Vítima de bullying: “Se me tratam assim é porque eu não faço falta”

Na galeria de imagens acima pode encontrar os momentos de bullying mais marcantes vividos por vítimas com quem falámos. E prepare-se, segue a história de uma delas.

Por Marta Marques

Há cinco anos que Joana (nome fictício) sofre de bullying por parte dos colegas da escola. Vítima de violência psicológica e física, já foi comparada a um personagem de filme de terror e sofreu na pele algumas agressões. Atualmente, com 15 anos, a jovem, que continua a viver um pesadelo, revelou ao Delas.pt tudo aquilo por que tem passado.

Durante uma década conseguiu não ser gozada pelos amigos, mas a partir do 6º ano de escolaridade as coisas mudaram. Amigos? Bem: “Eu pensava que eram meus amigos, mas depois descobri que gozavam comigo porque me achavam diferente”, relembra.

Esta é uma realidade comum a muitos jovens. De acordo com um estudo divulgado pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), metade dos alunos com idades entre os 13 e os 15 anos, em todo o mundo, passa por situações de violência na escola ou nas imediações do estabelecimento de ensino. A mesma pesquisa confirma que Portugal é o 15.º país com mais queixas de bullying na Europa. Hoje, no Dia Mundial do Combate ao Bullying, deixamos-lhe o testemunho de Joana.

O que é o bullying?

“É quando as pessoas gozam connosco, quando nos ridicularizam por simplesmente não sermos iguais a elas ou por termos uma qualidade pelo qual nos destacamos”. Estas foram as palavras de Joana para definir aquilo que a faz sofrer de há cinco anos para cá.

Trocou de escola três vezes. Frequentou duas instituições privadas e duas públicas. Chegou a ter pensamentos suicidas e os pais foram os únicos a tomar atitudes. O bullying por parte dos colegas continua a ser uma constante na escola, mas já lá vamos. Comecemos pelo início do pesadelo.

“Eles diziam que eu era igual Àquela rapariga do filme do exorcista. tudo por causa do meu cabelo”

Desde os três anos que Joana estava inscrita no Colégio Helen Keller, uma instituição privada onde estudou até ao 5º ano. Esta é a altura que marca a momento em que a jovem se começa a sentir deslocada do grupo de amigos: “Eles diziam que eu era igual aquela rapariga do filme do ‘Exorcista’, e tudo por causa do meu cabelo. Comecei a sentir-me diferente”.

Os insultos e agressões eram diários e a jovem chegou mesmo a ter medo de ir à escola. Sabia que não podia confiar em ninguém: “Eram mais os rapazes que gozavam comigo do que raparigas. Sentia-me mesmo muito mal. Nunca me meti com ninguém e eles metiam-se todos comigo”.

Mas não se tratava apenas de palavras que a podiam magoar. Além da violência verbal, Joana garante que também foi vítima de violência física: “Chegaram a dar-me pontapés e a puxar-me os cabelos”.

“Eu já não via a minha filha sorrir como antes”, recorda a mãe

Para os pais a situação foi e continua a ser dramática. Têm outra filha e nunca passaram por nada igual: “Tenho uma relação muito aberta com a minha filha e para mim foi muito difícil saber que a Joana era vítima de bullying” – contou-nos a mãe da jovem, Carla (nome fictício).

A proximidade entre as duas levou Joana a contar à mãe o que acontecia na escola. Mas mesmo antes do desabafo, já Carla sentia que algo não estava a correr como devia: “Uma mãe tem sempre boas recordações dos sorrisos alegres de um filho, e eu já não via a minha filha sorrir como antes. Tornou-se uma pessoa fechada e nada a fazia largar uma gargalhada”- recorda Carla.

Sem nenhuma intervenção por parte da instituição, os pais tomaram uma atitude. Viram-se obrigados a trocar a filha de escola: “Voltámos a optar por outro colégio privado, mas mais tarde percebemos que era ainda pior do que as escolas públicas”.

“Criaram uma página de Instagram falsa com fotografias minhas”, descreve JOANA

A nova instituição chamava-se Sagrado Coração de Maria e foi onde tudo piorou: “Cheguei a ter pensamentos suicidas”, revelou a jovem. Continuou a ser gozada, insultada e humilhada, sobretudo por pessoas que considerava amigas, mas houve um momento que a marca até hoje: “Juntaram-se todos e criaram uma página de Instagram falsa com o meu nome e publicaram fotografias minhas e da rapariga do filme ‘Exorcista’. Nas descrições diziam que éramos muito parecidas”.

Carla e o marido ficaram de rastos. Tratava-se de Cyberbullying – bullying através da Internet. Exigiram que a escola descobrisse o responsável por tal maldade e foi um informático do colégio que chegou ao telemóvel a partir do qual tinham criado a falsa página. Carla não quis acreditar: “Era uma das melhores amigas da minha filha. Eu só me perguntei ‘porquê?’. Ainda hoje não consigo olhar para a cara dela”.

Quanto a Joana: “Senti-me mal e aliviada ao mesmo tempo. Aliviada, porque me tinha livrado de uma falsa amizade, e mal porque mais uma vez ia ficar sozinha“.

Algum tempo depois, ser comparada a uma personagem de um filme de terror deixou de ser o único problema de Joana. Começaram também a colocá-la num patamar inferior, chamando classes sociais ao barulho: “Vestia-me de maneira diferente e eles assumiam que os meus pais tinham menos posses. Atacavam-me com isso e a minha aparência continuou a ser motivo de gozo”.

Coube aos pais, novamente, arranjar uma solução ao problema: “As escolas não agem”. Pela segunda vez trocaram a filha de escola, mas agora para uma pública. Foi na Escola Básica Gil Vicente onde tudo parecia estar, finalmente, a entrar nos eixos: “O ambiente era muito melhor do que no colégio e cada pessoa tinha a sua maneira de ser”.

“Lembro-me de um rapaz passar por mim e chamar-me put* fina”

E quando tudo parecia estar melhor, Joana teve que mudar de instituição. Desta vez, não por questões de bullying, mas por mudança de residência. Foi na Escola Básica de Bucelas onde conheceu o rapaz a quem chama, hoje, namorado e há apenas um episódio que recorda com tristeza: “Lembro-me de, no primeiro dia de aulas, um rapaz passar por mim e chamar-me put* fina“. A jovem garante que não o conhecia de lado nenhum e que, nesse momento, teve uma recaída. No entanto, com o passar do tempo foi-se integrando.

Este ano letivo, com a passagem para o ensino Secundário, mudou-se de novo, e apesar do novo sítio, Joana conta que ainda continua a sofrer de bullying, em situações menos agressivas, é verdade, mas ainda se sente uma vítima: “às vezes passam por mim, olham e riem-se”.

Passaram-se anos, as mudanças foram muitas e ficaram as mazelas. Atualmente, a jovem está num psicólogo e a descobrir as suas verdadeiras qualidades. “No futuro, os bullies vão receber aquilo que deram“, acredita Joana.

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