Casos como o de Betty “tinham mais impacto nas queixas há uns anos”, diz APAV

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[Fotografia: Daniel Rodrigues / Global Imagens]

Não temos notado variações no volume de queixas e denúncias de violência doméstica desde que o caso de violência doméstica de José Castelo Branco sobre a mulher, Betty Grafstein, foi revelado”, conta à Delas.pt o psicólogo clínico e assessor técnico da direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), Daniel Cotrim. E justifica: “Este tipo de casos tinham mais impacto nas queixas há uns anos. Hoje em dia não tem tanto porque há mais informação, as pessoas têm mais ferramentas ao seu dispor sobre o tema e há mais discussão e debate público em torno da violência doméstica.”

E se era esperado que casos como este pudesssem abrir portas e dar voz a quem sofre deste crime, a verdade é que os números mantém-se a evoluir a uma dimensão dentro do que tem sido a prática e a experiência dos últimos anos e registada por uma das principais entidades em Portugal a estar na linha da frente da receção de denúncia. “É verdade que tem havido um aumento de denúncias por este tipo de crime, mas ele sobe nas camadas mais jovens e tem tendência de decréscimo nas mais velhas. Não quer dizer que não existam, grande parte são casos que são revelados antes dessas idades mais avançadas”, detalha Cotrim.

Contudo, é claro para o responsável da APAV que a suspeita de violência doméstica de José Castelo Branco sobre Betty Grafstein vem trazer para a sociedade uma discussão emergente: a dos cuidadores e o silêncio de quem é cuidado.

“No caso da violência doméstica com cuidadores, ela acontece mais em situações filio-parentais do que na conjugalidade”, antecipa a psicólogo clínico que pede para que se olhe para a necessidade de os “cuidadores formais e informais começarem a ser tratados como profissionais” porque “quem cuida precisa de supervisão, mas também de ajuda”, alerta o responsável da APAV. É preciso, propõe Cotrim, dar formação a quem cuida – cada vez mais informalmente – para “terem capacidade de entender os comportamentos da pessoa idosa que é cuidada e ou algum tipo de patologia que tenham”. E conclui: “por outro lado, é muito importante falar da chamada fadiga do cuidador, que pode também levar a situações de risco.”

José Castelo Branco com pulseira eletrónica

Detido por suspeita de agressões físicas à mulher, Betty Grafstein, de 95 anos, José Castelo Branco, de 61, ficou a conhecer ao fim da tarde de quarta-feira, 9 de maio, as medidas de coação a que vai ficar sujeito por suspeita de violência doméstica.

O socialite saiu em liberdade, mas passará a estar sujeito a vigilância eletrónica e impedido de se aproximar da mulher, Betty Grafstein, a menos e um quilómetro, o que se aplica ao hospital onde Betty está internada, mas também a casa, para onde a designer de joalharia irá uma vez que tenha alta. Ora, uma situação que, como aponta o Jornal de Notícias, coloca o socialite numa situação de sem-abrigo, uma vez que a habitação que ocupava é da mulher.

Esta quinta-feira de manhã, 9 de maio, José Castelo Branco foi entrevistado por Cristina Ferreira e Cláudio Ramos, no Dois às 10, e foi confrontado com um áudio onde Betty Grafstein surgia, a partir do hospital CUF Cascais, a acusar o marido, José Castelo Branco, de violência doméstica. “Porque ele é um abutre… e fez isto. Ele empurrou-me e abanou-me, empurrou-me para a frente e para trás e fez uma grande cena”, afirmou a designer de joias.

O marchand d’art confirmou em direto tratar-se da voz de Betty, mas afirmou tratar-se de “manipulação”. Já na noite anterior, em entrevista ao canal CNN Portugal, José Castelo Branco garantia tratar-se de uma “verdadeira cabala, muito bem armada”, mas não avançou nomes por considerar não ser o momento.