Entre esta sexta-feira, 16 de agosto, e a próxima terça-feira, dia 20, mais de 600 mulheres vão desfilar na Romaria d’ Agonia, em Viana do Castelo. São 619, oriundas de sete nacionalidades – além de Portugal, desfilam participantes de França, Luxemburgo, Brasil, Andorra, Reino Unido e República Checa -, com idades, sobretudo, entre os 20 e os 29 anos, segundo a VianaFestas, organizadora destas celebrações tradicionais.
No desfile deste ano, “o Traje à Vianesa Ribeira Lima Vermelho será o predominante, com 129 mulheres inscritas”, refere a organização, citada pela Agência Lusa. Mas outros trajes vão passear pelas ruas: o Traje de Mordomia Preto Colete, que será envergado por 105 mulheres, o Traje de Cerimónia/Lavradeira Rica, com 50 mulheres inscritas, o Traje à Vianesa de Areosa Vermelho, com 49, e do Traje à Vianesa de Carreço Vermelho, com 47.
Não faltarão ainda os fatos de noiva mais sóbrios, de cor preta, sobre o qual algumas das mulheres chegam a carregar dezenas de quilos de ouro, em peças de ourivesaria tradicional, de família ou emprestada por amigos, simbolizando a ‘chieira’ (termo minhoto que significa orgulho) e outrora o poder financeiro das famílias.
Mas esta tradição minhota não está apenas viva neste tipo de festejos. Há muito que as referências dos trajes das mulheres desta região saltaram do imaginário etnográfico para as tendências de moda, da joalharia ao vestuário, passando pelas passerelles.
Recentemente, o estilista espanhol Roberto Diz apresentou na Semana da Moda de Madrid, uma coleção inteiramente inspirada em Portugal, com destaque principal para a influência do Minho. Lenços minhotos, estampados com o desenho dessa peça tradicional em vestidos longos e filigranas dominam boa parte dos novos conjuntos do designer.
Também a mais recente coleção de Alexandra Moura tem aquela região nortenha como inspiração, desta feita na figura e no trabalho de olaria da artista popular minhota Rosa Ramalho. Intitulada ‘Bestiário’, a coleção foi apresentada, com sucesso, no calendário oficial da Semana da Moda de Milão, em fevereiro deste ano.
A designer trouxe para as suas novas peças o imaginário da obra da artesã de Barcelos, jogando com as referências rurais e urbanas e o clássico com o contemporâneo. A inspiração de Rosa Ramalho, e da tradição minhota de trabalhar o barro, acaba por ser transposta para as peças através do equilíbrio entre um lado romântico e rural e um outro “altamente urbano, citadino e futurista”, como descreve a estilista, onde dominam coordenados street wear e sports wear. Por outro lado, reflete-se nos detalhes e nas misturas de tecidos, visíveis nos padrões, nas cores e nos materiais usados, que vão desde a bombazine à lã, passando pelo algodão ou os metalizados, pelo xadrez.
Lenço dos namorados
Mais evidente foi a inspiração que Nuno Gama trouxe, dessa região, para a sua coleção primavera-verão de 2018, provando que também o vestuário masculino pode beneficiar dos adornos minhotos.
O estilista portuense, que inclui referências à identidade cultural portuguesa em muitos dos seus trabalhos, juntou, nessa coleção, aos padrões inspirados nos azulejos do século XVIII, os dos Lenços de Namorados – traduzidos, nas peças da coleção na forma de corações bordados em acrílico e em palavras como “amor” e “sorte” e nos coletes bordados com os desenhos típicos dos trajes da região.
A marca de Marta Champalimaud, Martine Love, segue igualmente esta inspiração e lançou, em 2018, a primeira coleção de vestidos de linho adornados pelos bordados de Viana do Castelo – todos feitos à mão.
Filigranas
Mas se há inspiração minhota que já faz parte do vestuário quotidiano das mulheres portuguesas, há vários anos, é a filigrana. Peça de joalharia trabalhada em malha fina e com desenho minucioso, tradicionalmente em ouro, tem no desenho do Coração de Viana uma das suas formas mais populares.
Em brincos ou em fios, estas peças adaptaram-se ao vestuário e gostos contemporâneos, ganhando variações em prata e até em bijuteria, e nos mais diversos tamanhos e acessórios.
Pelo meio desse percurso foram conquistando várias celebridades internacionais, que em visitas ao país foram presentadas com essa joia tipicamente portuguesa. Sharon Stone, Carla Bruni, Josse Stone e a rainha Letizia são algumas das personalidades que usaram peças em filigrana.
Veja na galeria acima como o Minho tem influenciado a moda portuguesa e não só.
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