Dior para millenials na Semana da Moda de Paris

 

Dior, Christian Dior. Só o nome já evoca toda a solenidade do luxo e da moda nos seus cânones mais perfeitos. Mas não foi assim nesta semana da Moda de Paris. Numa sala com colunas cobertas por espelhos partidos, e uma atmosfera repleta de luz, a apresentação da coleção alegre e positiva da criativa à frente da marca, Maria Grazia Chiuri, trouxe sapatos rasos, transparências, camadas e sobrecamadas de roupa leve, apontamentos de cor inesperados e frases escondidas.

O objetivo, óbvio? Tudo ao estilo e ao gosto dos millenials, a geração a quem todos os designers querem agradar, já que são eles os novos consumidores e influenciadores. Na primeira fila, Charlotte le Bon, atriz, apresentadora e modelo nas horas vagas, de 31 anos, Jasmine Sanders, modelo de 26 anos e 2,6 milhões de seguidores no Instagram, o mesmo número de Winnie Harlow de 23 anos que também lá estava, na na primeira fileira. Hoje, muito mudou, e a roupa da Dior é desenhada com os olhos postos nas redes sociais, no street style.

Os arquivos da marca ainda lá estão, com a designer, italiana, arecorrer a eles antes de cada coleção para ir buscar alguns elementos criativos. Para a próxima primavera verão, Chiuri resgatou do passado as fotografias da artista Niki de Saint Phalle tiradas em 1960 por Marc Bohan.

Na coleção esta descoberta é denunciada pelas formas ondulares e coloridas, que aparecem em alguns estampados, bordados e aplicações, claras referências ao trabalho da artista franco-americana que faleceu em 2002. Sinais mais subtis destas fotografias aparecem nos fatos de calças largas com blazers assertoado e com bolsos, ao estilo de roupa utilizado por Saint Phalle nos retratos.

Da linguagem que Maria Grazia Chiuri quer definir para a casa Christian Dior permaneceram os bustiers, a saias rodadas leves e o estilo garçonne. E, claro, os ideais feministas que também foram perfilhados pela geração mais nova e se tornaram a narrativa da marca, e também não se perderam nesta coleção.

Surgiram mais disfarçados, camuflados nas riscas de uma t-shirt (a primeira a aparecer na passerelle) através da frase Why Have There Been No Great Women Artists?” (“Por que não houve grandes artistas de mulheres?”), uma pergunta que revela a segregação das mulheres no mundo das artes e que é respondida pela tese da historiadora de arte Linda Nochlin, que foi distribuída pela sala.

Mais uma vez Maria Grazia Chiuri provou que a moda fala muito mais do que de roupa e que a geração que irá dominar o mundo nos próximos dez anos sabe isso melhor do que ninguém.

Margarida Brito Paes

@margaridabritopaes

@delas.pt