Pílula, ansiedade e medo podem estar mais ligados do que pensa. Estudo do cérebro aponta efeitos

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[Fotografia: Pexels/Anna Shvets]

É um ponto de partida e os investigadores pedem cautelas com as generalizações. Uma vez feitas estas ressalvas, uma equipa de pesquisa da Universidade canadiana do Quebec vem indicar que a toma de contraceção oral combinada (COC), progestagénio e estrogénio, pode estar relacionada com a espessura mais fina do córtex pré-frontal ventromedial, uma região do cérebro onde se processa o medo e a ansiedade e ligada a processos emocionais e sociais.

No nosso estudo, mostramos que as mulheres saudáveis que atualmente utilizam COC tinham um córtex pré-frontal ventromedial mais fino do que os homens”. A frase é da investigadora da Universidade do Québec à Montréal e primeira autora do estudo publicado no início deste mês, na Frontiers in Endocrinology (que pode ser consultado no original aqui). Para Alexandra Brouillard, “acredita-se que esta parte do córtex pré-frontal sustenta a regulação emocional, como a diminuição dos sinais de medo no contexto de uma situação segura. Pelos nossos resultados, tal pode representar um mecanismo pelo qual os COC podem prejudicar a regulação emocional nas mulheres”.

Para chegar a estas conclusões, os investigadores reuniram uma amostra de mulheres que usavam contraceção oral, uma outra com as que já usaram, mas não o fazem atualmente e as que nunca tomaram qualquer contraceção hormonal. O estudo também contou com um grupo de estudo composto por homens. De fora da análise ficaram indivíduos que tivessem problemas psiquiátricos, neuroendócrinos e claustrofobia.

A comparação dos resultados de todos estes grupos procurou, para lá da diferença entre sexos, verificar a existência ou não de alterações morfológicas atuais ou de longo prazo.À medida que relatamos uma espessura cortical reduzida do córtex pré-frontal ventromedial em utilizadoras de COC em comparação com os homens, o nosso resultado sugere que os COC podem conferir um fator de risco para déficits de regulação emocional durante o uso atual”, acrescentou a investigadora principal citada em comunicado. Para Brouillard, é importante vincar que não se pretende contrariar o uso de contraceção, mas, mais importante, abrir espaço para mais estudos de como a pílula pode afetar o cérebro, sobretudo quando o início da toma é feito ainda na juventude, quando se está diante de um período sensível do desenvolvimento neurológico. Os novos estudos pretendem agora caminhar nesta linha de investigação – que ainda permanece muito na penumbra -, mas introduzir o fator etário para perceber ao detalhe os efeitos e as suas eventuais reversibilidades.

Estima-se que 150 milhões de mulheres em todo o mundo usem contracetivos orais. Por cá, em Portugal, um estudo com orientação científica da Sociedade Portuguesa de Contraceção e revelado em 2021 revelou que a pílula é o método contracetivo mais usado pelas mulheres, com estimativas a rondar os 70%. Ou seja, crê-se que sete em cada dez mulheres em idade fértil que tomam anticoncecionais, elas elegem a solução oral.