Aline Fernandes, a professora de yoga que está em Portugal a quebrar mitos

Modelo desde os 16 anos, Aline Fernandes, encontrou no yoga a forma perfeita de manter os seus valores e, consequentemente, o equilíbrio mental e físico. A par e passo com a carreira de modelo, foi apostando na formação de yoga e hoje é considerada desde 2010 uma das melhores professoras do mundo nesta área.

De visita a Portugal, para um workshop de yoga, o Delas.pt não perdeu a oportunidade de falar com Aline, de 37 anos, e aprender mais sobre esta prática. É que apesar de já ter estado por cá duas vezes, esta é a primeira vez que Aline vem a Portugal ensinar yoga e incentivar os portugueses a aderir a este estilo de vida. De 8 a 12 de agosto, em Cascais, será possível conhecer não só as várias técnicas do yoga, como toda a filosofia e os princípios defendidos.

Em conversa com o Delas.pt, Aline contou como o yoga se tornou um modo de vida, promovendo a consciencialização ambiental. Revelou ainda quais os benefícios físicos e mentais que esta prática pode ter na vida de todos – sobretudo das mulheres e das crianças – e deu a conhecer dicas importantes (e para alguns desconhecidas) para a boa prática do yoga – veja-as na galeria acima.

Aline está de volta a Portugal em setembro, dia 30, como cabeça de cartaz do Wanderlust Lisbon, o maior triatlo mindful do mundo.

Aline Fernandes, modelo brasileira e professora em yoga. [Fotografia: Gonçalo Villaverde / Global Imagens]

Esta é a primeira vez que Aline vem a Portugal para ensinar yoga. Quais as expectativas?

Gostaria que as pessoas viessem, especialmente ao Wanderlust Lisbon que vai ser um evento maior. Sejam pessoas mais ou menos desportistas, mais ou menos magrinhos, todos têm lugar. E o importante é que estejam recetivos a aprender, porque aprendemos mais quando estamos abertos às coisas novas. Quero e espero que tenham uma boa experiência! Em relação ao evento de Cascais, estou super feliz por vir ensinar em Portugal e também por ensinar pertinho do mar. Estou contente!

E como é que o yoga entrou na sua vida?

Eu nasci no Brasil, em Rio Grande, uma cidade pesqueira e simples, junto da praia. A minha vida era bem simples, completamente outdoor e tinha uma conexão forte com a natureza. Quando, aos 16 anos, comecei a trabalhar como modelo fui morar para Milão e Paris, o que me colocou fora do meu ambiente, longe da natureza. Além disso, trabalhar no meio da moda, onde a felicidade é temporária e consumimos para estarmos felizes, fazia com que estivesse rodeada de valores que não eram os meus valores. Sentia-me fora do eixo e fui à procura de uma prática que me deixasse centrada, que me fizesse sentir em casa. Foi quando fiquei atenta ao que havia na minha vida. Aí conheci um casal de amigos, de Nova Iorque, que me falaram dessa prática de Ashtanga Yoga. Disseram-me que era algo que podia praticar à hora que eu quisesse e onde quisesse, porque é uma prática com alguma autonomia. Então pensei: “é isso mesmo que eu quero”. Eu viajava muito e sempre fui super independente e para quem está sempre em movimento, só um tapete chega.

“O yoga vai ajudar a ter uma maior auto-aceitação, é uma prática de amor”

Desde então praticar yoga tornou-se um estilo de vida?

Sim, é uma filosofia de vida. Não é uma prática física, é uma forma de nos relacionarmos com a vida, com nós próprios e com a natureza. Existem diferentes métodos, uns que exigem mais força outros que exigem um relaxamento, mas para haver resultados é preciso haver consistência. A prática não acaba ali com o fim dos exercícios, a prática continua.

E que benefícios pode trazer para a saúde essa filosofia de vida?

Os benefícios são inúmeros. Postura, funcionamento dos órgãos, desintoxicação física, respiração… porque a maneira como se respira é a maneira como vemos e sentimos tudo. Mas cada pessoa tem uma necessidade. Se o problema for coluna, vai ajudar; se o problema for prisão de ventre, as torções vão ajudar. Começamos a sentir mais, a intuição fica mais sensível e muito mais elevada. E ajuda qualquer pessoa a ter confiança, força e clareza mental, porque favorece a tomada de decisões – decisões para o bem de todos, não só a nosso favor. O yoga vai ajudar a ter uma maior autoaceitação, é uma prática de amor. Não é preciso transformar-se em algo que não é ou mudar a sua vida para praticar yoga. É só praticar e depois as mudanças, sejam mentais ou emocionais, vão acontecer. O yoga deixa-nos mais presentes e isso todos nós precisamos, independentemente do que fazemos ou da idade que temos, sejamos jovens, adultos ou crianças.

“a mulher exige demais de si própria. Vivemos numa sociedade em que temos que ser eficazes, boas mães, boas esposas, trabalhadoras, temos que ser gatas…”

Por falar em faixas etárias, existe uma idade ideal para começar a praticar yoga?

Não. A pessoa tem que abraçar o yoga quando aparecer na sua vida. A geração de agora está a aprender mais cedo, porque está mais disponível. Antigamente tinha-se que ir atrás. Hoje há crianças que praticam yoga e jovens de 18 ou 20 anos que já conhecem e têm acesso. Não existe nenhuma idade, obviamente que existem vários níveis, podendo-se aprender de uma maneira mais simples, mais física ou aprender de uma maneira mais profunda e aí tem que se dedicar mais. Mas mais do que idade é preciso dedicação.

E que benefícios existem especificamente para as crianças?

Existem dois lados: um para promover a concentração, porque muitas crianças são demasiado ativas, algumas sofrem até de distúrbio de hiperatividade; por outro lado, para conseguir relaxar e descomprimir. Dei aulas numa escola particular francesa a crianças com mil atividades, crianças com muita pressão para terem boas notas, e aí senti que era mais uma maneira de conseguirem relaxar, porque eram crianças super pressionadas. Depende sempre da necessidade.

“Cada uma de nós, sendo aquilo que é já é incrível!”

E em termos de benefícios específicos para as mulheres? Existem?

Nós mulheres somos muito mais emotivas que os homens e o yoga ajuda a acalmar esse lado. Além disso, a mulher exige demais de si própria. Vivemos numa sociedade em que temos que ser eficazes, boas mães, boas esposas, trabalhadoras, temos que ser gatas… E o yoga ajuda a pacificar tudo isso, a fazer-nos entender que: “Ok, não precisamos ser isso tudo”. Cada uma de nós, sendo aquilo que é já é incrível! Todas nós temos a nossa potência. Não temos que cobrar de mais, que tentar atingir algo que é inatingível e que está sempre a mudar. É bom trabalharmos e tentarmos ir sempre melhorando, mas a autocobrança e a comparação, porque a mulher é muito de se comparar com a outra, é um problema. E nisso o yoga ajuda, trabalha esse lado de nos aceitarmos, aceitarmos quem somos, como somos, como o nosso corpo é e a nossa personalidade.

Há alguma altura do dia que seja a mais indicada para praticar yoga?

Tradicionalmente deve-se praticar ao nascer do sol, porque é quando a nossa mente está mais clara e mais pura, só que temos de ser realistas… nem sempre há disponibilidade para isso. Pela manhã, especialmente cedinho, é a hora mais potente para nos trabalharmos mentalmente e emocionalmente, mas nesta altura o corpo está mais fechado, mais duro. Ao final do dia, a mente está mais agitada, mas o corpo está mais aberto. O essencial é praticar com o estômago vazio, estar há duas horas sem sólidos. Aí é só conseguir encaixar de acordo com o estilo de vida, com o que faz, com a família, etc.

“A música é a tua respiração”

Existem outras regras a seguir?

Não beber água enquanto se pratica yoga. Antes e depois sim, mas durante não. Porque enquanto se pratica yoga, gera-se um calor interno através da respiração e esse calor está a ajudar a desintoxicar o corpo, se bebermos água vamos esfriar o corpo e é como se começássemos tudo do início. E também para não nos movimentarmos com água no estômago. Mas sim, as pessoas têm o mau hábito de ir para a sala de yoga e levar a garrafinha de água.

Quanto à roupa, é preciso ter atenção?

Nós mulheres gostamos de estar bem e bonitas. Antigamente praticava-se de calções e t-shirt, não havia leggings e tops; hoje o mercado está em crescimento e as marcas estão a investir. O yoga deve ser feito descalço, com uma calça confortável, que permita ter elasticidade, e uma parte de cima confortável. Homens devem estar de calções e t-shirt confortável também.

E fazer yoga com música? É correto?

Depende do estilo de música. Eu pratico sem música, só com a respiração, porque é assim que é ensinado. A música é a tua respiração mesmo. Não sou fã de fazê-lo com músicas, se estamos a realizar uma pratica que acalma, fazê-lo com uma música super estimulante é contraditório, isso é mais uma moda. Existe Hip-Hop yoga, por exemplo, mas isso é só marketing para vender aulas. Se no dia-a-dia já temos tantos muitos estímulos: seja visual, seja auditivo, e outros… o momento da yoga deve ser um slow-down (desacelerar). É uma limpeza.

“há cerca de uns três mil anos, o yoga era ensinado pelos grandes mestres, sendo ensinado apenas de homens para homens”

Atualmente existem várias figuras públicas portuguesas a aderir a esta prática, partilhando nas redes sociais posturas diferentes e que, por vezes, requerem bastante equilíbrio. A que se deve esse boom?

De facto é engraçado, até porque quando eu comecei havia pouquíssimas modelos a pratica, hoje todas fazem yoga. Tudo bem, é bom. Inspira mais. Só tem que se ter cuidado é com o começar a ensinar, porque há pessoas que não estão aptas a ensinar. Ensinar é outro departamento. Não se pode ensinar só porque se viu online. Antigamente, há cerca de uns três mil anos, o yoga era ensinado pelos grandes mestres, sendo ensinado apenas de homens para homens. Com o passar do tempo, esses homens começaram a ensinar a algumas mulheres. A mulher tem o poder de partilhar, de gerar uma comunidade, de gerar uma família. Acredito que o boom na prática do yoga aconteceu aí, devido ao poder da mulher. Hoje, 95% das aulas de yoga são compostas por mulheres.

Essa partilha é algo que a Aline faz em casa, com a sua família?

Sim, embora na minha família ninguém pratique, só eu. Mas eles veem-me a praticar, então começam a respirar um bocadinho melhor, a alongar um pouquinho. Não entram na prática do Ashtanga, mas observam algumas coisas. Tenho duas sobrinhas, uma tem hoje 20 anos e desde os cinco que me pedia para eu a acordar para ela me ver a praticar yoga. E a outra, que tem agora seis anos, desde os dois anos que me pede: “Tia Aline vamos praticar yoga”. Ela sabe que existe movimento, que é feito num tapete, que se respira e que não se fala. Alguma semente já está plantada. Por mais que às vezes pensemos que nada está a acontecer, a verdade é que está, especialmente quando há crianças, porque são esponjinhas.

Da filosofia de vida de Aline fazem ainda parte valores como seguir uma alimentação equilibrada e promover a sustentabilidade do planeta. Esses são princípios que também procura partilhar?

Sim. Porque para mim esta não é uma prática apenas dos pés à cabeça, ela não acaba aí. Nós temos que ter cuidado com o planeta. É essencial. As pessoas que praticam yoga e ficam por ali, não têm uma consciência ambiental e isso é negativo. O nível da prática do yoga, da transformação e da evolução não está nas posturas físicas realizadas, está sim na forma como se leva a vida. Tem mais a ver com a forma de conexão.

Percorra a galeria de imagens acima para ficar a conhecer algumas das dicas de Aline Fernandes para uma boa prática de yoga.

[Fotografia de destaque: Gonçalo Villaverde / Global Imagens]

Treinos de yoga de Meghan Markle revelados por ex-PT

Ioga (mesmo fácil) para aquecer