Será Vivienne Westwood a única mulher capaz de salvar o mundo?

Vivienne Westwood regressou às passerelles da Semana de Moda de Londres depois de uma ausência de duas temporadas. O regresso era um dos mais aguardados e a espera provou ser compensatória. Uma vez mais, Westwood tirou partido do espaço público para transmitir uma mensagem à sua audiência e para chamar a atenção para problemas como o capitalismo e as alterações climáticas. A desfilar a sua coleção, intitulada “Homo Loqax”, estiveram nomes como a atriz e ativista Rose McGowan e John Sauvaven, diretor executivo da Green Peace no Reino Unido.

O passado punk e a evolução de Vivienne

A história de Vivienne começa em 1971, data em que começou a criar as primeiras peças, desenhadas por Malcolm McLaren, o seu companheiro da altura. O sucesso surgiu como consequência da banda punk Sex Pistols, da qual McLaren era manager, utilizarem criações desenhadas pelo casal. Nessa altura, Westwood e McLaren abriram uma loja e desenvolveram peças inspiradas neste estilo, incluindo uma série de t-shirts com mensagens provocatórias.

Dez anos depois, em 1981, o casal fez o seu primeiro desfile no qual apresentou uma coleção inspirada em Piratas. Até 1984, as coleções variaram entre a inspiração histórica e o punk. A partir desta data, Vivienne passou a criar sozinha, e a suas inspirações assumiram diferentes estilos, incluindo o estilo colegial das classes mais altas.

A utilização da moda como forma de protesto esteve sempre presente, tendo-se intensificado nos últimos anos. São exemplos disso as coleções de primavera/verão 2013 e 2014, em protesto contra as alterações climáticas, assim como a t-shirt com que surgiu no final no desfile de outono/inverno 2013/2014, em que pode ler-se a frase “sou o Julien Assange”. Ainda para a temporada mais quente, mas desta vez para 2016, Vivienne colocou os modelos a desfilar com cartazes contra a austeridade.

Os exemplos multiplicam-se – na verdade, em quase todos os desfiles da criadora britânica há uma mensagem de protesto. A diferença é apenas a forma como ela escolhe fazê-lo: ora com cartazes, ora com caracterizações, ora com uma peça com uma mensagem direta e forte.

Moda: uma forma de arte ao serviço do protesto

A moda, enquanto forma de arte, vai muito além da criação de roupa. É uma forma de identidade, um cartão-de-visita individual que todos veem. Mas pode ser também uma forma de transmitir ideias ou pensamentos. No caso de designers como Vivienne, é uma maneira de chamarem a atenção para causas nas quais acreditam. E se, por um lado, esta conceção não é uma novidade, por outro o desejo de se fazer ouvir (ou ver, no caso) intensifica-se a cada coleção.

O primeiro exemplo a que assistimos em 2019 foi na Semana de Moda de Alta-Costura, com a coleção Fashion Statements de Viktor & Rolf. Numa linha de protesto diferente, esteve Jeremy Scott na Semana de Moda de Nova Iorque, com uma coleção contra o sensacionalismo dos media. Agora, foi a vez da veterana Vivienne Westwood.

A manifestação de Westwood

Westwood transformou o seu desfile na Semana da Moda de Londres numa manifestação contra o sistema financeiro, as alterações climáticas e contra o consumismo desenfreado em que imergimos. Talvez possa parecer estranho uma designer incutir esta ideia, mas Vivienne sempre defendeu que se deveria comprar menos roupa mas apostar em peças com maior qualidade. Foi esta mesma ideia que transmitiu no início do desfile através do diálogo dos modelos, com afirmações como “gosto tanto desta camisola que a vou usar para ir trabalhar todos os dias” ou “comprei este casaco o ano passado, é um clássico”.

E já que falamos em modelos, além de Rose McGowan e John Sauven, a criadora britânica incluiu outras personalidades, como a sua antiga musa e modelo Sara Stockbridge, e membros do seu movimento, Intellectuals Unite.

O baralho de cartas que salvará o mundo

Segundo um vídeo partilhado no seu site, e parte integrante daquele movimento, Vivienne diz ser a única pessoa capaz de salvar o mundo, já que todos sabemos a solução mas ninguém parece disposto a aplicá-la. No mesmo vídeo, explica que transformou essa possível solução num baralho de cartas, em que as cartas principais são quatro Jokers.

Cada Joker traduz um conceito: o de paus corresponde à guerra, ouros a dinheiro, espadas aos que deterioram o planeta e, por fim, copas corresponde em simultâneo à necessidade de nos salvarmos a nós próprios e à cultura. Esta última associação prende-se com a visão de Vivienne de que a cultura é a salvação, e que se tivéssemos mais cultura ao invés de consumismo o mundo seria um local melhor.

Este conceito é, em parte, transposto para a coleção, que apresenta em algumas peças o desenho das cartas com os Jokers.

Fotografia: Instagram Eletrikhman

 

A nova coleção é uma mistura eclética entre peças clássicas, como os sobretudos com padrão axadrezado, e desportivas, como as sweaters. Nesta passerelle de Westwood desfilaram modelos masculinos com saias e vestidos, homens e mulheres com coroas feitas em cartolina, sacos com mensagens e cartazes. Alguns modelos surgiram também com a cara parcial ou totalmente pintada com dourado, azul, vermelho ou verde. Além destas cores, um dos seus modelos surgiu caracterizado como se fosse o Pinóquio, com a cara a fazer lembrar madeira e um enorme nariz.

A Semana da Moda de Londres termina amanhã com o desfile de novos talentos e de marcas como a Shrimps, entre outros nomes.

Veja na galeria acima imagens dos melhores looks da apresentação de Vivienne Westwood.

[Imagem de destaque: REUTERS/Henry Nicholls]

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