As mulheres do B.Leza que deram baile à noite de Lisboa

Esta sexta-feira, 21 de dezembro, o mítico espaço noturno africano da noite Lisboa comemora 23 anos de existência. Por trás deste bar único estão, nada mais do que duas mulheres, irmãs que têm preferido permanecer na sombra : Sofia, 47, e Madalena Saudade e Silva, 49.

Esta, então com 25 anos, e Sofia, na ocasião com 23, acreditavam que o futuro se faria pelo Direito. A primeira licenciou-se, a segunda ainda fez admissão à Ordem e foi advogada. Mas o desaparecimento súbito do pai, em 1994, fê-las olhar para o legado que deixou de uma outra forma, transformando-lhes a vida. “O meu pai tinha um bar, no mesmo local físico do B.leza que tinha música africana ao vivo. Chamava-se Baile”, começa por recordar, ao Delas.pt, Sofia Saudade e Silva.

B.leza
Sofia Saudade e Silva, Vaiss, Costa Neto, Kalú Ferreira, Calú Moreira e Madalena Saudade e Silva juntos no B.Leza em 2012 [Fotografia: Facebook]
“Quando morreu, estivemos ali um ano sem saber o que devíamos fazer até que, em 1995, resolvemos dar uma volta ao espaço, alterar o nome, a mobília, … foi um refresh que, na verdade, era a continuação de um projeto dele”, recorda. Nesse sentido, vinca a proprietária, “não foi algo que pensámos sozinhas, o Baile tinha já um conceito semelhante, com artistas africanos e ao vivo”. Por isso, “quando dizemos que o B.Leza foi uma história de amor, ela foi isso mesmo, uma história de amor de duas filhas por um pai, de Portugal por África, mas fundamentalmente a história do amor que as pessoas têm para dar, da forma como a música e a dança nos podem unir”, sintetiza a coproprietária.

Até 2007, as romarias noturnas para espetáculos ao vivo e música africana fizeram-se ao Palácio Almada Carvalhais, no coração da capital. Depois de cinco anos de itinerância pelas casas e teatros da capital, os bailaricos voltaram a ter morada fixa, em 2012, junto ao rio Tejo, no Cais da Ribeira.

Ser mulher “tem vantagens” e “não há agressividade”

Ser ou não mulher à frente deste espaço é apenas uma mera coincidência. “Acho que talvez isso possa ser mais complicado para as outras pessoas, porque, para nós, não noto diferenças”, refere Sofia Saudade e Silva.

Mas, olhando de repente para essa realidade, afirma: “Tem vantagens e não há agressividade, há uma certa diplomacia, uma grande aceitação quando falamos com as pessoas, quando negociamos contratos”, refere a gerente e dona do espaço. “Não me posso queixar, não me sinto mais frágil ou mais explorada por ser mulher nesta atividade”, diz, sorridente, admitindo que ainda existe alguma surpresa.

Em algumas pessoas causa alguma estranheza sermos brancas e mulheres à frente do B.Leza, há muita gente que não sabe quem são as donas, e ainda bem. Não sinto nenhuma dificuldade acrescida pelo facto de sermos mulheres. Nenhuma”, reitera.

“Em algumas pessoas causa alguma estranheza sermos brancas e mulheres à frente do B.Leza”, diz Sofia Saudade e Silva

“Não sei se tivemos sorte, éramos muitos novinhas quando começamos com o B.Leza. Eu tinha 23 anos e a minha irmã 25. Hoje em dia, ouve-se falar muito de música africana, mas na altura não era nada assim. Era um meio insólito que os africanos conheciam bem”, recorda. Hoje, nas palavras da corresponsável do espaço, “é uma vida com este projeto na mão”.

Festa imprevisível

Esta noite de sexta, é mesmo à beira do rio que se vai fazer a festa, cumprindo uma tradição: chamando ao palco os cantores e músicos que frequentemente passam pela casa e convidando o público – o de sempre e os novos – a juntarem-se a uma celebração sem cartaz predefinido, mas com animação garantida noite fora. Na galeria acima reveja alguns momentos mais emblemáticos e nomes sonantes que passaram pelo B.Leza.

“Quando chega à altura do aniversário, dirigimos um convite a praticamente cada um dos artistas que foi por lá passando – homens e mulheres, oriundos de Cabo Verde, Angola, Guiné, Portugal – e fazemos uma grande jam session durante a noite, é um palco aberto, sem saber muito bem o que vai acontecer”, refere Sofia Saudade e Silva.

A promessa é mesmo só uma: “São noites de muita festa, às quais as pessoas acorrem muito bem dispostas, afinal todos, de músicos, a cantores e clientes, veem o B.Leza com um sentimento de pertença, celebrando a casa que têm como deles”.

Para já, as músicas da noite com lugar garantido em palco – de uma lista que só vai ficar fechada na madrugada de sábado, 22 de dezembro, e quando as portas se fecharem – vão ser as de Dany Silva, Ana Firmino, Calú Moreira, Gerson Marta, Miroca Paris e, entre muitos outros, Maria Alice. As portas abrem às 22.30 horas.

Imagem de destaque: Divulgação

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