Plissados que até iam ao ‘forno do pão’. 13 razões para evocar Issey Miyake

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[Fotografia: Patrick KOVARIK / AFP]

De origem nipónica, natural e sobrevivente de Hirsohima, Issey Miyake trouxe para a moda de Paris e do mundo o célebre e muito trabalhado origami japonês e pô-lo ao dispor de coleções pronto-a-vestir e não só, e para profunda pesquisa.

Miyake, que morreu a 5 de agosto aos 84 anos, fez, refez, voltou a criar, dando aos tecidos e aos corpos femininos e masculinos novos movimentos e texturas e que, até ali, nos anos 70 e 80 do século passado, ainda pareciam presos à fórmula e à ideia convencionais de beleza.

Miyake celebrizou os plissados, aplicando a técnica já depois de as peças estarem cortadas e costuradas. Uma aposta inovadora que mereceu um nome único – pleats please – e um lugar de destaque na história da moda.

Issay Miyake morreu estilista criador japonês
[Fotografia: EPA/JIJI PRESS]
Uma ideia que nunca parou de fervilhar e de ser reinventada. Em 2016, o designer propôs levar as múltiplas pequenas pregas da roupa a assar no forno. Backed Strectch (alongamento assado, em tradução literal) consistia, então, em fazer pregas na roupa a partir de um pano impresso com cola especial que ia depois ao forno a cozer como se de um pão ou uma pizza se tratasse. Com a temperatura, a cola expandia, transformando os moldes das pregas, dando-lhes texturas únicas e até algo imprevisíveis.

Agora e na hora da sua morte, sonhe com algumas das últimas peças que saíram do génio do estilista e do seu atliê, e encontre também, se for esse o caso, fórmulas mais acessíveis de homenagear o criador, que faleceu no recato e discrição da família.

 

Vestido cut-out detailing panelled, Issey Myake, na Farfetch, 1899€

Calças wide-leg plissadas , Issey Miyake, na Farfetch, antes 2000€ agora 1881€

Vestido midi ripples pleated, Issey Miyake, na Farfetch, 1909€

Xaile plissado, Roberto Verino, no El Corte Inglès, antes 160€ agora 144€

Vestido comprido plissado, na Massmo Dutti, 65,95€

Vestido assimétrico plissado, na Mango, antes 45.99€ agora 35.99€

Vestido plissado com alça e corrente, na Zara, antes 49.95€ agora 12.99€

Vestido midi plissado, na Zara, 35.99€

Vestido de manga curta com saia plissada, Polo Ralp Lauren, no El Corte Inglès, antes 395€ agora 197.5€

Vestido de cavas decote em V Plissado, La Redoute, antes 75.99€ agora 41.79€

Top plissado decote em bico Studio, na Massimo Dutti, 99.95€

Calças plissadas Sfera, no El Corte Inglès, antes 35.99€ agora 15.99€

Cafetã plissado oversize, na Mango, antes 29.99€ agora 15.99€

Miyake é também reconhecido pela assimilação de golas altas e pelo uso de padrões geométricos, numa combinação de influências orientais e ocidentais, que estiveram na base de coleções como “East” e “West” (“Oriente” e “Ocidente”), que o afirmaram, durante os anos de 1970, e que resumiu no primeiro catálogo dedicado à sua obra, “East Meets West”, de 1978.

O costureiro japonês abriu perspetivas com linhas como “Plantation”, de 1981, adaptável a qualquer pessoa, independentemente do género, idade ou tamanho, “A-POC” (“A Piece Of Cloth”), lançada em 1998, com desenhos concebidos para uma única peça de tecido, e com experiências sobre pregas e plissados de muito pequena dimensão, na base da linha “Pleats Please”, de 1993, uma das mais célebres de Miyake, que se mantém no mercado.
Lançou igualmente a linha de perfumes “L’eau d’Issey”.

As suas criações foram expostas em museus como o MoMA – Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, o Museu de Artes e Ofícios de Paris, onde permanece representado, assim como no Victoria & Albert, em Londres, e no Museu do Design e da Moda (MUDE), em Lisboa, além do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, entre muitas outras instituições.
Miyake também criou figurinos para dança, trabalhando de perto com coreógrafos e companhias como a de Alvin Ailey, William Forsythe e o Ballet de Frankfurt.

Em 1999, entregou o controlo da marca ‘Issey Miyake’ aos associados, mas continuou ativo noutros projetos, incluindo o envolvimento, em 2007, na abertura do primeiro museu japonês dedicado exclusivamente ao design, 21_21 Design Sight (num edifício projetado propositadamente pelo arquiteto Tadao Ando), em Tóquio, que dirigiu.

Em 2009, revelou a sua história como ‘hibakusha’, sobrevivente do ataque atómico a Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, inspirado, como afirmou, por um discurso sobre desarmamento nuclear proferido pelo então Presidente norte-americano Barack Obama.

O costureiro contou a sua história, da qual nunca tinha falado em público, ao jornal The New York Times, num artigo onde explicou que “não queria ser rotulado como um ‘designer’ sobrevivente da bomba atómica”.

Nos últimos anos, dedicou-se ao trabalho com novas gerações de criadores, no seu estúdio de Tóquio, e continuou envolvido no desenvolvimento de novos materiais como os obtidos a partir de garrafas plásticas ‘PET’ recicladas.
Criou ainda a Fundação Miyake Issey, dedicada à investigação sobre a história do ‘design’ e da moda.

Miyake realizou o seu último desfile, fora do Japão, em Paris, no passado dia 23 de junho. Foi reconhecido com prémios como o de Arte e Filosofia de Quioto (2006), a Ordem Japonesa da Cultura (2010), o Compasso d’Oro de Itália (2014), e a Legião de Honra Francesa (2016).
Segundo o seu estúdio, Issey Miyake padecia de cancro do fígado e, à data da morte, 05 de agosto – um dia antes do 77.º aniversário do ataque a Hiroshima -, encontrava-se internado num hospital de Tóquio.

Com Lusa