O bullying volta a estar sob os holofotes depois de ter sido divulgado, nas redes sociais, um vídeo de agressões exercidas sobre um jovem que, atacado por uma colega e depois por um grupo de alunas, acabou por atravessar, em fuga, a EN 10-2, na zona de Vale da Romeira, Seixal, e ser atropelado. Um momento que chega a ser captado no vídeo, ouvindo-se o som do embate.
A PSP confirmou que foram identificados “todos os intervenientes nas agressões” e a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que instaurou um inquérito tutelar educativo.
Um caso que volta a trazer o complexo tema que envolve crianças, jovens, pais e escolas e que tem mesmo de ser olhado, dadas as sequelas que pode deixar. Mas os primeiros sinais são detetáveis e há muito para fazer a partir de casa, entre pais e filhos. Por isso, o que é que podemos fazer quando descobrimos que os nossos próprios filhos são os bullys?
Acima de tudo, é importante estar atenta aos comportamentos dos nossos filhos e detetar possíveis sinais de que eles tendem a gozar com outras crianças, por exemplo. Depois, sim, tentar tomar algumas medidas. É que, ninguém quer que o seu filho sofra nas mãos de um agressor, mas também ninguém quer ter o agressor em sua casa.
Atitudes desde criança como empurrar os mais novos ou pequenas ou maltratar os irmãos, por exemplo, podem ser alguns sinais de alerta. A educação e a empatia necessitam, neste casos, de entrar na equação.
Amanda Grummer, psicóloga infantil, falou com a revista Life do HuffPost e explicou alguns dos passos básicos e fundamentais para lidar com este tipo de situações. Para a especialista, a criança não começa a ser má para outra de repente, mas sim aprende. “É um comportamento aprendido. As crianças aprendem com o que funciona. Se elas são um pouco más com uma criança e acabam por conseguir o que desejam, é provável que o consigam fazer novamente. E aprimoram novas habilidades. Geralmente isto vem de um lugar de insegurança, onde estão a tentar provar que são maiores, mais inteligentes ou poderosos”, explica a especialista.
Mas, segundo Amanda, até os comportamentos mais agressivos para com outras crianças podem apenas ser passageiros e, se bem trabalhados, tendem a desaparecer rapidamente.
Por vezes, os pais acabam mesmo por ser cúmplices neste tipo de comportamentos, mesmo sem se aperceberem. Por exemplo, se uma criança está a fazer imenso barulho para opter algo e se os pais simplesmente lhe dão, isto pode fazer com que a criança entenda que “maus comportamentos” acabam por lhes trazer os benefícios que desejam. E este é apenas um dos exemplos de comportamentos e atitudes que devemos evitar, de forma a que a criança não pense que está no controlo das situações.
Outro grande problema, é a falta de empatia da criança. Ou seja, ela não se consegue colocar na pele do outro, entendendo que aquela comportamento o pode magoar. E recorde-se que existem alguns truques que a podem ajudar na hora de ajudar o seu filho a ser mais empático. A empatia deve ser trabalhada, de forma a que cresça e não desapareça com o passar dos anos.
Outra questão também importante, é trabalhar a autoestima deles e fazer com que comecem a ser independentes deste cedo. Deixe-os escolher as suas roupas, ou perguntar-lhes o que lhes apetece comer ou ainda dar sugestões de planos que gostassem de cumprir. Este tipo de atitudes fará com que sintam que a opinião deles é importante, que estão seguras e são amadas.
Mas, afinal, que venham as dicas práticas do que poderá fazer ao descobrir que o seu filho ou filha é um bully:
Não reaja a quente
“É importante não reagir exageradamente ao primeiro sinal de que uma criança está a ser má”, afirma a mesma especialista. “Porque, muitas vezes, eles podem nem perceber o que estão a fazer”. Reagir de forma não positiva também irá atrair a atenção delas, acrescentou, que é o que muitas crianças desejam – e, assim, podem continuar com comportamentos negativos para chamar a sua atenção.
Deve abordar o comportamento com calma, de forma a que o seu filho entenda que pode comunicar consigo. Tente entender não apenas a razão para o comportamento mas também fazer com que a criança pense como seria se aquilo tivesse acontecido com ela.
E, visto que as crianças tendem a repetir e imitar comportamentos, tente também entender se existe algum familiar ou amigo que pode estar a ter comportamentos que influenciem a criança.
Promova a empatia
Tente ler uma história para o seu filho e peça-lhe que considere como é que os personagens podem estar a sentir-se ou, ainda, como é que ele se sente ao saber das histórias dos próprios personagens. Ajude-o a desenvolver a imaginação e a conseguir imaginar como é que os outros se sentem com as suas ações e a dos outros.
Estabeleça barreiras claras
As crianças precisam de saber quais o seus limites claros. Por exemplo, se não bater no irmão ou irmã for uma regra de família, é importante que isso esteja bem explicado e que existem consequências para o não cumprimento dessa regra. Mas evite “explodir” na situação e simplesmente começar a ralha com a criança. Por exemplo, se a criança rasgar um desenho do irmão ou irmã, então ela também não poderá desejar. Dê punições naturais e ligadas ao erro comentido.
Avalie comportamentos e peça ajuda
Se a criança for um agressor persistente, é normal que o comportamento se repita. Faça uma avaliação desse mesmo comportamentos depois de três meses desde que começou a tentar impôr limites. Se não funcionar, não hesite em procurar ajuda, para que a situação não piore com a idade. Em alguns casos, explica a especialista, até se podem descobrir algumas situações que demonstrem as razões pelas quais a criança se comporta assim, como por exemplo ter autismo e não entender o que se passa com os outros. Mantenha também contacto com a escola da criança, de forma a entender como é o seu comportamento quando não está ao pé de si e aconselhe-se com as pessoas especializadas.