Há um curso universário sobre o sentido da vida, e esgota há dez anos. Saiba detalhes

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[Fotografia: Pexels/Juan Photo and Video]

Um curso sobre o sentido da vida criado há 10 anos na Universidade de Yale tem tido sempre mais candidatos do que vagas e já foi replicado em 30 outras instituições no mundo, contou à Lusa o diretor.

“É uma coisa rara termos cursos com excesso de inscritos em humanidades, porque os alunos são educados para escolher cursos de tecnologias, engenharias e matemáticas, (…) mas este curso tem excesso de inscritos há uma década”, disse Matthew Croasmun, diretor do programa Life Worth Living.

Em entrevista à Lusa por telefone a propósito do lançamento do livro Uma Vida com Sentido, baseado no curso que dirige na Universidade de Yale, nos EUA, o professor contou que mais de 700 alunos já passaram pelo programa de 13 semanas, que equivale a uma cadeira semestral.

Criado em 2014 pelos outros dois autores do livro, Miroslav Volf e Ryan McAnnally-Linz, o curso pretendeu responder, por um lado, a um aumento dos problemas de saúde mental entre os estudantes do Ensino Superior nos EUA e, por outro a “uma espécie de falta de sentido”.

“Há uma espécie de falta de objetivos nos estudantes que, especialmente na nossa universidade, uma universidade de elite, têm todas as oportunidades no mundo e podem sentir-se muito capacitados e muito livres, mas não têm ideia de como escolher entre as diferentes opções”, relatou.

Desde então, a procura pelo curso tem vindo a aumentar entre os estudantes em Yale, mas também por parte de outras universidades nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Europa e até em Hong Kong ou na Malásia.

“É um movimento crescente entre faculdades e estudantes. Temos uma rede de faculdades afiliadas com mais de 30 instituições“, disse Croasmun.

Embora com formatos diferentes consoante os contextos, o curso pretende ajudar os estudantes “a casar o melhor das suas energias intelectuais com as mais profundas questões existenciais”.

Segundo Croasmun, estudantes de todas as gerações enfrentaram questões existenciais como qual o sentido da vida e há milhares de anos de história humana de luta com estas questões.

“Se passares tempo a ouvir essas vozes, a refletir cuidadosamente e a pensar contigo próprio e com uma comunidade de pessoas que levantam essas mesmas questões, podes fazer um grande progresso, podes aprender a articular melhor essas questões e ter um maior senso de significado e propósito na vida”, defendeu.

Citando líderes espirituais como Jesus, Maomé ou Buda, mas também pensadores contemporâneos como Robin Walt Kimmerer, James Baldwin ou C.S.Lewis, os autores apresentam no seu livro, editado em Portugal pela Planeta, um guia com pontos de partida, roteiros e hábitos de reflexão que visam ajudar os leitores a compreender o que faz com que a vida valha verdadeiramente a pena.

Questionado sobre o efeito real do curso que serve de base para o livro, Croasmun disse que um estudo que comparou os alunos que fizeram o curso com um grupo de controlo mostrou que existe “uma diferença real: o sentido da vida dos estudantes aumenta nessas 13 semanas”.

Mesmo entre os alunos que fizeram o curso durante a pandemia, que iniciaram em janeiro de 2020 sem qualquer noção de que algo difícil se ia passar e acabaram mergulhados numa pandemia global, “o sentido da vida aumentou significativamente”.

Croasmun relatou ainda alguns exemplos concretos de alunos que escolheram carreiras com benefícios sociais por causa do curso, estudantes que redescobriram as tradições culturais ou religiosas dos avós e outros que relataram conseguir descrever melhor a sua visão da vida a pessoas que não partilham a mesma visão.

“Isto para nós é muito importante, especialmente neste país tão polarizado. Que os nossos alunos considerem ter ganho mais capacidade de articular os seus valores com pessoas muito diferentes de si, que consigam ouvir e discutir questões difíceis como religião com pessoas que não concordam com eles (…) são mudanças que consideramos muito, muito significativas”.