T-shirts do movimento #NãoéNormal espalham mensagens feministas

Em março, o humorista Diogo Faro recorreu ao Instagram para que os seguidores o ajudassem a fazer um vídeo. Na altura pediu a mulheres que tivessem sido assediadas para lhe enviarem mensagens a dizer ‘Eu’, para que pudesse compilá-las nesse vídeo. Em apenas uma hora, os Instagram Stories alcançaram 15 mil pessoas e, quatro dias depois, já somava mais de três mil mensagens e e-mails.

As milhares de histórias que recebeu fizeram com que Diogo Faro sentisse necessidade de agir, levando à criação do movimento #NãoéNormal. Cinco meses depois, já contam com mais de 25 mil seguidores e deram várias palestras em universidades lisboetas. Mais recentemente lançaram layouts com frases femininas que qualquer pessoa pode obter através de um download no site do movimento e estampar em t-shirts (percorra a galeria de imagens no topo do texto para ver as t-shirts).

“Serve também para desmistificar o bicho papão do feminismo, que não é mais que igualdade de género, para ver se isto começa a ficar um bocadinho mais justo e confortável para todos. Portanto vão ao site, estampem, passem a mensagem e usem-na com orgulho”, afirmou Diogo Faro.

não é normal

No que toca às palestras que têm feito nas universidades para dar a conhecer o projeto, Diogo Faro considera que a resposta do público, tanto nas redes sociais como ao vivo, tem sido boa e encorajadora.

Uma das coisas que temos sempre dito enquanto movimento é que nós não temos soluções mágicas e instantâneas, não temos respostas para tudo, nem somos especialistas no assunto. Mas somos pessoas com uma forte consciência cívica, sentido de comunidade e muito motivadas para fomentar a discussão em torno da importância do feminismo – e consequentemente do combate ao sexismo – e é isso que temos sentido que temos conseguido nestes primeiros meses”, explicou ao Delas.pt o humorista.

Como o sexismo é um problema a nível nacional, que transcende classes, idades e profissões, um dos próximos objetivos do movimento é estender estas palestras a outras instituições de ensino do país.

“O nosso objetivo, através de vários meios, será sempre chegar ao maior número de pessoas. Nesta altura estamos parados – apenas nas palestras – para nos reorganizarmos e aceitar novos pedidos já para o início do próximo ano letivo“, revelou o fundador do movimento #NãoéNormal.

Apesar de estarem essencialmente a trabalhar para as gerações mais novas, os responsáveis pelo movimento sentem que estão a conseguir que a mensagem se espalhe entre os mais velhos também.

“Claro que podemos – e creio que estamos – já a ajudar, de certa forma, ainda a nossa geração e até as mais velhas, mas o eixo da nossa ação a longo prazo é a educação. Portanto será sempre algo extremamente trabalhado agora para originar resultados sólidos nos próximos anos. É para aí que queremos levar este movimento, para uma igualdade de género que agora nos parece utópica mas que terá rapidamente de passar a ser tangível”, disse Diogo Faro.

“Partilhou com a audiência um episódio de assédio por parte de um professor”

Diogo Faro é o fundador do movimento #NãoéNormal, mas a iniciativa já conta com outras cinco pessoas, três delas mulheres. Entre elas está Madalena Belo, que trabalha numa agência de comunicação onde gere projetos digitais e carreiras de personalidades influentes. O sentido cívico e de justiça fez com que se quisesse juntar ao projeto.

“Sempre me debati muito sobre estes temas e desde que me lembro de existir que questiono muito algumas injustiças que se passam no mundo. Acho que estas características fazem parte da minha natureza, mas talvez o facto de ter crescido e vivido num ambiente muito machista tenha contribuído para que me tornasse tão incomodada e reativa com situações de desigualdade, intolerância ou violência. Aliado a isto, o facto de ser mulher e de me rever e identificar com os milhares de histórias que nos chegam”, explicou Madalena Belo.

Todas as histórias que ouve durante as palestras em que participa com o movimento #NãoéNormal tocam Madalena, mas há uma que a marcou especialmente.

Sinto-as todas como se se tivessem passado comigo ou com alguém que me é próximo, mas a primeira que me vem à cabeça é a de uma rapariga que, numa das faculdades onde fomos, partilhou com a audiência um episódio de assédio por parte de um professor e, no fim da palestra, sentiu força e coragem para denunciar o caso à professora que nos acompanhou na mesa redonda. Aí percebemos o impacto imediato que podemos ter ao falar abertamente sobre estes casos. Naquele momento sentimos a força positiva que podemos ser”, afirmou a cofundadora do movimento feminista.

Na opinião de Madalena, o projeto já conseguiu mudar alguns aspetos importantes nestes primeiros cinco meses de existência.

“Tenho a certeza, devido ao feedback que recebemos nas nossas redes sociais e de pessoas que se cruzam connosco na rua, que já conseguimos ajudar muita malta a ter coragem de fazer a coisa mais simples do mundo: falar. Só o facto de tanta gente ter ganhado coragem para falar sobre situações ou episódios sobre os quais nunca tinham falado a ninguém, é uma vitória. Ainda há muito caminho e nós queremos fazê-lo ao lado das pessoas e aprender com elas também. O movimento não existe para apontar o dedo a ninguém. Serve para que todos tomemos consciência de que há demasiadas situações que estão enraizadas na sociedade mas não são normais”, acrescentou Madalena Belo.

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Diogo Faro vai lançar movimento feminista #nãoénormal