Britney Spears faz revelações chocantes: aborto, depressão pós-parto, ansiedade social e ‘a prisão’ que viveu sob tutela

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[Fotografia: VALERIE MACON / AFP]}

Aos 41 anos e depois de 13 remetidos ao silêncio e isolamento devido a uma tutela exercida pelo pai, Britney Spears tomou a palavra e, em quase 250 páginas, revela tudo o que foi vítima e justifica todas as atitudes que tomou ao longo de décadas e sempre sob os holofotes do mediatismo. A intérprete de Toxic afirma, em revelações chocantes, como ela própria foi vítima da toxicidade de uma família que chegou a pensar que a queria matar, de um pai alcoólico, de uma indústria machista, de imagens preconceituosas sobre as mulheres e de falta de amparo na saúde mental na maternidade.

Apesar de admitir excessos no comportamento e consumo de anfetaminas para a perturbação de hiperatividade e défice de atenção e combater a depressão, Britney Spears revela que só ‘aceitou’ ceder a sua liberdade ao pai a troco de poder ver os filhos: Sean Preston, 17 anos, e Jayden, 16. “Se me perguntarem porque é que eu me sujeitei a isto, há uma razão de peso. Fi-lo pelos meus filhos. Como cumpria as regras, pude ter os meus filhos de volta. Foi um verdadeiro êxtase poder voltar a abraçá-los. (…) Para os ver o mais possível, fazia tudo para satisfazer o Kevin”, escreve no livro de memórias.

Um relato detalhado e íntimo que traz à tona episódios traumáticos, os internamentos compulsivos, os namorados sujeitos a análises clínicas antes de um possível primeiro encontro romântico, a privação de comer o que queria, a medicação de lítio que foi obrigada a tomar e até a ansiedade social e o desespero. “Não me custa admitir que, a braços com o que agora sei o que era uma depressão pós-parto, com o abandono do meu marido, a verdadeira tortura de estar separada dos meus dois bebés, a morte da minha adorada tia Sandra e a pressão constante dos paparazzi, em alguns aspetos eu tivesse, de facto, a pensar como uma criança”.

Esta é uma das muitas análises que Britney faz longo do seu livro ‘A Mulher que Há em Mim’, com lançamento mundial nesta terça-feira, 24 de outubro, em Portugal pela mão da editora Arena, da Penguin Random House, e no qual conta a sua história. Ao longo de 250 páginas, a eterna princesa da Pop explica que tudo o que fez foi para não ser uma menina má e para agradar a todos, frases que se repetem em quase todos os capítulos.

[Fotografia: Divulgação]

Uma tentativa de agradar a todos que a empurrou para o êxito, mas também para o lado negro: o aborto que fez quando estava com Justin Timbarlake, as dores excruciantes no chão da casa de banho, a depressão pós-parto quando, em dois anos, foi mãe duas vezes com o marido Kevin Federline cada vez mais distante.

Um livro que põe a nu o machismo na indústria da música e nos media que exaltam um homem artista sedutor e arrasam uma mulher que queria ser livre e dona do seu corpo, e no qual também explica por que agora se fotografa tantas vezes despida: “Sei que muitas pessoas não compreendem por que razão adoro tirar fotografias com vestidos novos ou nua. Mas acho que, se essas pessoas tivessem sido fotografadas por outros milhares de vezes, espicaçadas a fazer poses para serem aprovadas por outras pessoas, iam compreender a alegria que me dá pôr-me numa pose que eu ache sexy e fotografar-me, e fazer o que quiser com uma fotografia”, revela.

Assim como Britney Spears fala em discurso direto, também aqui pode ver sete excertos do livro onde encontra revelações e justificações feitas pela própria Britney:

“A certa altura, engravidei do Justin. Foi uma surpresa, mas não foi nenhuma tragédia para mim. (…) No entanto, definitivamente, o Justin não ficou nada feliz com a gravidez. (…) Se ele não queria ser pai, achei que não tinha grande escolha. Não queria convencê-lo a ser uma coisa que ele não queria. Como consequência, e tenho a certeza de que as pessoas vão odiar-me por isto, concordei em não ter o bebé. Nunca tinha imaginado que escolheria fazer um aborto, porém, dadas as circunstâncias, foi isso que fizemos. Se a decisão fosse só minha, nunca o teria feito. Mas Justin tinha a certeza de que não queria ser pai”.

Britney Spears com Justin Timberlake [Fotografia: Chris DELMAS / AFP]

“Nas notícias eu era descrita como uma vadia que tinha despedaçado o coração do menino de ouro [Justin Timberlake] da América. A verdade era que eu estava meio morta no Luisiana e ele andava todo feliz a passear-se. (…) Hollywood sempre se mostrou mais tolerante com os homens do que com as mulheres. E deu para ver como os homens era encorajados a dizerem as piores coisas das mulheres para se tornarem famosos e poderosos.”

 

“Agora sei que na altura estava a evidenciar todos os sintomas de depressão pós-parto: tristeza, ansiedade, fadiga. Assim que os bebés nasceram, adicionei a minha confusão e obsessão em relação à segurança deles, que escalava à medida que a atenção dos meios de comunicação social se concentrava em nós. Ser mãe já é uma tarefa suficientemente desafiadora, quanto mais quando temos de tentar fazer tudo sob o implacável escrutínio das outras pessoas. Como o Kevin [Federline, pai dos filhos] estava sempre em viagem, não havia ninguém por perto para me ver cair naquela espiral negativa – à exceção de todos os paparazzi dos EUA.”

 

“Depois de já ter passado semanas e semanas sem ver os miúdos, completamente fora de mim com o desgosto, fui pedir que me deixassem vê-los. O Kevin não me deixou entrar.(…) Tudo isto aconteceu à vista dos paparazzi. (…) E, então, nessa noite, dei-lhes algum material. Fui a um cabeleireiro, peguei na máquina e rapei o cabelo. (…) Rapar o cabelo foi uma maneira de dizer ao mundo: Vão todos à merda. Querem que eu seja bonita para vocês? Vão à merda. Querem que eu seja boazinha para vocês? Vão à merda. Querem que eu seja a vossa menina de sonho? Vão à merda.”

“A minha mãe e o meu pai tiraram-me toda a feminilidade. Foi uma dupla vitória para eles. Continuava em choque por o estado da Califórnia deixar o meu pai – um alcoólico, alguém que tinha declarado falência, que tinha falhado nos negócios, que me tinha aterrorizado enquanto era pequena – controlar-me, depois de tudo o que eu tinha alcançado e de tudo o que tinha feito.”

“Quando a tutela aconteceu, era verdade que eu levava uma vida louca. O meu corpo já não aguentava mais. Estava na altura de me acalmar. Mas passei da diversão total para uma vida de monge. Com a tutela, eu não fazia nada.
Num dia estava a guiar o meu carro a alta velocidade, a viver a vida em pleno, com o fotógrafo [namorado de então] a meu lado, e, de repente, estava sozinha, sem nada para fazer e muitas vezes sem acesso ao meu telemóvel. Era noite e dia.”

“Durante 13 anos não pude comer o que me apetecia, nem guiar, nem gastar o meu dinheiro como queria, nem beber álcool, nem sequer café. A liberdade para o que queria fazer trouxe-me de volta a minha feminilidade. Agora, nos meus quarentas, estou a experimentar fazer coisas como se fosse pela primeira vez. Sinto que a mulher que há em mim foi anulada durante muito tempo. Agora, finalmente, estou a regressar à vida, como uma leoa.”