Já imaginou como seria a sua vida se tivesse de ir a correr para a casa de banho várias vezes num só dia? Há cerca de 1.700.000 milhões de portugueses a ter de enfrentar este problema todos os dias. Têm bexiga hiperativa, uma doença que se traduz numa contração involuntária e repentina do músculo da parede da bexiga, até mesmo quando o órgão um volume reduzido de urina.
Há tratamento para a doença, mas em Portugal mais de 50% dos doentes desiste depois dos primeiros três meses. Um abandono significativo motivado por diversas razões.
“A principal poderá ser pelo facto de os doentes não verificarem as melhorias que esperavam e não voltarem a consultar o seu médico de forma a que este possa ajustar o tratamento. Muitas vezes os doentes desconhecem que existem várias opções terapêuticas e no caso de uma não se adequar às suas expectativas podem ser tentadas outras até se encontrar uma que se ajuste ao doente”, explica ao Delas.pt Vera Pires da Silva, médica interna de medicina geral e familiar e uma das autoras do primeiro plano de cuidados integrados para a bexiga hiperativa.
Este plano pioneiro em Portugal tem como objetivo facilitar a identificação da doença e permitir um melhor acompanhamento dos doentes. Tem o apoio científico da Associação Portuguesa de Neurologia e Uroginecologia (APNUG), da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e da Associação Portuguesa de Urologia (APU) e está a ser apresentado, desde sexta-feira, no Congresso da APNUG, que termina este sábado.
“O plano vem facilitar porque não só alerta os médicos para esta patologia como também aborda todos os passos, desde a confirmação do diagnóstico até às opções terapêuticas disponíveis em Portugal”, clarifica a médica.
Apesar das semelhanças, esta doença não é o mesmo que incontinência urinária.
“A bexiga hiperativa é uma condição que se caracteriza pela presença de urgência urinária, geralmente acompanhada por aumento da frequência das micções e necessidade de se levantar à noite para urinar, com ou sem incontinência urinária de urgência”, diz Vera Pires da Silva.
Como prevenir?
Segundo um estudo da Faculdade de Medicina do Porto, cerca de 30% da população portuguesa já referiu sintomas de bexiga hiperativa (pode ver quais são os sintomas na galeria de imagens acima), fazendo prever que a prevalência da patologia em território nacional esteja acima da média europeia, que é de 17%. No que toca ao sexo feminino, os números indicam que cerca de 20 a 30% das mulheres podem vir a ser afetadas pela doença em várias fases da vida.
O risco de sofrer da doença também aumenta com a idade. Prevê-se que em 2050 sejam afetadas 25,5 milhões de pessoas só em cinco países europeus: Alemanha, Itália, Suécia, Espanha e Reino Unido.
Para prevenir deve evitar consumir bebidas com gás ou cafeína e combater o excesso de peso. Mas existem outros fatores que podem contribuir para a patologia.
“A bexiga hiperativa resulta de contrações anormais da bexiga. Nem sempre se consegue encontrar uma causa, embora existam vários fatores que podem contribuir ou agravar os sintomas, nomeadamente a obstipação, musculatura pélvica fraca, alguns medicamentos, algumas doenças neurológicas, algumas cirurgias prévias, entre outros. Por isso é importante que os doentes recorram ao seu médico para confirmar o diagnóstico”, sublinha a especialista.
O tormento de quem vive com a doença
Maria (nome fictício) tem 40 anos e desde criança que tinha perdas frequentes de urina, mas nunca contou a ninguém por vergonha. Na escola primária era gozada pelos colegas sempre que tinha vontade de urinar e não conseguia chegar a tempo à casa de banho. Os pais desvalorizaram a situação e culpavam-na por estar “entretida a brincar” e, por isso, não conseguir “chegar à casa de banho”.
“Achava que o problema era meu e que estas idas repentinas à casa de banho seriam devido a problemas psicológicos. Aos 32 anos, em conversa com amigos, decidi procurar aconselhamento médico junto de uma urologista e só nessa altura é que me foi diagnosticada bexiga hiperativa”, conta Maria.
Num só dia chega a ir a correr para a casa de banho mais de 15 vezes e durante a noite o cenário repete-se e perturba-lhe o descanso. A vida social e familiar também acabou por ressentir-se.
“Com as perdas súbitas de urina estava sempre a pensar que cheirava mal e que as pessoas ao meu redor percebiam a situação. É bastante desconfortável estar num espaço de lazer sempre preocupada em saber onde podemos encontrar a casa de banho mais próxima”, afirma a doente.
Já para não falar das situações bastante embaraçosas que tem vindo a somar ao longo dos anos.
“Ainda durante a minha adolescência tive situações de estar em espaços públicos com os meus amigos e não aguentar esta vontade súbita. Durante mais de 20 anos vivi um autêntico pesadelo, pois não me conseguia imaginar a conviver com outras pessoas sem uma casa de banho próxima e disponível”, acrescenta Maria.
Os artigos mais lidos:
Blaya nua e grávida ao lado do namorado
“Tenho truques para controlar a minha vontade de comer”
PSP: engravidar significa perder um terço do salário