Violência doméstica. APAV recebeu mais cinco denúncias por dia face a 2021

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[Fotografia: Pexels/Rodae Production]

No ano passado, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) reporta ter recebido 21 mil 588 pedidos de ajuda de violência doméstica. Dados que constam das estatísticas anuais publicadas esta quarta-feira, 5 de abril, pela entidade e nas quais fica claro que, após calculo de médias, tal equivale a quase 60 contactos por dia.

Contas feitas, trata-se de um aumento de mais 1742 denúncias face a 2021, o que representa quase cinco pedidos a mais por dia feitos ao abrigo do crime configurado no artigo 152 do Código Penal, e que abarca maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais. Em 2019 deram entrada nos serviços 23 586 pedidos

Os crimes sexuais contra adultos também evidenciam uma subida de quase ¼ em apenas um ano: 396 casos em 2022 face a 294 em 2021. O bullying duplicou em igual período: se no ano passado deram entrada nos serviços da APAV 117 denúncias, em 2021 foram registadas 67 queixas.

Segundo os dados avançados pela entidade, a APAV refere que apoiou perto de 15 mil vítimas diretas de crimes, com os crimes contra as pessoas, como a violência doméstica ou os crimes sexuais, a representarem 94% dos crimes registados. No total, diz ter feito 83.322 atendimentos, mais 25,5% do que em 2021, apoiando diretamente 16.824 pessoas.

Em 2022, a “APAV atendeu, por semana, uma média de 157 mulheres adultas, 50 crianças e jovens, 30 homens adultos e 29 pessoas idosas. Entre todos os crimes e outras situações de violência registadas pelos vários Serviços de Proximidade”, refere a nota enviada às redações.

Ainda na mesma nota fica claro que “depois da violência doméstica, os crimes sexuais contra crianças e jovens foram os mais reportados, com 611 casos de conteúdo de abuso sexual de menores e 390 casos de abuso sexual de crianças, entre outros. A média de idades das crianças e jovens apoiadas pela APAV em 2022 é de 10 anos e 60% destas vítimas menores eram do sexo feminino”.

245 sofreram vitimação continuada entre 31 e 50 anos

 

Do universo de 14.688 vítimas diretas de crime, quase metade, ou seja, 7.203 pessoas (49,1%), foi alvo de crime continuado, sendo que a sua principal duração se situou entre os dois e os três anos (15,6%).

Houve também 18 pessoas que foram vítimas de crimes durante 50 anos, além de outras 245 que sofreram vitimação entre 31 e 50 anos, 265 entre 21 e 30 anos ou 666 entre 12 e 20 anos.

Segundo a APAV, “as relações entre autor e vítima são comummente pautadas por relações de intimidade”, sendo que em 14,5% dos casos vítima e agressor são casados. No entanto, a intimidade afere-se também com casos entre companheiros, ex-cônjuges ou namorados.

“Em 2022, as relações de intimidade que chegaram ao conhecimento da APAV totalizaram, no seu conjunto, 41% (6.077) das relações estabelecidas entre autor/a do crime ou de outras formas de violência e vítima”, lê-se no relatório.

A associação refere igualmente que as relações familiares de consanguinidade têm um peso significativo, dando como exemplo os casos em que a vítima é filho do autor do crime (9,3%) ou progenitor do agressor (5,7%).

“Enfoque especial nas agressões perpetradas pelo/a pai/mãe que, de 2019 (804; 6,8%) para 2022 (1.381; 9,3%), aumentaram aproximadamente 71,8%”, refere a APAV.

Por outro lado, a associação destaca que as agressões entre colegas de escola ou de trabalho “têm vindo a aumentar”, apontando que se em 2020 representavam 1% dos casos, em 2022 subiram para os 2%.

“Desta forma, de 2020 a 2022, as agressões perpetradas por colegas de escola/trabalho que chegaram ao conhecimento da APAV aumentaram 134%”, destaca a organização.

com Lusa