Ciúmes: a perigosa desculpa do amor para violência que tem de acabar

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[Fotografia: iStock]

Perto de oito em cada dez jovens (75%) que sofreram agressão no namoro não apresenta queixa contra os companheiros porque considera que o ato de violência se justifica pelos ciúmes.

Os dados são de um estudo da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta, apresentados esta sexta-feira, 12 de fevereiro, durante um ‘webinar’ sobre prevenção e combate à violência no namoro, promovido pela Comissão para a Igualdade de Género (CIG), no âmbito de um programa (Arthemis+) de prevenção primária de violência de género, que envolveu 4.598 jovens de escolas de todos os distritos do continente e ilhas, dos 7.º ao 12.º anos de escolaridade.

Ana Sofia Neves, investigadora e presidente da Associação Plano I, deixou claro que é urgente “interromper esta ideia de que o ciúme corresponde ao amor, ao amor romântico e que é vendido às mulheres como o ideal”.

Uma análise a jovens, com média de idades a rondar os 15 anos, que considera legítimo o controlo ou a perseguição na relação, com quase 60% a admitir já ter sido vítima de comportamentos violentos.

De acordo com o estudo, cujos dados são relativos a 2020, 67% dos jovens consideram legítima a violência no namoro, dos quais 26% acham legítimo o controlo, 23% a perseguição, 19% a violência sexual, 15% a violência psicológica, 14% a violência através das redes sociais e 5% a violência física.

Entre estes quase cinco mil jovens, cuja média de idades é de 15 anos, 25% acham aceitável insultar durante uma discussão, outros 35% que é aceitável entrar nas redes sociais sem autorização, 29% que se pode pressionar para beijar e 6% entendem mesmo que podem empurrar/esbofetear sem deixar marcas.

No que diz respeito às diferenças por género, é sempre por parte dos rapazes que a legitimação é maior, com destaque para o comportamento “pressionar para ter relações sexuais”, em que a legitimação entre os rapazes (16%) é quatro vezes superior à das raparigas (4%).

A ideia enraizada de que o ciúme faz parte do amor e de que é fator aferidor da intensidade de um afeto não pode estar mais errada e ser mais perigosa. Mais ainda quando ela surge como o principal fator desculpabilizador que demove a vítima de uma queixa formal. Num segundo plano, 44,6% dos inquiridos contextualiza a violência como decorrente de processos mentais do agressor. “ A ideia de que quem comete este crime tem algum tipo de perturbação mental também surge como fator desresponsabilizador”, recorda Ana Sofia Neves. Para a especialista, é essencial cortar com esta linha de argumentação.