tendência seja complexa e influenciada por vários fatores diferentes, os autores do estudo optaram por se concentrar num dos mais preponderantes: as atitudes dos pais em relação à política.

Os pesquisadores constataram que o descontentamento político passa de pais para filhos. Mais especificamente, a alienação política dos pais previu aumentos na alienação política de filhos adolescentes, pelo menos naqueles que descreveram as relações com os pais como sendo calorosas. É importante ressalvar, no entanto, que o mesmo não ocorreu entre os adolescentes que descreveram as relações com os pais como sendo distantes.

Assim, os autores do estudo dizem que em lares nos quais os pais e os adolescentes estão próximos, os pais transmitem apatia política aos filhos adolescentes. Essa tendência pode estar a contribuir fortemente para a baixa participação política dos eleitores jovens.

Para conduzir esta pesquisa, os autores do estudo avaliaram 571 adolescentes alemães (314 meninas, 257 meninos), bem como os seus pais (mãe e pai). Cada família completou questionários nos quais descrevia a alienação política em dois pontos, com aproximadamente um ano de diferença. As crianças explicaram, num outro questionário, qual a relação com os pais. No início do estudo, os adolescentes estavam no sexto, oitavo e décimo ano.

Mães e pais não diferiram quanto à importância em moldar as atitudes dos filhos adolescentes em relação à política. Enquanto os pais moldam as perceções dos filhos sobre a política, o mesmo já não acontece ao contrário.

Estas descobertas são importantes, explica a equipa de pesquisa, porque destacam uma nova via potencialmente promissora para aumentar a participação política entre os jovens eleitores: visar as atitudes políticas daqueles com quem eles são próximos – os pais.

“Crianças próximas aos pais têm maior probabilidade de se identificar com eles e são mais recetivas às mensagens deles sobre política. Ouvimos aqueles de quem gostamos, dialogamos com eles, identificamo-nos com eles e imitamos os seus comportamentos”, nota Brett Laursen, professor de psicologia da Faculdade de Ciências Charles E. Schmidt da FAU.

A insatisfação política pode ser um sério desafio para qualquer democracia, uma vez que os cidadãos politicamente alienados tendem a não votar. Consequentemente, quando as eleições são decididas por uma pequena parcela do eleitorado, o descontentamento cresce, reduzindo ainda mais a futura participação eleitoral em um ciclo vicioso.

“Gostamos de pensar nos pais como agentes de socialização positivos, e normalmente eles são. Mas maus hábitos e más atitudes também podem passar de pais para filhos, e os pais devem estar atentos a essa possibilidade”, conclui Laursen.