António Guterres: “Processos nos quais as mulheres participam levam a uma paz mais duradoura”

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[Fotografia: Khaled DESOUKI / AFP]

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, analisou, nesta quarta-feira, 25 de outubro, no Conselho de Segurança, a baixa participação feminina em processos de paz e segurança no mundo e reforçou a importância das mulheres na resolução de conflitos.

“Abordar esta questão não é fazer um favor às mulheres. É uma questão de direitos, justiça e pragmatismo”, afirmou António Guterres, lembrando que os “processos nos quais as mulheres participam levam a uma paz mais duradoura”.

No entanto, dos 18 acordos de paz alcançados no ano passado, apenas um foi assinado ou presenciado por uma representante de um grupo ou organização de mulheres. Nos últimos três anos, a participação feminina tem caído, passando de 23% em 2020 a 16% em 2022, segundo um relatório do secretário-geral, publicado em 28 de setembro.

Recorde-se que, há 23 anos a resolução histórica do Conselho de Segurança veio promover a participação das mulheres em posições de tomada de decisões, tanto na ONU como noutros fóruns internacionais e nacionais, para que pudessem tornar-se “agentes de mudança nas estruturas de segurança e defesa”. Isto deveria ser “uma norma, não uma ideia tardia”, disse Guterres.

Embora hoje haja exceções, como na Colômbia, onde existe quase uma paridade de género nas negociações de paz, as partes negociadoras em processos de paz “continuam a excluir regularmente as mulheres, e a impunidade por atrocidades cometidas contra mulheres e meninas continuam a prevalecer”, lamentou Guterres.

Os conflitos – cerca de 200 em todo o mundo -, o auge do autoritarismo e, com ele, a exacerbação da misoginia e da insegurança só fazem piorar a situação da mulher. A isto somam-se a crise climática e o impacto da pandemia de covid-19, refere o relatório.

No Sudão e no Haiti, as mulheres são vítimas de violência sexual. No Afeganistão, o regime fundamentalista talibã privou-as de direitos como educação e trabalho. Na Ucrânia, tiveram que fugir do país, após a invasão da Rússia e para não caírem nas mãos de traficantes e agressores.
Em Gaza, 67% das vítimas dos bombardeamentos israelitas para acabar com o Hamas são mulheres e crianças, lembrou no debate a diretora da ONU Mulheres, Sima Sami Bahous, estimando que, até agora, os ataques tenham produzido mais de 1.100 novos lares liderados por mulheres e causaram a fuga de mais de 690 mil mulheres e crianças, deixando-as expostas a um risco maior de violência. No ano passado, mais de 614 milhões de mulheres e meninas viviam em países afetados por conflitos, o dobro de 2017.

No entanto, enquanto os gastos militares aumentam, as organizações de mulheres têm dificuldades em encontrar recursos para financiar seu trabalho, reforçou Guterres. “O mundo deve superar urgentemente o abismo entre a retórica e a realidade”, pediu, antes de afirmar que no ritmo atual, serão necessários mais 50 anos para que as mulheres estejam representadas equitativamente nos parlamentos nacionais.

AFP