A minha barriga de 4 meses e a da Carolina Deslandes

A minha segunda filha tinha nascido há 4 meses quando, num centro de estética, me perguntaram se ainda me podia virar de barriga para baixo para fazer o tratamento. Não percebi porquê e a esteticista insistiu: “não tem medo que faça mal ao bebé?“. “Qual bebé?,” pensei eu. “A bebé está em casa, ah! espera, ela acha que eu estou grávida, caraças, estarei assim tão gorda?”

Carla Macedo, editora executiva do Delas.pt

Desabei a rir e disse-lhe que a bebé estava em casa, que já não estava grávida, que não fazia mal nenhum à bebé virar-me de barriga para baixo. Ela olhou para mim com uns olhos de medo como se estivesse a ter uma epifania demoníaca, imaginando que eu era uma gorda descuidada… Não dei muita importância, mas histórias como esta foram-se sucedendo.

A minha filha mais nova está quase a fazer seis anos. Volta e meia, alguém olha amorosamente para a minha barriga e pergunta se estou grávida… Não estou, amores. Mas a minha barriga teimosamente não baixa, apesar dos abdominais hipopressivos que já fiz – e que melhoraram muito o funcionamento interno do meu corpo – e de por estes dias andar a treinar que nem uma maluca do fitness. A minha barriga não baixa. PONTO.

Cada uma de nós tem um corpo que reage de forma diferente às mesmas circunstâncias e substâncias, que fica com marcas específicas das coisas que viveu e que, na maioria dos casos, não volta ao que era antes da gravidez. E isso não precisa de ser um problema para ninguém. Para mim esse não é um problema, mas tenho outros.

Na altura em que soube que estava grávida, comecei a ter o mesmo problema que a cantora Carolina Deslandes tem: ao expor o que sentia levava em troca umas quantas traulitadas na cabeça. Se eu me cansava a andar, aparecia alguém prontamente a dizer-me que quando estava grávida tinha corrido a maratona; se eu dizia que não tinha sido bafejada pelo sentimento do estado de graça, alguém me dizia que nunca se tinha sentido tão feliz; se eu contava que tinha aumentado 30 quilos apesar de passar a gravidez a comer pêssegos, alguém me respondia que nem aos dez quilos tinha chegado… E eu pensava: “má mãe, eu sou má mãe”.

A seguir vieram as histórias do melhor parto do mundo, ou do mais complicado de todos, dos meses e meses de aleitamento materno, da primeira criança a andar, a falar mais cedo… a competição para a Melhor Mãe do Mundo era lixada, exigente, quase um combate de ninja, e eu não me sentia minimamente preparada para a enfrentar.

Com o tempo fui deixando de prestar atenção às outras e descobrindo que se calhar faço a mesma coisa. Uma amiga recente contou-me o nascimento terrível do seu primeiro filho e eu contei-lhe o nascimento-terrível-e-muito-pior-do-meu. Caí em mim, depois. Contei-lhe o que se tinha passado para que não se sentisse tão sozinha e acabei por dizer-lhe que sou melhor mãe do que ela, porque sofri ainda mais do que ela (a mente humana é uma coisa esquisita).

A mente das mães é uma coisa esquisita. Que chip é este que não conseguimos mudar? Dizemos demasiadas coisas sem pensar. Colocamo-nos demasiadas vezes no pedestal, comparamo-nos demasiadas vezes. Separamo-nos das outras ainda mais. Comparamos os filhos. Queremos ser reconhecidas como as melhores. Queremos ter os melhores filhos… Podemos parar com isto? Como é que paramos com isto?