O centro de investigação Fraunhofer Portugal AICOS, localizado no Porto, está a desenvolver uma tecnologia que permite detetar mais precocemente patologias como o cancro do colo do útero.
O rastreio precoce, dirigido, sobretudo, a “áreas com carências graves na assistência médica”, é feito através de funcionalidades existentes nos ‘smartphones’, para aquisição e processamento de imagem.
“Ao telemóvel é conectado um dispositivo de baixo custo que permite a aquisição da imagem com a resolução necessária. Posteriormente, as imagens são analisadas através de algoritmos de processamento de imagem e análise de dados de modo a identificar as estruturas e auxiliar os profissionais de saúde no pré-diagnóstico das respetivas doenças”, explicou a investigadora sénior do projeto, Maria Vasconcelos, à agência Lusa.
No caso do cancro do colo do útero, que, lembra a investigadora, é “a segunda causa de morte mais frequente na mulher nos países em vias de desenvolvimento”, o novo sistema utiliza o mesmo dispositivo de baixo custo para capturar imagens de citologia líquida, auxiliando no pré-diagnóstico da patologia.
Em Portugal, em 2015, oito em cada 10 mulheres tinham feiro rastreios regulares do cancro do colo do útero, mas 16,8% afirmava nunca ter feito uma citologia, revelou um estudo promovido pelo Programa Nacional de Doenças Oncológicas.
Segundo o relatório “Portugal – Doenças Oncológicas em Números”, da Direção-Geral de Saúde, o número de mulheres que têm aderido ao rastreio do cancro do colo do útero tem diminuído, apesar de aumentarem os convites para que realizem este exame.
O secretário de Estado da Saúde lembrou em março deste ano que os rastreios de base populacional em relação ao cancro do colo do útero e da mama existem em todas as regiões, à exceção de Lisboa e Vale do Tejo, área onde se deverão iniciar durante o decorrer de 2016. Fernando Araújo considerou, por isso, que uma das razões para aquela diminuição seria uma menor disponibilidade da parte das utentes de se deslocarem aos centros de saúde. O secretário de Estado disse esperar que esse dado possa ajudar as autoridades a refletir e encontrar as causas para esta quebra de adesão.
A deteção deste tipo de doença é feita, normalmente, através de imagens citológicas resultantes de exames realizados com aparelhos especializados, “de elevado custo e não móveis”, como é o caso do teste ao vírus do papiloma humano (HPV) e do Papanicolau.
A tecnologia do centro de investigação portuense é idêntica à que serviu de base ao projeto MalariaScope – uma solução capaz de pré-diagnosticar a malária -,que está agora a ser aplicada a doenças que afetam “significativamente” a mortalidade em países subdesenvolvidos.
Entretanto, foi anunciado, em junho, que o novo Plano Nacional de Vacinação vai incluir a vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV), com uma eficácia superior a 90% contra o cancro do colo do útero, vai ser administrada às raparigas mais cedo, aos 10 anos.
“Usávamos uma vacina quadrivalente que cobria cerca de 75% do cancro do colo do útero. Entretanto, foi possível adicionar à vacina mais cinco antigénios”, disse na altura à Lusa a coordenadora do Plano, Graça Freitas. Esta medida permite aumentar em 20% a cobertura contra o cancro do colo do útero, mantendo-se na mesma em relação às lesões benignas que “estão em franco desaparecimento”.
Além de cancro do colo do útero, a tecnologia desenvolvida pelo centro Fraunhofer Portugal AICOS permite também detetar mais cedo patologias como a doenças de chagas e do sono, nos países em desenvolvimento.
Os trabalhos para adaptar a tecnologia aos rastreios foram desenvolvidos, no centro, por estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, durante o ano letivo 2015/2016, com a colaboração do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e do Hospital Fernando Fonseca.
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