Rita Hayworth, a mulher fatal que sofreu sem ninguém perceber

Rita Hayworth, uma das musas da era de ouro de Hollywood, completaria, em 2018, 100 anos. Para celebrar o centenário do nascimento da atriz, conhecida pelos seus cabelos ruivos e pela sua beleza, a Cinemateca portuguesa dedica-lhe um ciclo de filmes, entre 3 e 14 de setembro. Serão recordados alguns dos seus mais emblemáticos papéis, em produções como ‘Gilda’ (dia 3), ‘Paraíso Infernal’ (dia 4), ‘Salomé’ (dia 5), a ‘Dama de Xangai’ (dia 7) e ‘Uma Loira com Açúcar’ (dia 14).

Rita Hayworth é considerada uma das atrizes de cinema mais bonitas e sensuais de sempre, mas, tal como nos dramas de Hollywood, a sua nem sempre correspondeu ao brilho da das personagens que interpretou.

Nascida em Nova Iorque, a 17 de outubro de 1918, a certa altura da sua vida, a própria atriz fez uma declaração que se tornou famosa e tornou clara essa distinção. “Os homens deitam-se com a Gilda mas acordam comigo”, disse, referindo-se à sua mais famosa personagem que dá nome ao filme de 1946, realizado por Charles Vidor.

Com ascendência espanhola e irlandesa, Rita Hayworth, cujo nome verdadeiro era Margarita Carmen Cansino, nasceu numa família de bailarinos. O avô paterno Antonio Cansino foi bailarino de flamenco (assim como o pai da atriz) e teve academias em Sevilha e Madrid. A dança acabou, inevitavelmente, por ditar o caminho que a jovem Margarita seguiria, ainda que contrariada. Frequentou aulas no Carnegie Hall e tornou-se uma bailarina de sucesso, ao lado de nomes como Gene Kelly e Fred Astaire. Ironicamente, foi a dança, da qual inicialmente não gostava, que aliada à representação a levou ao cinema, cumprindo o sonho que a sua mãe tinha para si.

Volga Hayworth queria que Margarita fosse atriz e foi o seu apelido de solteira que a filha usou para entrar em Hollywood, sob o nome de Rita Hayworth e com um processo de mudança de imagem, que a levou a submeter-se a uma dolorosa eletrólise para aumentar a testa e mudar a cor do cabelo castanho para o ruivo que a tornou conhecida. Transformou-se numa das mulheres mais desejadas da sétima arte e uma das suas maiores estrelas.

Apesar de rodeada de atenções, sobretudo masculinas, Rita não conseguiu alcançar a felicidade e os seus cinco casamentos terminaram em divórcio

Apesar de rodeada de atenções, sobretudo masculinas, Rita Hayworth não conseguiu alcançar a felicidade nos seus relacionamentos e os seus casamentos terminaram sempre em divórcio. Foi casada cinco vezes, a segunda das quais com Orson Welles, de quem teve uma filha, Rebecca Welles. Depois de se separar do realizador, casou com o príncipe Aly Khan, em 1949, tornando-se a primeira atriz de Hollywood – e não Grace Kelly -, a conquistar o título de princesa. Desse casamento, Rita Hayworth teve uma filha, a princesa Yasmin Aga Khan, que dirige a fundação Alzheimer’s Disease International.

Foi na casa dessa filha, a cujos cuidados foi entregue, que a atriz viria a morrer, em maio de 1987, vítima, precisamente, de Alzheimer. A doença só lhe foi diagnosticada em 1981, mas Rita Hayworth já sofria dessa patologia desde a década de 1960. O desconhecimento da doença fez com que durante vários anos o seu comportamento errático fosse atribuído apenas ao consumo excessivo de álcool. “A melhor explicação que conseguiram arranjar foi [dizer] que ela sofria de demência alcoólica. Ela gostava de beber, mas não bebia assim tanto e hoje acho que o álcool a ajudava a lidar com o facto de saber que estava a perder a memória, e, dessa forma, a sua carreira”, afirma a filha Yasmin Aga Khan, num testemunho que escreveu para o site da Alzheimer’s Organization, sobre o processo de doença da mãe.

Se fosse agora, a princesa não tem dúvidas de que mãe seria diagnosticada mais cedo, uma vez que tinha 50 anos quando os sinais da doença se começaram a manifestar. “Mas estávamos nos anos 70 e não sabíamos o que sabemos agora”, lamenta Yasmin Aga Khan, que criou, há mais de 30 anos, a Rita Hayworth Gala, um evento de angariação de fundos para combater o Alzheimer. Através dele já foram angariados 69 milhões de dólares.

A vida da atriz foi, de facto, mais penosa que a fama que os mais de 60 filmes em que participou poderiam fazer supor. Mas a imagem que perdura na memória coletiva está longe de ser a de uma mulher fragilizada. Rita Hayworth será sempre lembrada como a ruiva flamejante que marcou as décadas de ouro de Hollywood e do cinema, e ainda hoje o seu nome é uma referência cultural. Julia Roberts citou-a em Notting Hill (1999), David Lynch prestou-lhe homenagem em Mullholland Drive (2001) e Madonna no tema Vogue.

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