Catarina Furtado: “Não queria ficar a cota que não alinha em redes sociais”

Em fim de semana de regresso do programa de talentos The Voice à RTP1 (domingo), e de celebração do primeiro aniversário do CCC Café (sábado), releia a entrevista que Catarina Furtado deu mais à recente edição especial em papel do Delas.

Ontem vinha de uma gravação, passou cinco horas em estúdio connosco, seguiu para um programa de TV. Pelo meio não sei se ainda conseguiu ir a casa como queria.
Ainda jantei, sim, com os meus, ainda provei a lasanha do João.

E diz que é sempre assim.
É praticamente sempre assim. Com a idade venho a perceber que alguns ditados
populares têm muita razão de ser. Nomeadamente o «quem corre por gosto não cansa». É uma vida que tenho há 28 anos. Foi por acaso que me tornei apresentadora, documentarista, atriz, enfim. Tenho uma fome de não deixar que a vida passe por mim. Quero sempre deixar algo no final do dia que seja um acrescento em relação ao dia anterior. Às tantas é uma coisa um bocadinho doentia, em contraste com o meu marido, recatadíssimo. Mas já percebi que vivo bem assim.

O que a tira do sério?
Tenho falta de paciência para algumas coisas, nomeadamente a preguicite aguda. Mas se olhar para trás não me lembro de ter visto estes 28 anos a passar. Há o antes e o depois de ter filhos; aí sim, há algo que calendariza a minha maneira de estar. Mas não sinto que vivi 28 anos, foi muito menos, mas mais intensamente.
Consegue recuar a um tempo em que entrava num sítio e ninguém a reconhecia?
Ah, sim. Era bailarina, tinha acabado o Conservatório, comecei a dançar. Logo a seguir quando fiz jornalismo e fui praticar na rádio, não havia esse impacto da TV. Era uma
sonhadora. Nessa altura ainda acreditava que podia manter a profissão de bailarina, inclinada para a coreografia, e fazer jornalismo. Depois fui desviada por acaso.

Ajusta-se facilmente a estes desvios?
Sim, a não ser que seja algo que não se rege pelos meus valores e princípios. Tenho um lado doido e aventureiro, mas tem de haver um propósito. Talvez o equilíbrio venha daí.

De onde mais vem o seu equilíbrio?
Não tem nada que ver com o politicamente correto, que é uma grande chatice. No entanto, o politicamente incorreto não pode ser igual a má educação. Aí faço uma distinção. Mas as pessoas às vezes pensam que o equilíbrio é ser politicamente correto.

“Às vezes é mesmo preciso dar um murro na mesa. Equilíbrio é precisamente ter a capacidade de, a dado momento, dizer que isto não é bom para mim”

Pode vir antes de dar um murro na mesa?
Às vezes é mesmo dar um murro na mesa. Equilíbrio é precisamente ter a capacidade de, a dado momento, dizer que isto não é bom para mim. Com 19 anos, no início de carreira, quando ainda não sabia o que queria ser, houve muito o medo da não aceitação. De olharem pelo lado físico e não pela capacidade que eu teria. Isso foi terrível. Olho para trás e percebo que isto é repetido por miúdas que têm hoje 19 anos, até pela minha enteada, que tem 21. Durante uns tempos tive essa coisa do politicamente correto, até pensar que não tenho nada a perder, mas sim a ganhar.

Ser bonita pode não facilitar a vida?
Pois, nada disso.

Sente que a complicou ainda mais?
Isso não sei, porque acho que todas as mulheres sofrem, mesmo no mundo ocidental.
No nosso país, nas classes mais baixas, a discrepância salarial não é tão grande para as mesmas funções, mas chega a ser de 30 por cento nas mais elevadas e com mais formação. Há quem sofra mais. As negras sofrem mais do que as brancas em geral. É uma mulher bonita? Temos de a ouvir antes de a julgar. É também o momento para nos unirmos mais.

Por vezes o ataque vem mais das mulheres do que dos homens?
Vem, mas nem acho que seja por aquela coisa da rivalidade, não é por maldade. Às vezes a crítica vem porque, ao longo de anos, a mulher teve de se submeter a um papel secundário. O machismo está tão enraizado que até os amigos mais próximos não dão conta de comentários machistas. Temos de ser nós a alertar. Não estamos a educar rapazes ou raparigas, estamos a educar cidadãos. As crianças não vêm com chip do machismo.

Essa secundarização justifica que também as mães tenham muitas vezes um papel negativo na formação?
Também as mães. Elas próprias herdaram isso. São as mulheres as principais gestoras de uma economia familiar, cuidam dos filhos. Enquanto não assumirmos que somos nós as vítimas, não nos vitimizando, porque são coisas diferentes, não vamos conseguir olhar umas para as outras com empatia, e é preciso haver essa empatia. O feminismo faz sentido enquanto não houver uma igualdade de direitos e deveres.

No meio de toda esta questão do #MeToo, não chegamos a uma mistura entre trigo
e joio que beneficia pouco a causa?
Há pouca informação. Ou melhor, há muito folclore em redor de questões seriíssimas.
Por exemplo, a lei sobre os piropos foi muito maltratada. O que está dito não é que um
homem pode ser penalizado por dizer a uma mulher «ai, és tão bonita». Não é isso. Agora, quando há intrinsecamente um cariz sexual abusivo de um macho para uma fêmea… machismo é isto. Há uma imposição e abuso de uma superioridade. Tenho uma filha de 12 anos e não gosto de passar na rua e apanhar com um caramelo qualquer que diz «fazia-te toda». Fazia-te toda? Quantas são as miúdas que crescem a pensar que é bom terem escutado um piropo na rua. Fazia-te toda? Não!

Ouve isso de miúdas?
Sim, ainda nesta semana recebi uma carta de uma miúda de 17 anos na Corações com Coroa (CCC). Tem problemas gravíssimos de depressão porque não aguenta passar a vida a ser assediada por ser bonita.
Perguntava pelo outro lado, de também se revelarem valorizadas.
Sim, também há. É uma questão de autoestima. Mas a mulher nunca é valorizada.
Temos mulheres na CCC que têm de mentir nas entrevistas de emprego sobre gravidez. E falamos de empresas que se dizem amigas da igualdade de género. Isto é uma vergonha.
A própria sociedade também não deixa que os pais tenham um papel igualitário. Eles também não podem ser olhados de lado quando ficam em casa com os filhos. Não podemos é dizer «ah, ele é extraordinário porque até ficou em casa». Até ficou? Não faz sentido. Já se percebeu que se se investisse na igualdade salarial o mundo ganhava doze mil milhões até 2025.

Fala de empresas. Não seria mais eficaz se mencionássemos nomes?
Não. Falas do meu caso do assédio sexual?

Isso também, numa outra perspetiva.
Foi uma decisão minha, consciente. São coisas diferentes. Enquanto presidente da associação que fundei, temos a nossa ética no trabalho, temos atendimento gratuito numa série de áreas, direcionamos os casos, ouvimos parceiros, há uma conduta. Não venho para a praça pública fazer isso. Sou muito mais capaz de enviar um e-mail à própria empresa. E já fiz isso.

Com feedback?
Sim.

Ajuda o facto de ser a Catarina Furtado?
Não sei. Mas é a minha função e missão. Do ponto de vista pessoal, porque é que não falei em nomes? Exatamente porque acho que os homens não têm grande culpa.

Porquê?
As minhas amigas feministas são capazes de não concordar muito, mas sou mesmo sincera.

A herança social, cultural, justifica essa condescendência?
Eles cresceram assim! O mundo sempre funcionou assim. Quando explico aos miúdos nas escolas quando é que as mulheres começaram a votar em Portugal, ou que as da Arábia Saudita só podem conduzir desde o mês passado… Isto acontece, não é ficção. Tenho um filho e um enteado e passo a vida a explicar-lhes isto.
Como é que lidam?
Bem. Dou o exemplo do meu filho, com 10 anos, que não vê diferença entre os tios
heterossexuais e homossexuais. Ele vê pessoas, se têm bom ou mau coração. A minha mãe era professora do ensino especial e sempre me disse para não desistir das pessoas. Voltando à pergunta, não me interessa acusar o Manel ou o Joaquim. Para já, porque foi no passado e acredito na capacidade de regeneração e não me interessa apontar o dedo.

O que lhe interessa?
Interessa-me apontar o dedo à situação, não à pessoa. Conto que me aconteceu, que consegui dizer que não. Mas eu era empoderada. Tinha pais que acreditavam em mim, boa autoestima. Milhares de mulheres em todo o mundo não conseguem dizer que não, porque depende delas o orçamento de uma família.

O essencial da estrutura da Catarina já ali estava nessa altura?
Acho que sim. E nomear não acrescenta nada, só gossip. O título seria «o Manel Joaquim assediou a Catarina Furtado». O que interessa é que, tal como há vinte anos, há miúdas sujeitas a superiores hierárquicos. O debate é uma oportunidade para todos, também para os homens mudarem o seu comportamento.

“Às vezes vejo miúdas mais novas, mesmo figuras públicas, que dizem que têm de apagar mensagens nas redes sociais porque são demasiado obscenas e ilustrativas. Nunca tive isso”

Sente evolução na forma como eles a abordam ao longo dos anos? Não há uma cabeça que não se vire quando passa.
Sinto imenso respeito por parte dos homens. Às vezes vejo miúdas mais novas, mesmo
figuras públicas, que dizem que têm de apagar mensagens nas redes sociais porque são demasiado obscenas e ilustrativas. Nunca tive isso. O máximo que tenho é «ai, se
a Catarina não fosse casada».

É quase platónico?
É isso mesmo. «É a mulher mais bonita», etc. Outras mulheres o ouvirão. Nunca tive de apagar um comentário por ser obsceno.

O respeito também deste lado?
É uma excelente pergunta. Uma das grandes missões nesta vida, com a CCC e sendo embaixadora das Nações Unidas, é dar ferramentas às meninas com que me cruzo e às mulheres, para que elas percebam o valor que têm e se sintam capacitadas a
reagir. A minha partilha passa por aí. A questão da autoestima, da capacidade de dizer não, a bem, e o resguardar muitíssimo. Saber muito bem o que é público e privado, íntimo e social. Os jovens não sabem mesmo a diferença. Não estamos atentos à violência no namoro, que tem tudo que ver com isto. Vamos ter números gritantes, vergonhosos. Os conceitos de afeto estão misturados; paixão, controlo, ciúme. É uma das minhas grandes batalhas.

Esse amplificador de voz que era a TV está hoje nas redes?
Sim. A televisão já não é o que era. O que acontece é que em democracia toda a
gente pode dizer tudo e sobretudo o que se diz é o que não se sabe. É um espelho de
ignorância permanente. Eu que sou uma democrata penso tantas vezes que era bom haver um filtro. Nos miúdos é difícil.

Era inevitável render-se ao Instagram?
Bom, para mim não era inevitável, mas senti que poderia aprender imenso. Não queria ficar a cota que não alinha. Tenho jovens em casa. Quero ser esperta o suficiente para usar as ferramentas deles, acompanhá-los, e passar mensagens que são intemporais.

https://www.instagram.com/p/BnI2VZiAd3n/?hl=pt&taken-by=catarinafurtadooficial

O que não muda entre meios?
Os valores. Nunca caducam. Se o fizermos não temos de ter medo dos Instagrams,
temos a cama feita com bons lençóis de linho, que adoro. Mas claro que há coisas
privadas e íntimas.

Preocupa-a a forma como os filhos vão gerir isto, sobretudo sendo filhos de quem são?
Eles já têm essa noção. Sabem o que é valorizado pelos pais. As questões da privacidade, como da solidariedade, do respeito. Não tenho grande medo. Claro que às vezes tenho receios, sobretudo com este exagero que existe no Instagram de viver a vida dos outros.

De as pessoas acharem que conhecem as estrelas?
Falo mesmo a nível pessoal, de as pessoas seguirem as figuras públicas como se fossem deuses, embora eu pactue, porque também ponho coisas, recebo mensagens superqueridas e adoro. Mas há limites para tudo. Preocupa-me é ver miúdos de 18 anos a viver vidas paralelas nas redes sociais.

Durante a sessão de fotos dizia que se sente com 12 anos.
Sim, a minha filha diz que é da minha idade. Dizem que eu não cresço e não tenho
jeito nenhum para ralhar. Sou menor de idade de cabeça.
É um bom elixir da juventude?
Acho que sim. Mas tenho consciência de que quando vou falar com miúdos na escola tenho idade para ser mãe de muitos deles. Tenho de ter uma inteligência emocional que me permita chegar a eles.

Sobre as mulheres e a idade…
Lá está, outra grande chatice. Eles ficam todos giros grisalhos, como o Clooney, e nós…

“Não penso no futuro. Não tenho tempo para isso, e para ser muito franca também não penso muito no passado. Mas claro que penso que já são muitos anos.”

Pensa muito nisso?
Não penso no futuro. Não tenho tempo para isso, e para ser muito franca também não penso muito no passado. Mas claro que penso que já são muitos anos.

O fotógrafo dizia que não é preciso estar sempre a rir. É feitio profissional?
Lembro-me da minha querida professora Leonor, na primária, na Rua da Rosa, me dizer
que eu estava sempre a rir. Lembro-me sempre de mim a rir. Também tenho as minhas fúrias e os meus dias. Mas sou muito conciliadora. Os homens que trabalham comigo, o Malato, o Vasco Palmeirim, todos dizem isso. Aprimorei muito isso com a vida, com o trabalho para as Nações Unidas. Imagina, chego a uma comunidade na Guiné-Bissau, branca, sofisticada, com uma vida boa, e vou dizer a alguém que aquilo está errado? Mas quem sou eu? Exige humildade e conhecimento para podermos comunicar.

Já é mais fácil tornar sexy assuntos muito pouco sexy?
Pois, é com calma. Mas com toda a imodéstia, a mutilação genital feminina não era falada como é. Não fui a única, mas fui das primeiras, enquanto embaixadora, a levantar essa questão. Lembro-me bem de jornalistas, e não eram de revistas cor-de-rosa, me dizerem «oh, Catarina, mas isso é lá tão longe, é com eles». Hoje já se fala, há grandes matérias, e a lei de proibição foi aprovada em 2011 na Guiné-Bissau. Estou na TV, faço estes glamours todos, mas o que eu quero é melhorar o mundo.

Esse foco conseguiu sobrepor-se em definitivo ao rótulo da namoradinha?
Não sei responder. Porque depois chego ao Sete Maravilhas e a uma aldeia qualquer e as pessoas agarram-me como se eu fosse a miúda do Caça ao Tesouro [SIC, 1994]. E
do Chuva de Estrelas [idem]. Os mais novos é o The Voice [RTP1]. Não sei bem dizer.
Fico miúda outra vez. Tinha 20 anos.

O que é que programas como os de talentos lhe ensinaram?
E ainda ensinam. Boa pergunta. É mais uma constatação, que é um lugar-comum: não se deve nunca desistir. Por isso fui para Londres estudar representação quando já tinha carreira feita com o Chuva de Estrelas. Embora as más-línguas digam que aquilo não é um caminho, não é verdade. O concurso é um patamar, depois depende de outros fatores, como sorte e trabalho, o talento vem a seguir, como em tudo na vida. Há imensa gente que ficou ligada à música por ter ficado ligada a um reality show…. Que disparate, a um concurso!

Reality show não é nada consigo.
Não, nem pensar, nem pensar!

Se amanhã a RTP lhe pregasse uma grande peça e dissesse que só podia ficar se
apresentasse um reality, o que fazia?
Olha, mando daqui um grande beijinho ao Manuel Luís Goucha, mas não ficaria na RTP. E não sou dos jogos do «se», mas respondo-te. Felizmente, a RTP nunca vai fazer isso.
A definição de serviço público é difícil de conseguir, mas há parâmetros.

Falo na RTP porque é onde está, podia ser noutro canal.
Jamais faria.

Que memórias guarda dos bairros de infância, Campo de Ourique e Bairro Alto?
De Campo de Ourique tenho poucas memórias embora regresse aí mais. As memórias do Bairro Alto são maravilhosas, muito relacionadas com o Conservatório. No livro
“O Que Vejo e não Esqueço” descrevo algo que me marcou como mulher. Do primeiro andar, onde os meus pais ainda moram, e da janela via os polícias a darem pontapés às prostitutas e a levarem-nas para a esquadra. E depois o lado cultural, claro. E a minha professora primária.

Como é que uma miúda tímida deu a volta para dar voz à sua contestação?
Era muito tímida. A minha mãe é uma sábia, corajosa, empática, inclusiva, com uma educação altamente conservadora. Rompeu com isso tudo por amor, e não só, por convicções também. Deu-me a mim e à minha irmã um olhar de esperança. É muito católica mas tem uma aceitação dos outros de uma forma muito próxima de como eu vejo as coisas. Sou católica mas tenho grandes zangas com a Igreja.

Gostava que seguisse mais as suas causas?
Sim, acho que Deus ia gostar e ia ficar contente connosco. Acho que não gostaria de ver tantas mortes maternas e de meninas pelo facto de não haver planeamento familiar.

Falando de família. Conheceu o seu marido, o ator João Reis, durante as gravações da série da RTP1 A Ferreirinha. Foi imediato?
De todo. Não gostei nada dele e ele não gostou nada de mim. Ele já tinha uma ideia feita de mim, que era muito mais conhecida do que ele, mais figura pública. Ele muito recatado e eu sempre a falar horas com toda a gente. Não era uma boa altura, tinha acabado de falecer o meu sogro, e não nos demos muito bem do ponto de vista social. Em cena, houve logo química profissional. Aquilo deu-se através da minha enteada. Apaixonei-me primeiro pela Maria, que ia sempre às gravações, e só depois pelo João. É um legado que também quero explorar, esta coisa mágica de poder ser uma «boadrasta».
O próprio léxico é ingrato?
Lá está. Não podemos ridicularizar coisas que são essenciais. Já há uma consciencialização e uma legislação mais amiga das «boadrastas». A relação pressupõe jogos de cintura com os ex, os pais das criaturas. O meu caso não foi facílimo de início, mas foi construído e hoje tenho doutoramento, porque são duas mães diferentes. Gosto muito da Joana e da Patrícia.

Todos convivem bem com a sua exposição?
Eles sabem que é a nossa profissão. Queixam-se mais com a questão do tempo, estes horários estranhos. Depois, também tenho o privilégio de os ir buscar muitas vezes à
escola, coisa que as mães nem sempre conseguem. Não me queixo.

Ali é só mais uma mãe?
Completamente. Só não vou ao supermercado porque é o João que vai. De resto, sou mais uma mãe, com as mesmas angústias e alegrias. Eles gostam que eu seja mais uma mãe, não a Catarina Furtado.

São bons críticos do seu trabalho?
Sim, sobretudo a Beatriz. E a Maria já trabalha comigo, já é minha assistente. Já tem uma visão humanista muito dela. Vai para a Grécia para campos de refugiados, organiza conferências. É admirável. Acho que somos muito sãos, mesmo. E têm consciência de que para serem conhecidos têm de ter algo interessante para fazer. Ser filho da Catarina e do João não é profissão nem nenhum talento. O que me deixa tão equilibrada é isso. Fui preenchendo a vida com o que me faz bem.

Só faltava o dia ter 48 horas.
E conseguir dormir pouco. O João dorme muito pouco e vive melhor com isso. Eu
fico irritada por ficar cansada.

Continua no pilates.
Uma vez por semana, se conseguir. É a única coisa que faço. Como de tudo mas não
abuso. Agora, não deixo de viver. Deixar de viver nem pensar.

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