Publicidade Continue a leitura a seguir

As quatro vezes que a Ministra chorou

A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, não conteve as lágrimas na hora de entregar um louvor a título póstumo aos pais de Paulo Alves, um agente da PSP morto em serviço na Amadora, em março de 2005
Em junho deste ano, no arranque da audição da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Constança Urbano de Sousa admitiu, com a voz embargada, que o incêndio de Pedrógão Grande "foi o momento mais difícil" que já alguma vez enfrentou
Também não conteve as lágrimas ao abraçar os bombeiros de Pedrógão Grande. Fotografia de José Coelho/Lusa
Enquanto ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa também esteve presente no último adeus ao militar da GNR Carlos Caetano, de 29 anos, assassinado a tiro em Aguiar da Beira e não conseguiu conter as lágrimas

Publicidade Continue a leitura a seguir

Constança Urbano de Sousa acaba de sair do Governo. O pedido de demissão foi aceite pelo Primeiro-Ministro, que ficou sem espaço de manobra depois do discurso do Presidente da República. Na carta, enviada à agência Lusa e que reproduzimos aqui, fica clara a intenção da Ministra da Administração Interna se demitir há mais tempo – logo após os incêndios de Pedrógão. O próprio envio da carta à agência nacional de notícias, tornando-a pública e, por isso, irrecusável, faz supor que Constança Urbano de Sousa deixou de confiar em Costa para discutir a sua posição no Governo.

Constança Urbano de Sousa é talvez o membro do governo mais odiado neste momento. Depois de ter sido acusada várias vezes de fraqueza por chorar em público, como fez na Comissão de Inquérito, a sua mais recente declaração aos meios de comunicação social sobre as férias que não teve fez com que a opinião pública se levantasse em peso contra ela. Mas não foi sempre assim: a primeira vez que Constança chorou em público foi na homenagem póstuma ao agente da PSP, Paulo Alves, morto em serviço aos 23 anos de idade. As emoções renderam-lhe, durante algum tempo, o respeito o povo.

Uma mulher não chora, mas um homem pode

A comoção de Constança Urbano de Sousa tornou-se mais visível no funeral do GNR morto num tiroteio na Amadora, em outubro de 2016. Abraçada à mãe do agente assassinado deixou cair as lágrimas. Diria mais tarde, numa entrevista à RTP, que se pôs no lugar daquela mãe, que sentia profundamente a dor de uma mulher perder um filho. Nesse outubro de 2016, ninguém veio a terreiro por em causa as qualidades da ministra. O tom da imprensa sobre esse episódio é elogioso. Mas foi sol de pouca dura.

A ex-Ministra da Administração Interna não é a única alta patente do Estado a chorar, mas é a única a ser constantemente acusada de fraqueza e de não ter condições pessoais para se manter no cargo. O atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem aparecido visivelmente emocionado mas não há uma presunção de incapacidade de exercer o cargo por esse facto. Também Jorge Sampaio, Presidente da República entre 1996 e 2006, chorou várias vezes em público, por exemplo, nas cerimónias de entrega de Macau à jurisdição chinesa em 1999. Manteve-se mais cinco anos no cargo.