Protestos pela ativista brasileira Marielle Franco levam centenas às ruas

Cerca de meio milhar de pessoas em Lisboa e 300 no Porto levantaram a voz contra a morte da ativista brasileira Marielle Franco e sobre a violência crescente a que se assiste no Brasil. Na galeria acima reveja algumas das imagens das concentrações decorridas no fim da tarde de segunda-feira, 19 de março.

“Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar!“, “Fora Temer!”, “Golpistas, fascistas – não passarão!”, “Racistas, machistas – não passarão!” e “Importam vidas pretas!” foram algumas das palavras de ordem repetidas na Praça Luís de Camões, em Lisboa, pela multidão concentrada junto à estátua de Camões, onde o Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa, um dos movimentos na dianteira do protesto, afixou um enorme retrato desenhado de Marielle Franco.

No Porto, frente ao Consulado do Brasil, as acusações também ficaram bem claras: “Marielle foi morta numa execução“, lembrou Sama, artista plástico brasileiro radicado em Portugal e para quem a política brasileira foi a “primeira vítima assumida do golpe de estado que destituiu Dilma [Roussef] da presidência do Brasil”.

Destacando que em Marielle “é possível encontrar várias lutas numa pessoa só”, o artista plástico lembrou que ela “nasceu pobre e que por causa das políticas de integração venceu na vida, formou-se em Sociologia e em Ciência Política, sem nunca esquecer as suas origens”.

Da parte da União de Mulheres Alternativa e Resposta, a presidente Maria José Magalhães referiu-se à homenageada como sendo uma “mulher negra, feminista, lésbica, uma lutadora dos movimentos sociais, um ícone do movimento feminista que foi executada“. “Estamos aqui para expressar a nossa indignação, para exigir ao governo do Brasil uma investigação, que condene os culpados e que pare com os assassinatos”, acrescentou.

Recorde-se que, a 14 de março, Marielle, de 38 anos, foi morta à saída de uma favela do Rio, com quatro tiros na cabeça, com balas da Polícia Militar, cujos excessos ela diariamente denunciava desde que o Presidente, Michel Temer, ordenou, há cerca de um mês, uma intervenção do Exército, que tem matado muitos civis, por serem das favelas, negros e pobres, fazendo a população sair à rua em protestos no país.

Políticos condenam morte de “mulher, negra, favelada e lésbica”

Trata-se do “assassinato brutal de uma voz incómoda que trouxe para a agenda política do Brasil assuntos que geralmente ficam de fora”, declarou à Lusa a secretária de Estado para a Cidadania. Rosa Lopes Monteiro explicou que estava presente não só como governante, mas “como cidadã e como mulher política” para se solidarizar com o povo brasileiro perante o silenciamento “de uma ativista, uma mulher política”. “Temos de continuar no ativismo, a defender e a promover os direitos humanos das mulheres lésbicas, das mulheres negras, das vozes que geralmente são excluídas no combate contra o racismo, contra a lesbofobia”, sustentou.

Inquirida sobre a possibilidade de a vereadora ter sido silenciada no âmbito da intervenção militar em curso no Rio de Janeiro, ordenada pelo Presidente, Michel Temer, Rosa Monteiro respondeu ser necessário denunciar esse tipo de ação. “Nós temos realmente de sinalizar aquilo que de negativo se passa no Brasil, com estas intervenções violentas e atentatórias de princípios básicos dos Estados de direito democráticos, e portanto, a luta deve ser, nesse sentido, uma luta de todos os níveis de Governo também no Brasil”, sustentou a governante portuguesa.

Por sua vez, a deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua declarou estar presente “para lamentar a morte de uma mulher que foi executada com quatro tiros na cabeça numa favela do Brasil”, mas não só. “[Também] para dizer bem alto que sabemos porque é que ela morreu, e são as razões que levaram à sua morte que devem fazer-nos levantar para lutar: ela morreu porque era uma mulher, negra, favelada, lésbica – morreu por tudo isso, mas sobretudo por lutar pelos favelados, pelos negros, por lutar pelos direitos, pela democracia no Brasil”, sublinhou.

A deputada socialista Isabel Moreira disse que o que a levou a marcar presença no protesto foi “o feminismo, o amor à democracia e a certeza de que Marielle não pode ter morrido em vão”. “Marielle foi executada, profissionalmente executada, por ser favelada, por se ter atrevido a vir da periferia para os estudos para ter uma voz, por ser negra, lésbica, defensora das minorias, defensora dos direitos humanos, denunciadora da intervenção militar, das mortes incontáveis que ela todos os dias denunciava – e por isso é um símbolo, é um símbolo inteiro que foi executado”, sustentou.

Imagem de destaque: Lusa

As lutas que levaram Marielle Franco à morte