Muito longe dos amores, das traições, das dúvidas e das certezas que estes formatos televisivos sempre espelham, o que preocupa os investigadores são as impressões que a narrativa imprime junto do público em matéria de recuperação face à doença. É demasiado rápida e, nesse sentido, cria esperanças enganosas em matéria de tratamentos e convalescença.
As conclusões partem de um estudo da revista ‘online’ Trauma Surgery& & Acute Care Open e vem explicar que as séries televisivas sobre hospitais, como Anatomia de Grey, podem criar falsas expectativas nos doentes que recebem tratamentos traumatológicos, s
A investigação desenvolvida por especialistas do Saint Joseph’s Hospital and Medical Center de Phoenix, no Estado norte-ameriacno do Arizona, argumenta que, em algumas ocasiões, os guiões televisivos podem gerar visões “pouco realistas”, nomeadamente sobre a rapidez da recuperação dos doentes com ferimentos graves provocados por acidentes.
As expectativas irreais sobre a saúde podem ter grande importância nos processos de avaliação do nível de satisfação do paciente pelos cuidados que lhe são ministrados, pois a sua opinião influi nos controlos de qualidade e na relação entre o salário e o rendimento dos profissionais clínicos, como acontece nos Estados Unidos, segundo os autores do estudo (que pode ser consultado no original aqui).
Na galeria acima, recorde alguns momentos mais recentes dos bastidores da série que conta a história dos especialistas do Seattle Grace Hospital e centrada na personagem desenvolvida pela atriz Ellen Pompeo.
Soluções “pouco realistas” criam ideias erradas
Muitos desses programas e série televisivos afirmam que fazem um esforço para oferecer tramas narrativas tão autênticas quanto o possível, mas limitações de tempo do formato e a necessidade de manter o telespetador atento, levam os argumentistas a apresentar soluções “pouco realistas”.
Par avaliar o impacto, os investigadores compararam casos de 290 pacientes fictícios em 299 episódios das primeiras doze temporadas da série norte-americana Anatomia de Grey [em Portugal é exibido na Fox Life, mas também já tem sido transmitido em sinal aberto pela RTP] com os 4.812 pacientes reais com lesões traumáticas, obtidos do Banco Nacional de Dados sobre o Trauma, de 2012, dos Estados Unidos.
Taxas de mortalidade e de cirurgia na ficção são superiores às reais
Os especialistas verificaram que a taxa de mortalidade era três vezes mais alta na série televisiva do que na vida real, cerca de 22% face a 07%, respetivamente. Todavia, verificaram que a maioria dos pacientes de Anatomia de Grey, 71%, que chegou aos serviços de urgência foram imediatamente conduzidos para a sala de operações, quando na vida real, apenas 25% se submete a uma cirurgia.
Entre os que sobreviveram a um acidente grave, na série televisiva, apenas 6% foi levado para uma unidade de cuidados intensivos a longo prazo, face a 22% dos pacientes da base de dados norte-americana, que recebe este tipo de tratamento, segundo noticia a Efe.
CB com Lusa
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