April Ivy: “Venho aí, venho para ficar e venho em bom”

links_signosSão muitos os portugueses que conhecem o refrão da música ‘Be Ok’, mas ainda poucos sabem que a rapariga por trás da voz poderosa que nos diz que “se ficarmos juntos, vamos ficar bem” é April Ivy, o nome artístico da portuguesa Mariana Gonçalves, de 18 anos.

Não gosta de sorrir para as fotografias, mas ninguém lhe tira o sorriso quando fala da sua grande paixão: a música. É raro o dia em que não se senta ao piano para escrever e compor, seja para ela ou para outros artistas. Acredita que foi o trabalho e seriedade com que encarou a música desde muito cedo que lhe permitiram chegar tão longe e com apenas 18 anos.

Aos 16 anos, já tinha uma música a liderar os tops nacionais e assinou contrato com uma editora internacional, a Universal Music France, antes de ter qualquer editora em Portugal interessada no seu trabalho.

Atualmente, representada no território nacional pela Warner Music Portugal, April Ivy é uma jovem “super feliz”. Expressão, aliás, que repete com frequência. A artista – que começou por fazer dobragens para a Disney – prepara-se para lançar o primeiro álbum em 2018. Com mais recente single, ‘Run For Cover’, April quer deixar uma mensagem: “Preparem-se, podem não estar a perceber agora mas venho aí, venho para ficar e venho em bom.”

a carregar vídeo

Prefere ser tratada por Mariana ou por April?

Por April.

Porquê o nome April Ivy?

Abril sempre foi um mês muito, muito especial para mim. Foi nesse período que assinei com a Universal Music France e há toda uma aura à volta desse mês que não dá para explicar. Este ano, por exemplo, fui nomeada para os Globos de Ouro. Acontecem mesmo muitas coisas boas.

E isso acontece desde sempre?

Desde que comecei na música que abril ficou o meu mês, apesar de nem fazer anos nessa altura. Faço anos em julho.

A sua aventura no mundo artístico começou em criança, a dar voz a várias personagens da Disney.

Aos 10 anos fui selecionada para dar voz à Molly, uma personagem do Toy Story 3. O diretor de castings, por acaso, era o meu vizinho da frente. Vi-o a falar durante uma entrevista no canal da Disney, percebi que era ele e pedi à minha mãe para nos apresentar. Ela respondeu: “Não, se quiseres vais tu apresentar-te.” Um dia estava a sair para ir à escola, ele estava a sair de casa às 7h00, fui apresentar-me e disse que gostava muito de fazer um casting, se ele tivesse disponibilidade. Duas semanas depois, chamou-me e fiquei logo para esse papel no Toy Story. Depois comecei a dar voz a mais personagens. Fiquei para o Entrelaçados e para uma série da Disney, a Minnie & You, em que eu era a Alex, a personagem principal. Dobragens também é uma das minhas paixões.

Fazer dobragens para desenhos animados não é fácil. O facto de ser ainda criança quando começou ajudou-a?

Sempre adorei teatro e tudo o que é arte, no geral. Já tentei, literalmente, fazer tudo, até seguir desenho. Ser criativa e tentar encarnar vários papéis sempre foi algo que me intrigou e a que achei muita graça. Fazer isso desde pequenina ajudou-me a criar a personalidade de hoje e, provavelmente, poderia não ter tanta confiança se não tivesse tido essas experiências nas dobragens que me ajudaram a entrar em personagens e fazer vozes diferentes. Foi uma experiência muito gira.

“Um dos meus sonhos é dar voz às músicas dos filmes da Disney”

Lembra-se da fala de alguma personagem que possa imitar um pouco para nós?

Da Molly. Por acaso foi uma das personagens que mais me marcou, por ser a primeira e por ser logo para o Toy Story, que era uma saga que adorava. No terceiro filme, ela diz: “Posso ficar com o teu quarto? E com o teu computador? Porquê?” Isto porque o Andy vai-se embora para a universidade, ela pede para ficar com os brinquedos e outras coisas, mas depois acaba também por ter de dar a boneca dela, a Barbie. Já não faço dobragens há imenso tempo.

a carregar vídeo

Gostava de voltar a fazer?

Claro, adoro. Um dos meus sonhos é dar voz às músicas dos filmes da Disney. Adoro as bandas sonoras dos filmes. Já mandei o barro à parede e disse que gostava, agora estou à espera que me chamem.

São sempre músicas que acabam por marcar várias gerações.

Tudo o que é Disney é eterno, o Toy Story vai ser sempre um dos grandes filmes da Disney, tal como todos os que são feitos por eles. É mesmo um sonho meu.

Tem irmãos mais novos ou crianças na família que tenham reconhecido a sua voz quando viram o filme?

Tenho um irmão mais novo, com dez anos, que também viu o filme e, ao início, achou um bocadinho estranho o facto de a voz da mana dele estar numa personagem, mas gostou.

A sua aventura na música começou com aulas de canto e piano. Foi por iniciativa sua ou foram os seus pais que quiseram que investisse em formação nessa área?

Foi por iniciativa minha, mas os meus pais sempre apoiaram. Eu pedia, dizia que tinha uma paixão pela música e que queria muito cantar e eles inscreveram-me em aulas de canto na escola. Como queria também desenvolver-me artisticamente, pedi para ter aulas de piano. Sempre foi assim. Quando comecei as de canto formei uma banda na escola, com amigos, em que tínhamos o nosso próprio merchandising, com o nosso logótipo, desenhado por nós.

Sente que o facto de ter investido na formação musical desde muito cedo é uma mais-valia agora que está a investir a sério numa carreira nesta área?

Ter uma boa voz não chega. Tal como um pintor, é preciso formação. Se pintar bem uma vez e achar que está bom e isso é suficiente, nunca vai melhorar. É assim em todas as áreas e profissões. Digo sempre: “Hard work beats talent” [“O trabalho duro bate o talento”, em português]. Podemos ter uma voz excecional, mas se não trabalharmos e não aprendermos as técnicas de como controlar e usar as respirações nunca vamos ser os melhores. Ambiciono sempre ser a melhor e evoluir. Nunca estou 100% satisfeita com o meu projeto, com as minhas músicas. Há sempre aquela coisinha que podia estar melhor e me deixa um bocadinho chateada.

“Não sai nada cá para fora sem estar perfeito”

É muito crítica com o seu trabalho.

Completamente, não sai nada cá para fora sem estar perfeito e sem estar tal como imaginei.

Isso aconteceu também com este último single que lançou, o ‘Run For Cover’?

Sim, gravámos cinco vezes e a música demorou vários meses a sair, apesar de já estar feita quase há um ano e meio. As produções não estavam boas, depois era o mix da música que não estava lá, até que chegámos a um consenso final. Se não, também me fartava da música de tanto a ouvir, que é a pior coisa que pode acontecer. Mas felizmente não aconteceu. Já está cá fora e estou muito feliz.

As suas músicas são todas em inglês porque foi a língua em que estudou. Sente-se mais à vontade, na música, com o inglês do que com o português?

Tenho estado a compor em português, escrevi a música ‘Não Sou Eu’ com o Diogo Piçarra para o último álbum dele. O inglês sai-me com mais facilidade porque estudo, desde sempre, essa língua. É por isso que sinto que me posso expressar melhor. No entanto, não excluo a hipótese de escrever em português e, eventualmente, vir a cantar em português no futuro.

No álbum, que deve estar a preparar, vai ter alguma música em português?

Tenho estado a compor o álbum, já tenho alguns temas fechados, mas não quero desvendar. Não vou dizer nada para ser uma surpresa quando sair. Vai ser uma boa surpresa, tenho estado a dar o litro neste trabalho. Fiz quatro versões do álbum, com 15 músicas cada.

Como assim?

Se escrevo em maio e depois só vão sair em janeiro, penso que as músicas já não vão estar atuais, que as pessoas não vão gostar.

O facto de ter um nome artístico em inglês e cantar nessa língua dá-lhe uma maior projeção internacional?

Claro que o meu objetivo é internacionalizar-me, mas não é um dos pontos que mais me preocupa. Faço as músicas sem nunca esquecer as tendências lá fora. O nome artístico e as músicas em inglês devem-se ao facto de me sentir mais à vontade nessa língua, é mesmo o que me sai.

Vai ser uma das convidadas dos concertos do Diogo Piçarra nos Coliseus do Porto e Lisboa. O que se pode esperar deste espetáculo?

Vão ser noites incríveis. O Diogo também está a preparar imensas surpresas, todos vão adorar. Ele é um artista incrível. Eu, o Valas e o Jimmy P já estamos confirmados, vão ser duas noites em cheio.

Tem o sonho de um dia poder encher uma sala como o Coliseu com um concerto em nome próprio?

Claro que sim. Fazer um concerto numa sala grande, em nome próprio, é outro dos meus objetivos. Seria um grande acontecimento e uma grande etapa.

Teve o seu contacto com a indústria da música enquanto fazia um estágio numa rádio. Como é que tudo se desenrolou?

Aos 14 anos fui fazer um estágio para a Mega Hits através da escola. Na altura, tinha covers no YouTube, SoundCloud, gravava-me a mim própria em casa e fazia os meus videoclips. Durante uma hora de almoço, perguntaram-me se fazia alguma coisa relacionada com música. Disse que cantava e eles quiseram ouvir-me. Foram buscar-me uma guitarra e toquei uma cover que tinha ensaiado para publicar no YouTube: ‘Sweater Weather’, dos The Neighbourhood. A sala começou a encher, uma das locutoras começou a ficar emocionada e o diretor da rádio, o Nelson Cunha, chamou-me e disse para chamar os meus pais porque eles queriam lançar-me como um projeto da Mega. Nessa tarde, puseram-me a tocar para 300 mil pessoas a mesma música que tinha tocado no refeitório. No dia seguinte tinha um manager e uma editora para me conhecerem.

Foi tudo muito rápido.

Sim, muito repentino, de um dia para o outro. Para mim, já estava ótimo ter atuado para 300 mil pessoas, não precisava de fazer mais nada, ficava por ali. Cheguei a casa, super feliz, e no dia seguinte recebemos imensas chamadas de pessoas que queriam saber quem era a miúda que tinha tocado. Correu super bem.

Agora, de vez em quando, volta à Mega Hits para dar algumas entrevistas. Como é voltar a casa?

É isso mesmo: uma casa. Tratam-me super bem, são família. É sempre muito bom voltar lá, sinto que foi ali que comecei e que foram eles que me lançaram.

“Eu respiro e vivo música, literalmente”

Há dois anos assinou um contrato discográfico internacional, com a Universal Music France. Que importância teve esse contrato na sua carreira?

O contrato acabou por me dar mais visibilidade, tanto em Portugal como em França. O meu primeiro single, ‘Be Ok’, foi lançado de forma independente porque não houve nenhuma editora que quisesse assinar contrato comigo. Fizemos o videoclipe com algumas imagens de concertos que eu já tinha dado. Só começaram a mostrar interesse depois de o convite da Universal Music France ter sido feito. Eles mandaram-me email para o contacto que estava no YouTube porque a música foi logo número 1 em Portugal. Agora sou representada no território português pela Warner Music Portugal, estou muito feliz por fazer parte desta família, tratam-me lindamente e estou muito bem entregue.

Em Portugal é muito difícil, para um cantor, afirmar-se na indústria musical? Ou seja, se naquele dia não estivesse na Mega Hits e não tivesse feito aquela atuação estava onde está agora?

Tudo faz parte da minha história, umas coisas trouxeram outras. O conselho que dou sempre quando sou abordada por amigos, cantores ou raparigas mais jovens que têm o sonho de ter uma carreira na música, é para que trabalhem muito. Estava no sítio certo à hora certa, os astros alinharam-se, mas houve muito trabalho por trás. Eu respiro e vivo música, literalmente. Trabalho todos os dias mas as pessoas só veem o lado mais glamoroso, mais brilhante da história. É preciso trabalhar, construir a nossa própria sorte. Ponham vídeos no YouTube, tentem compor os vossos originais e tenham coisas para mostrar ao mundo. Quando o Nelson Cunha quis falar comigo depois de ter atuado, disse-lhe que se fosse ao meu canal de YouTube, tinha uma série de vídeos. Eu gravava as minhas músicas com o microfone da Wii, porque era o único que tinha ligação USB, e editava os meus vídeos. Tinha tudo disponível, pronto para entregar a alguém. Se alguém dá um litro, eu dou dois para conseguir chegar aos meus objetivos.

Até agora lançou quatro músicas: ‘Unstoppable’, ‘Be Ok’, ‘Shut Up’ e ‘Run For Cover’. Todas elas têm sido verdadeiro êxitos, em loop nas rádios e telenovelas. Qual é o segredo para se escrever e compor uma música de sucesso?

O truque é escrever muitas – escrevo todos os dias – e deitar muitas fora até chegar àquela. Se for preciso, escrevo 30 álbuns até encontrar um single e todo esse trabalho de casa, até conseguir chegar a uma música que sinta que é a certa, é o mais importante. Está também muito relacionado com a produção e ligação que tenho com a minha equipa. Trabalhamos todos em conjunto, colocamos as nossas visões em cima da mesa.

Quantos elementos são?

Somos cerca de 20 artistas e songwriters. Temos todos uma grande ligação e a música faz-se da vibe entre artistas, produtores, todas as pessoas que estão naquela sala.

Como foi o processo de produção deste último videoclipe, da música ‘Run For Cover’?

Trabalhei com uma equipa nova e foi o Roger Sarrasqueiro que fez o meu vídeo. Funcionámos muito bem como equipa, houve uma energia muito positiva, tanto no set como depois. Tinha tudo para correr bem e foi esse o caso do ‘Run For Cover’. Estou muito feliz com o resultado.

Run for cover

Foi a April que teve a ideia do boxe?

Já tinha tido a ideia do boxe há algum tempo, achava que tinha tudo a ver com a música. Não faço isto sempre, mas quando estou a escrever as músicas gosto de visualizar um bocadinho do videoclipe. Vi alguns filmes de boxe de propósito para perceber a dinâmica, como funcionava e achei que era ideal até o Ed Sheeran fazer o videoclipe da ‘Shape of You’, também com o boxe. Pus as mãos à cabeça e disse: “Não acredito disto, não me pode estar a acontecer. Não podemos lançar isto agora, não sai nada, vamos ter de mudar de ideias.” Ia lançar a ‘Run For Cover’ no início do verão, mais ou menos na altura da ‘Shape of You’. Sentámo-nos outra vez para discutir ideias e percebemos que as histórias das músicas são muito diferentes. Enquanto a dele é uma história de amor, a minha é de reflexão pessoal. Por isso, mantivemo-nos no boxe com uma storyline diferente.

Que mensagem quer passar com esta música?

É muito motivadora e é aberta, para que todos consigam encaixar as suas próprias histórias ao cantá-la comigo ou em casa. É para avisarem alguém de que estou a chegar. Preparem-se, podem não estar a perceber agora mas venho aí, venho para ficar e venho em bom. Por isso, fujam e escondam-se.

No que toca à roupa também tem um estilo muito próprio, não só neste videoclip, em que usas um casaco do designer David Ferreira, mas também nos concertos. É um pormenor a que gosta de dar atenção?

É super importante. Adoro moda e ligar a música a esse universo. Em concertos, adoro fazer os meus próprios looks com a minha stylist e tentamos relacionar a roupa com as músicas. Vamos ver as histórias de cada tema e vemos o que fica melhor. A moda e a imagem são dois dos elementos mais importantes na música pop, o showbizz deste género de música baseia-se nisso, sem dúvida.

Este verão atuou no MEO Sudoeste. Que tipo de concertos prefere, os festivais ou os espetáculos de sala, mais intimistas?

Tenho um espaço no meu coração para os dois. Adoro o ambiente dos festivais de música, é sempre super cool e trendy. Agora com as influências do Coachella, as miúdas investem muito na moda para os festivais e vão com looks mais tribais.

É embaixadora da marca de roupa italiana Tezenis. Como está a ser esta parceria?

Está a correr super bem, estou mesmo muito feliz e adoro toda a família Tezenis que me acolheu muito bem. Estive a fazer uma tour com eles por todo o país, a Tezenis Music Tour. Demos concertos no NorteShopping, em Leiria, no Braga Parque e no Colombo para dar a conhecer esta parceria e que espero manter durante muitos mais anos.

Fotografias: Jorge Amaral/Global Imagens

Agradecimentos ao Cobre Bar, local onde decorreu a entrevista