Cancro. Mulheres sofrem mais do que os homens com os tratamentos

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[Fotografia: Anna Tarazevich/Pexels]

O tratamento do cancro pode ter mais efeitos adversos nas mulheres do que os homens. A conclusão decorre de um estudo que avança mesmo um número: 34% de maior probabilidade de danos secundários nas mulheres que acabaram de fazer tratamentos de cancro.

Nesta investigação, foram revistos os resultados clínicos de cerca de 23.330 pacientes na fase II e III acompanhados no Centro de pesquisa do Instituto Nacional de Cancro norte-americano, entre 1989 e 2019. De fora da análise ficaram os tumores específicos de cada sexo como o da próstata, nos homens, e da mama, larguíssima maioria dos casos nas mulheres.

Do total de casos, 38% eram de mulheres e reportaram 275 mil efeitos adversos. “Notamos aumentos muito relevantes na toxicidade severa [algo como venenoso ou doloroso] nas mulheres quando comprados por homens ao receberem imunoterapia”, afirmou o especialista em bioestatística Joseph M. Unger em declarações ao jornal El País. Mas a questão não termina na toxicidade. Ela estende-se nos efeitos, com as mulheres a reportarem riscos mais elevados de efeitos nocivos no sangue e nos tecidos celulares.

Para lá da prioridade para encontrar soluções que acomodem as diferenças de género face aos tratamentos, há também a tentativa de perceber as razões destas diferenças entre mulheres e homens. Entre as possibilidades avançadas, Joseph M. Unger fala na eventual “diferença na adaptação a medicação, como é processado fisicamente o tratamento”, no microbioma intestinal e na capacidade de metabolizar os diferentes químicos.

O presidente da Fundação espanhola para a Excelência e Qualidade em Oncologia não se mostra particularmente impressionado com os resultados. Rafael López lembra, em declarações ao jornal El País, que esta desproporção nas sequelas nefastas com prejuízo para as mulheres era já uma realidade sentida pelos especialistas. “Todos pressentimos que as mulheres experienciam mais efeitos secundários dos tratamentos, mas a ciência oficial diz que não”, afirma. Por isso, o responsável que é também chefe de serviço de Oncologia do Hospital de Santiago Compostela crê que “tal vai fazer mudar a forma como são testados os medicamentos, são regulados e administrados”.