Primeiro a Burberry, agora Tom Ford. As duas casas de moda de anunciam o fim do sistema de longos ciclos de moda. Se as coleções eram até aqui apresentadas com quatro a seis meses de antecedência – na verdade é o que acontece ainda hoje, quando estamos em fevereiro a assistir às semanas de moda de outono/inverno de 2016 – para o futuro apresenta-se o conceito “veja-agora-compre-agora”.
Tom Ford cancelou a apresentação à imprensa que faria em Nova Iorque na próxima semana e, no comunicado de imprensa que chegou às redações, o criador afirmou:
“Num mundo que se tornou cada vez mais imediato, a forma de mostrar uma coleção quatro meses antes dela estar disponível para os clientes é uma ideia antiquada e já não faz sentido. Os nossos clientes de moda querem que uma coleção esteja imediatamente disponível… Vamos mostrar a coleção à medida que ela está a chegar às lojas e permitir que a excitação criada no desfile se traduza em vendas e em satisfação para os nossos clientes que desejam ter as suas roupas assim que elas estão prontas”.
Poderá estar Tom Ford, mais do que contra o sistema de moda, a tentar proteger as suas criações das imitações e das contrafações? É que quando o criador apresentou a sua primeira coleção para mulher numa passerelle tinha vontade de banir e imprensa e a internet do desfile – não queria que as imagens da coleção se espalhassem pelo mundo e pudessem ser imitadas. Agora, com esta possibilidade de “veja-agora-compre-agora” os imitadores (que são muitas vezes marcas de grande consumo e com grande capacidade produtiva) perdem a oportunidade de imitar e colocar à venda peças com design semelhante ao visto nos desfiles, por vezes ainda antes das peças dos criadores chegarem às suas lojas.
O futuro que se apresenta agora, e de que Burburry e Tom Ford são vanguarda, é simples: desfiles “veja-agora-compre-agora”, desfiles exclusivos para jornalistas, editores e compradores conhecidos, apresentações streaming em meios de comunicação on-line especializados e selecionados, lançamento de coleções para homem e mulher ao mesmo tempo.
É uma revolução que se anuncia: toda a indústria da moda vai mudar – os tempos de produção entre o atelier criativo e a fábrica, a expedição das peças para as lojas, a forma como as revistas trabalham os editoriais de moda, anunciam tendências… tudo vai mudar. Com a excitação dos clientes provocada pelo “veja-agora-compre-agora” é de esperar que o valor das peças originais aumente enquanto as marcas de grande consumo e os imitadores vão ter que contratar designers criativos e atentos para colocarem em loja artigos de acordo com as tendências, ou então vão ter que esperar um ano… e já ninguém vai querer comprar.