Três impactos negativos de ficar numa relação conflituosa pelo bem-estar dos filhos

pexels-cottonbro-6603351
[Fotografia: Pexels/Cottonbro]

Fim de um projeto de vida em comum, de um sonho ou de uma construção, mergulhar na decisão de uma separação ou divórcio é um processo árduo que implica confrontos com o outro, mas também consigo própria.

Se há filhos em comum, então ainda mais a decisão se torna pesada. Afinal, pretende-se o melhor para eles, mesmo sabendo que o projeto a dois ruiu. Não é por isso raro ouvir casais a adiar a separação, mesmo mediante uma relação conflituosa, infeliz ou mesmo em total rutura, sob o argumento de que é “melhor para o bem-estar dos filhos”. Mas será mesmo assim?

Uma opção desta natureza pode, como afirma a professora da Universidade do Iowa, nos Estados Unidos da América, e investigadora na área das relações interpessoais e comunicação familiar, Sylvia Mikucki-Enyart, “ter consequências a longo prazo, e muitas vezes negativas, que repercutem muito além da infância”.

Entre elas, a especialista – que estudou os impactos das relações conflituosas e separações de pais junto de filhos já adultos – enumera três consequências nefastas.

A primeira delas tem que ver com as alianças que os pais, sem se aperceberem, obrigam os filhos a fazerem. “Os progenitores muitas vezes não fazem um bom trabalho em esconder o desprezo que sentem pelo cônjuge quando estão mergulhados num casamento infeliz. Além disso, muitas vezes olham para os filhos como aliados, envolvendo-os em conflitos e criando uma aliança com eles, uma dinâmica ‘nós contra o outro progenitor”, refere Mikucki-Enyart no texto publicado na revista Psychology Today. Ora, defende a professora que tal leva a que “os filhos se sintam ‘presos’ entre os dois”, promovendo uma permanente sensação de traição e levando ao afastamento físico de ambos”. “Os investigadores descobriram que as crianças em famílias/casamentos altamente conflituosos e que se mantêm sentem-se muitas vezes apanhados neste meio”, refere a especialista.

Por outro lado, a professora associada alerta para uma parentalização das crianças, “fazendo com que os filhos assumam muitas vezes os papéis de adultos”, antes de tempo, claro. “Ora, devem por isso ser evitadas informações desadequadas, discussões, conversas entre ambos e, claro, o desprezo”. “Não é de surpreender que a parentalização emocional tenha efeitos negativos e duradouros nas crianças, incluindo falta de equilíbrio emocional, relacionamentos difíceis com colegas, dissociação e depressão”, alerta Sylvia Mikucki-Enyart.

Por fim, no terceiro eixo, o exemplo que é dado a um menor daquilo que devem ser os relacionamentos para o futuro. “Quando os pais permanecem num casamento infeliz ‘pelos filhos’, é criado de forma inadvertida um modelo de como são as relações e o amor, preparando os filhos para o fracasso, incluindo a permanência em relacionamentos infelizes porque ‘é assim que as coisas acontecem”.

Modelos que arriscam uma repercussão mais tardia porque as crianças que crescem nestes ambientes “não dispõem” dos mesmos mecanismos de “resolução de conflitos e de comunicação deficiente”, levando a “impactos duradouros e a influenciar a capacidade das crianças de desenvolverem e, sobretudo, de manterem relações saudáveis e satisfatórias com parceiros românticos e amigos”, conclui a investigadora e professora norte-americana.