Carta aberta a Valete para que retire o tema do ar

Violência-doméstica

16 associações, 120 pessoas. Estes são os o números de subscritores registados às primeiras horas de publicação de uma Carta Aberta, intitulada A violência contra as mulheres não é arte nem cultura que está a circular no Facebook e que pretende convocar a sociedade para a questão dramática da violência doméstica – 23 mulheres mortas em 2019 – e para o tema musical polémico de Valete, B.F.F.

Neste viedoclip e nesta letra, recorde-se, um homem de caçadeira em punho insulta a mulher, acusa-a de viver às suas custas. Isto no momento em que a surpreende com o melhor amigo na cama. No tema, Valete canta que o homem ameaça matá-los a ambos, acordando depois do sonho. Ainda no enredo, o homem levanta-se, toma um banho, mas o melhor amigo sai do armário, onde estava escondido.

“Gostaríamos que o vídeo saísse de circulação e que a música não fosse cantada nos concertos porque induz à violência contra as mulheres, normaliza, reproduz estereótipos de género, e essa é um pouco a nossa preocupação”, refere ao Delas.pt Alexandra Alves Luís, justificando, desta forma, a escolha do dia 1 de outubro para o efeito, dia Mundial da Música. A técnica de apoio à vítima, ativista e elemento da Associação Mulheres sem Fronteiras, sublinha que “esta carta aberta surge de uma preocupação de várias pessoas perante não só o vídeo, a música e o seu conteúdo, mas também perante as reações que o próprio artista teve depois de ser confrontado com o teor do mesmo”.

“Por vezes pactuamos com discursos misóginos e sexistas”

Entre a lista de subscritores, elenca Alexandra Alves Luís, estão mulheres e homens, “a maior parte das pessoas que trabalha com migrantes, a Associação de Mulheres de São Tomé e Príncipe, Associação da Mulheres em diáspora, Mulheres contra a violência, Associação de Mulheres Juristas e muitas mais”, reitera, deitando por terra a acusação de Valete falando em “feministas burguesas” ou “pessoas que não percebem os contextos”.

https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/o-rapper-a-adultera-a-cacadeira-e-a-pide-feminista-11312476.html

Um dos argumentos usados pelo próprio artista aborda a censura, lembrando que se trata de arte. Alexandra Alves Luís rebate-o: “Há músicas simbólicas que representam a paz, os ideais da revolução, mas há também temas que são a banalização da violência”, lembra, considerando que, no caso de BFF, “os agressores têm ali uma justificação em que se revêm e que justificam os seus próprios atos”. Por isso, Alexandra lembra e pede: “Há casos de outras músicas em que a sociedade civil se manifestou contra o teor das mesmas e os vídeos foram retirados, era o que gostaríamos.”

No link abaixo leia na íntegra a carta aberta, que pode ser subscrita através do Facebook. Uma iniciativa que, segundo esta responsável, nasceu “de um conjunto de pessoas preocupadas nos vários fóruns, grupos na internet. Temos alguns grupos privados e começamos a discutir esta possibilidade de publicar uma carta aberta no dia Mundial da Música”.

Imagem de destaque: Shutterstock

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