“Confirmo ter sido convidada para coordenar um grupo que será responsável pelo acolhimento e acompanhamento das vítimas de abusos sexuais no seio da Igreja Católica em Portugal”, refere o comunicado tornado público pela psicóloga forense Rute Agulhas esta quinta-feira, 13 de abril, ao final da tarde.
Na mesma nota, a especialista indica que “a equipa ainda está em fase de constituição e o projeto será analisada na Assembleia Plenária da CEP, que se realiza na próxima semana”. A constituição do organismo que substituirá a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa é uma decisão esperada da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que começa segunda-feira, em Fátima.
Em 3 de março, os bispos portugueses, após uma reunião destinada a analisar o relatório da Comissão Independente, anunciaram a disponibilidade para criar “um grupo específico, que será articulado com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, que é liderada pelo antigo procurador-geral da República José Souto Moura.
O jornal Observador avançou esta quinta-feira, 13 de abril, que a psicóloga Rute Agulhas, que integra a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa, será o nome indicado pela presidência da CEP para ser votado pelo episcopado para a liderança do novo organismo.
A Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.
Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente alguns padres.
A Assembleia Plenária do episcopado, que vai decorrer entre segunda-feira e quinta-feira, em Fátima, ficará ainda marcada pelas eleições para os órgãos da CEP para o próximo triénio.
Nos últimos dias têm surgido algumas notícias que dão conta de que o atual presidente da CEP, José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, ainda não terá decidido se está disponível para ser candidato a novo mandato. O desgaste provocado por três anos de mandato marcados pela pandemia de covid-19 e pela situação de abuso sexual na Igreja, estará na base da eventual não recandidatura de José Ornelas.
Caso não seja eleito para novo mandato, ficará, no entanto, como tendo sido sob a sua presidência que a CEP se decidiu pela criação da Comissão Independente que, ao longo de um ano, recolheu os testemunhos de alegadas vítimas de abuso no seio da Igreja, no que foi encarado como passo decisivo para o encarar de frente do problema.
Entretanto, na quinta-feira, pelas 11:00, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, os bispos celebram a eucaristia, no contexto da jornada nacional de oração pelas vítimas de “abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”.
Este momento de pedido de perdão público às vítimas fora já anunciado pela CEP, em 03 de março.
Também a preparação da Jornada Mundial da Juventude, agendada para o início de agosto em Lisboa, com a presença do Papa, estará em cima da mesa de trabalhos dos bispos católicos portugueses na próxima semana, em Fátima, bem como algumas nomeações para os diversos secretariados e comissões episcopais.