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Cuidadores informais exigem mais direitos à porta da Assembleia

Percorra a galeria e veja algumas medidas que já existem noutros territórios, relativamente à proteção de cuidadores informais, e que já estão a ser postas em prática. Há exemplos que chegam um pouco de todo o mundo e que constam do estudo português que deverá servir de base à definição do Estatuto do Cuidador, com o título Medidas de Intervenção junto dos Cuidadores Informais - Documento Enquadrador, Perspetiva Nacional e Internacional. [Fotografias: DR]
Suécia: Uma das ferramentas mais peculiares tem o nome de “24horas alívio instantâneo”. Trata-se de um serviço, entre outros, a que o cuidador pode recorrer sempre que está mais pressionado ou stressado. Estão ainda previstos descansos como fins-de-semana e “estadias em hotéis-spa e prestação de cuidadosos beneficiário dos cuidados por um ou dois dias”, lê-se no estudo.
Alemanha: Com o Estatuto do Cuidador definido, as pessoas que prestam estes serviços dispõem de cursos e, entre outros, proteção contra acidentes de trabalho. Há uma licença para cuidados à família e que pode ser até dez dias úteis sem comparecer no emprego. “Os trabalhadores das empresas com pelo menos 15 pessoas têm direito legal a uma licença em tempo integral ou parcial até seis meses, a fim de cuidar de um parente próximo”, refere o documento. Nele lê-se ainda que “desde janeiro de 2015, todos os empregados têm direito à licença de assistência à família, podendo beneficiar de uma ausência até 24 meses para cuidar de um parente próximo num ambiente doméstico, tendo que cumprir, em contrapartida, 15 horas de trabalho mínimo por semana”. Há, entre outras ferramentas, um subsídio mensal para a prestação de cuidados básicos em casa e que pode ir dos 468 até aos 1612 euros, ou mesmo até aos 1995 euros em casos muito particulares. Há ainda subsídios que devem cobrir custos com cuidados, tratamentos médicos e despesas de assistência social.
Luxemburgo: Os sistemas de seguros preveem soluções de descanso dos cuidadores e que podem estender-se a três semanas.
Irlanda: Há apoios financeiros que podem ser usados ao longo do ano, requeridos pelo cuidador. Se este tiver de deixar o mercado de trabalho, a pessoa que presta cuidados recebe entre 205 (um dependente) a 307 (vários) semanais, uma subvenção que pode estender-se até às 104 semanas (cerca de dois anos). Há ainda outros subsídios para os que têm baixos rendimentos. “Se o cuidador vive com quem cuida, tem ainda direito: a passe para transporte gratuito, subsídio para gás e transporte e subsídio para licença de televisão”, refere o estudo português agora divulgado. Há também apoios adicionais aos cuidadores, prevendo a substituição temporária dos mesmos, seja em férias, seja por outra razão e até ao valor limite de 1375 euros anuais. Entre outras medidas, a Irlanda também prevê apoios para adaptação e remodelação dos domicílios.
Finlândia: O país prevê a concessão de três dias de descanso semanais aos cuidadores informais.
Espanha: Sem Estatuto do Cuidador definido, todos os benefícios são dados na perspetiva do doente - o que é bastante semelhante ao caso português. No país vizinho, há apoios para a contratação de um “assistente pessoal” (formação e trabalho). Os cuidadores informais “podem inscrever-se no sistema de segurança social mediante a subscrição de um seguro voluntário, com contribuições reduzidas”, lê-se no documento. Os montantes previstos para financiar os cuidados informais em casa variam consoante a percentagem de dependência, os tipos de benefícios requeridos e a situação económica individual do doente, podendo ir dos 153 a 834 euros.
França: Tem Estatuto do Cuidador e este, uma vez empregado, tem direito aos mesmos benefícios que outros trabalhadores. O país prevê a concessão de uma licença, paga com recurso a subsidio diário - tipo de cálculo que em Portugal se aplica à licença de maternidade - para os que cuidam de um familiar ascendente ou um descendente com deficiência. Há subsídios que são calculados com base nos gastos do doente e nos recursos económicos do mesmo. Entre as ferramentas contam-se ajudas técnicas, alojamentos parciais para o doente, e, entre outros, apoio à habitação. Mas também há subvenções pecuniárias. Há uma “majoração da pensão de invalidez ou velhice, não podendo o aumento ser inferior a 1103 euros por mês”, diz o estudo. Nele, constam ainda outros benefícios suplementares que podem ir de 551 euros, para os doentes que não conseguem concretizar três ou quatro atividades autónomas, até aos 1654 euros para os que que não realizam pelo menos sete atividades.
Reino Unido: Para lá de dispor de um Estatuto do Cuidador, há ainda benefícios pensados para ele. O Carer’s Benefit (Benefício do Cuidador) é atribuído a quem apoia uma pessoa incapacitada - familiar ou não - e que é de 88 euros semanais. Há serviços ao domicílio e que podem ser de prestação de refeições a apoio técnico, e subsídios para minorar gastos com receitas médicas, consultas, e despesas de deslocação a hospitais, mas só para quem tem rendimentos baixos. O documento elenca ainda que as autoridades locais garantem as adaptações e remodelações à casa onde o doente vive. As pessoas dependentes podem requerer subsídios à assistência (entre 78 e 116 euros), de apoio à dependência e de independência pessoal (com montantes igualmente variáveis).
Canadá: O país dispõe de vários incentivos financeiros do Estado.
Dinamarca: O município está obrigado a conceder subvenções públicas e a garantir que dispõe de ferramentas e serviços que podem ser usados pelo cuidador quando ele precisa de descansar.

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Ano e meio depois de a petição pela criação do Estatuto do Criador ter dado entrada na Assembleia da República, o debate em torno do documento está a ter finalmente lugar.

Estes cidadãos que têm ou tiveram familiares a cargo – mulheres na sua grande maioria – reclamam um estatuto com caráter jurídico e uma das reivindicações passa pela atribuição de uma pensão de sobrevivência, isto porque acabam, muitas vezes, por perder rendimentos e mesmo o trabalho enquanto cuidam de um familiar.


Releia os testemunhos de duas mulheres que, a sós, trataram dos maridos dependentes. Duras, as realidades de Deolinda Rodrigues e de Anabela Lima


Estando em protesto à frente da Assembleia da República, no dia em que se debate a petição que reuniu mais de 14 mil subscritores, esta sexta-feira, 16 de março, os cuidadores reclamam ainda uma redução de 50% do horário de trabalho sem redução salarial, benefícios fiscais e uma rede de cuidados continuados.

São ainda pedidos especialistas que possam ser designados para o apoio de, estima-se, mais de 800 mil cidadãos e cujo trabalho está avaliado em quatro mil milhões de euros por ano, ou seja, um valor quase equivalente ao que os portugueses pagaram pelo Banco Espírito Santo. Mas por ano! Na galeria recorde algumas das medidas que já existem noutros territórios europeus e no mundo.

As propostas dos partidos

O Bloco de Esquerda quer que os cidadãos que se encontrem nestas circunstâncias tenham direito a quatro dias de descanso por mês e a 11 dias consecutivos de férias, propondo ainda que sejam integrados na rede nacional de cuidados continuados. Entre outras medidas, o projeto de lei do BE defende ainda que este trabalho não remunerado conte para efeitos de pensão de velhice.

Também o Partido Comunista Português apresentou um projeto de lei no qual propõe o reforço de apoio aos cuidadores informais, exigindo ao Governo que, em 120 dias, identifique as medidas legislativas e administrativas no sentido do reforço da proteção laboral e social, bem como o reforço de condições no acesso ao subsídio por à Assistência à terceira pessoa e Complemento de Dependência. O PC reclama ainda a constituição de equipas multidisciplinares de apoio domiciliário e pede apoio psicossocial e formação para os cuidadores.

O partido Pessoas-Animais-Natureza entregou, por sua vez, um projeto de resolução no qual também pede a atribuição de apoio domiciliário e psicossocial a cuidadores, a consagração do direito ao descanso. A nível laboral, o PAN reclama “a existência de um horário flexível e/ou redução do horário de trabalho” e, entre outras propostas, contabilização do tempo despendido para efeitos de reforma“.

O CDS-PP tinha apresentado um pacote legislativo para a proteção dos idosos, no qual estava incluída a criminalização dos maus-tratos e abandono. Uma medida, de resto, para a qual os cuidadores alertam para alguns pedidos. Este pacote legislativo foi chumbado em fevereiro último pelos partidos que compõem a maioria de esquerda.

Imagem de destaque: Shutterstock

https://www.delas.pt/portugal-cuidadores-informais-poupam-ao-estado-82-milhoes-de…