Publicidade Continue a leitura a seguir

Segundos amores, e terceiros e quartos e quintos…

Super na berra, a marca Secla, portuguesa, é hoje em dia uma daquelas coisas que ainda sobe de valor seguramente. €35 no mercado às quartas no Jardim Visconde da Luz, em Cascais.
Espelho em estrela, recuperado e restaurado pelo decorador Miguel da Cunha.
Escalfeta, na imperdível Cavalo de Pau, a São Bento.
Travão de porta em ferro fundido, na Cavalo de Pau.
Taças de champanhe em vidro irisado (tendência 2016), €10 cada, negociáveis, no mercado às quartas no Jardim Visconde da Luz, em Cascais.
Prato de doce em louça da Fábrica de Alcântara, €25 no mercado às quartas no Jardim Visconde da Luz, em Cascais.
Cadeirão, cadeiras e banqueta em madeira dura pintada com assentos e espaldar em palhinha originais, €80, €50 e €40, na Remar.
Moldura com aproximadamente 70x70cm. É daqueles casos em que o boneco vai para o lixo (ou não!), e a moldura fica pronta a receber o que se quiser. Numa parede branca até pode receber nada.
Anel de fantasia, €5 no mercado às quartas no Jardim Visconde da Luz, em Cascais.
Abatjour com franja e remates dourados, €15 na Feira da Ladra, terças e sábados.
Mala de viagem em couro e candeeiro de mesa em ferro pintado, €25 e €10 na Feira da Ladra, terças e sábados.
Serviço de chá completo para 6, americano, €25 na Feira da Ladra, terças e sábados.
Candeeiros, anos sessenta/setenta, en sac e de cana entretecida, a partir de €20 na Feira da Ladra, terças e sábados.
Candeeiros de mesa com bases de diferentes épocas e globos de cor “à escolha”, a partir de €10 na Feira da Ladra, terças e sábados.
Cafeteira cor de cobre degradê, para 1 litro, €10 na Feira da Ladra, terças e sábados.

Publicidade Continue a leitura a seguir

Coisa confrangedora na decoração é o ar de um espaço estilo andar-modelo: há muita gente que gasta uma pipa na compra de casa e depois despacha a decoração com catálogo e revista de modas. A diferença entre um andar-modelo e uma casa é que aquele está aberto das 9 às 5 e não vive lá ninguém.

A decoração para ser eficaz tem que se assumir como para um usador, alguém, com história, vida e boa tralha acumulada. Alguém com objetos ou mobiliário que se trouxeram da extravagância que foi ir a Bali, que se encontraram no lixo, na Sé, no regresso a casa de uma noitada de copos ou a cadeirinha de lareira em que a avó mexia a sopa no caldeirão de ferro.

A tal ponto que mesmo as lojas ‘da moda’ – aquelas que há em todos os centros comerciais mas em que as coisas boas custam mais de 2 dígitos – têm regularmente este tipo de oferta, mas de feitura contemporânea e impessoal. Neste caso, tem mesmo de se ir à caça da coisa certa e legítima. Para além da ‘patine’, procure uma marca reconhecida (isso nem sempre é sinónimo de caro), ou com um contexto curioso, como se fazia no século XIX com os Gabinetes de Curiosidades para despoletar conversas e encontros de gostos.

E não diga ah-o-meu-estilo-é-moderno-para-que-quero-eu-isto? Todas as boas revistas de decoração têm casas acabadas de decorar onde não se cheira de longe o ‘moderno’. Já não há moderno, moderno é antiquado, foleiro e como dizem tão bem os brasileiros, cafona.

Mas mesmo um espaço asséptico, daqueles só superfícies-superfícies, onde nos perguntamos onde-raio-guardam-eles-as-galochas, tem a ganhar com uma peça fora do seu contexto; afinal, o que é um cadeirão do Eames senão uma velharia upa upa e com muita pinta?

A contrário da antiguidade, a velharia pode ser usada tanto e quanto se usava antes; não se brinca com o cadeirão D. José de 2 mil euros, mas pode-se usar o xaile bordado já meio traçado que se comprou na Feira da Ladra por €15. De qualquer forma, é ajuizado tratar bem e dar alguma manutenção preventiva às suas velharias; nunca se sabe, podem subir de valor com o tempo e com as modas, por vezes muito. Afinal, uma antiguidade não será mais que uma velharia mais antiga, estimada e elevada a Arte?

Os melhores sítios por onde se começar – e quase que seguramente grátis – são as casas de familiares. Comece pelos elementos mais idosos e quanto antes – há-de haver já uma prima sua também a ler isto. Depois ataque os tios ( e destes os que tenham viajado ou vivido lá fora, confie, sei do que estou a falar).

Depois lojas da especialidade, são poucas já, aproveite antes que fechem todas; ao contrário da febre vintage ou dos clássicos antiquários, muitas lojas de velharias não aguentaram o abanão da crise e fecharam. E claro, os mercados de rua e feiras, e esses sim, são muitos e cada vez mais, e por todo o lado. Consulte o site da sua câmara municipal, a grande maioria tem uma listagem atualizada de feiras ou eventos.

Agora, porque é delas ser amiga, um brevíssimo manual de arranque, com conselhos, para ir já este sábado caçar na Feira da Ladra:

– Mobiliário e madeiras: sinta o peso da peça. Se for leve para o tamanho, esqueça. Pinho e outras congéneres são baratas porque menos duráveis que outras de melhor qualidade. Uma peça leve, para além de mais frágil, é mais propensa a ser atacada por bichos e térmitas; uma peça mais pesada, mais densa, custa-lhes mais a roer e o bichedo evita.

Procure furos, mais ou menos concentrados. Aquela mesa pode ter afinal já outros donos que vivem lá dentro. Das duas uma: negoceie bem por baixo do que lhe pedem, e leve-a para fumigar. É caro, por isso fale com o dono e veja se é possível, sem custos adicionais, a peça ser levada para uma câmara de expurgo. Como estas câmaras comportam várias peças ao mesmo tempo, só compensa o seu uso quando se conseguem encher, coisa fácil e normal para o vendedor.

Vidros e porcelanas: apoie a peça nas pontas dos dedos de uma mão e com a outra desfira-lhe um pling!. Se a peça ‘cantar’, se tiver um som continuado e feliz, compre-a. Se o som for curto e roufenho, esqueça, está algures danificada; ou então compre-a usando este argumento para pechinchar.

Têxteis: procure buracos. Se existirem a peça foi atacada por traças, que podem ainda lá morar e comer-lhe o Gucci, se a levar para casa. Se mesmo assim quiser arriscar, existem no mercado produtos que podem travar o processo, ou forrar de novo, no caso do mobiliário. Existem nas coleções contemporâneas tecidos que replicam estes têxteis, seja ‘histórico’ seja vintage. Afinal ainda é tendência forte. Mas perde-se qualquer coisa naquela cadeira, tanto em valor como em atitude.