‘Cinco Travessias do Inferno’: Um relato das “melhores viagens horrorosas” de Martha Gellhorn

Martha Gellhorn

As vivências no terreno da mítica repórter e viajante americana Martha Gellhorn chegaram à coleção de Literatura de Viagens de Carlos Vaz Marques, editada pela Tinta-da-China. Mas o livro, que traz o relato de algumas das suas viagens, foge ao registo habitual deste tipo de obras, como se deduz, desde logo, pelo título: Cinco Travessias do Inferno’.

Neste livro, que estará à venda a 22 de março, são relatadas, ao longo de 380 páginas, as cinco “melhores horrorosas viagens” de Martha Gellhorn. Momentos vividos na China, Caribe, África, Rússia e Israel e que mostram que nem todas as viagens têm de correr bem para resultarem em ótimas histórias.

Nascida em 1908 e considerada uma das maiores repórteres de guerra de sempre, Martha Gellhorn, cobriu praticamente todos os grandes conflitos do século XX, desde a Guerra Civil Espanhola à invasão do Panamá pelos EUA em 1989. O trabalho de repórter de guerra era à época, e ainda hoje, dominado maioritariamente por jornalistas do sexo masculino. Marta Gellhorn conseguiu impor o seu registo na cobertura desse tipo de acontecimentos, interessando-se pelas das vítimas civis da guerra, votadas à invisibilidade.

“Todos os políticos são chatos, mentirosos e falsos. Eu falo com pessoas”, terá afirmado sobre o seu trabalho, disse a jornalista que percorreu o mundo para levar aos leitores as melhores histórias, mesmo nas situações mais difíceis, como este livro retrata um pouco.

O livro, à venda a 22 de março, faz parte da coleção Literatura de Viagens, da Tinta-da-China. Preço €24,90 [DR]

A vida de Gellhorn, enquanto correspondente de guerra, é também ilustrada por dois episódios que ficaram para a história. Uma delas envolve um Nobel da Literatura, Ernest Hemingway, escritor com que esteve casada algum tempo durante a II Guerra Mundial e que, na altura, lhe roubou a acreditação, levando a repórter a embarcar clandestinamente num navio‑hospital a 7 de Junho de 1944 e a recolher feridos durante a invasão da Normandia. O outro episódio passa-se anos mais tarde, quando os militares americanos fizeram com que o visto para regressar ao Vietname lhe fosse recusado, como forma de retaliação pelas reportagens que ela fazia para o jornal The Guardian.

 

Marta Gellhorn, que queria ter ficado conhecida como romancista, ainda publicou cinco romances, catorze novelas e duas antologias de contos. Mas foi a sua carreira jornalística que a distinguiu, trabalhando como jornalista praticamente até à sua morte. Embora se tenha recusado a cobrir a guerra da Bósnia quando já era octogenária, com a explicação de que já não tinha agilidade para isso, aos 87 anos foi para o Brasil fazer pesquisa e escrever um artigo sobre o homicídio de crianças de rua. Morreu em Londres, em 1998, com 90 anos.

 

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