Com tanta solicitação para o auxílio, como detetar as que são verdadeiras e as que são fraude e como evitar cair numa rede de descrédito que, a longo prazo, destapa as que são falsas e arrisca tirar crédito às que pugnam verdadeiramente por um mundo melhor? Na galeria acima, conheça sete passos deixados por especialistas ao Delas.pt e que beneficiam todos os envolvidos.
“O mais importante é perceber qual é a instituição que está no fim da linha e se a mesma é credível, a partir daí temos de confiar”, recomenda Luísa Villar. Esta empresária e especialista em marketing social, que foi a organizadora de campanhas como o Arredonda, revela que sempre foi “contra dar dinheiro a instituições”.
“Sempre me fez confusão as instituições que angariavam milhões e nunca diziam o que iam fazer com eles”, diz Luísa Villar
A mãe dos cantores e autores Luísa e Salvador Sobral prefere antes comunicar “para que fins concretos se destina o dinheiro”, monitorizando-o a seguir. “Sempre me fez confusão as instituições que angariavam milhões e nunca diziam o que iam fazer com eles”, sublinha, exemplificando: “Fiz os Arredondas com não-sei-quantas instituições e pedi sempre que me dissessem ao tostão o que iam fazer com o dinheiro antes da campanha, durante e depois.”
Num caso em que trabalhou com Lidl e a Cáritas, Villar conta mesmo que o acompanhamento se estendeu por um ano após o término do pedido de solidariedade. “Todos os meses ia para a Cáritas perguntar onde tinham gasto o dinheiro, o que tinha sido feito e publicava isso no site para que toda a gente que arredondou soubesse para onde tinha ido o seu donativo.”
Perguntar é o caminho… e a solução
Seja na internet, seja ao telefone, seja na rua, ou seja à boleia de uma entidade certificada, questionar jamais pode ofender. “Pergunto sempre para que serve o dinheiro. Se me pedem que ajude, então têm de me explicar para o que é”, diz Luisa Villar, que conta que, recentemente, até auxiliou uma pessoa na rua que lhe pediu 80 cêntimos. “Achei curiosa a forma como me abordou, disse-me que aquele era exatamente o valor que lhe faltava para poder comer o pequeno-almoço. E eu fui com ele”, refere.
Já sobre entidades, Luísa Villar volta a pegar em exemplos recentes pessoais para explicar o seu modus operandi. “Recebi um telefona em que me pediam para fazer um donativo para um lar de crianças, mas quando comecei a fazer perguntas sobre o destino do dinheiro, recusaram dizer-me. Diziam que não estavam autorizados a revelar. Não ajudei. Se querem ser ajudadas, as instituições têm mesmo de ser transparentes, até porque muitas delas são financiadas por dinheiro do Estado. Por isso, têm mesmo de revelar para que serve.”
Já sobre os pedidos de auxílio que chegam via online, “se calhar estou a ser injusta, mas acho que temos de ir às instituições credíveis, e lembro que, para lá das grandes, há as pequenas que também o são”, contemporiza. Villar lembra, no entanto, que, mediante uma solicitação feita via Web, têm de existir sempre, do outro lado, uma pessoa e uma explicação.
Sem ser a entidade responsável por monitorizar esta realidade, a Defesa do Consumidor (DECO) é parcimoniosa na hora de emitir opiniões sobre esta matéria. “Mesmo que implique dinheiro, não estamos perante uma ação de consumo e não somos, por isso, a entidade mais capacitada”, começa por ressalvar Graça Cabral.
Porém, a porta-voz daquela associação deixa também alguns cuidados a ter na hora de escolher a quem doar. “É importante apurar a veracidade, pedir esclarecimentos junto da entidade cujo nome está a ser usado e, caso não haja confirmação, denunciar à polícia”, refere, acrescentando: “Se a iniciativa está online, um dos sinais passa por detetar se o site é seguro e se o link que surge no ecrã inclui um ‘s’ seguido do http.”
Denúncias e entidades “desorganizadas”
Graça Cabral afirma que “atualmente, a DECO não tem recebido reclamações”. “Já tivemos, no passado, denúncias anónimas sobre falsos peditórios, falsas angariações de dinheiro, mas falo, talvez, de há uma década. Atualmente, não temos registo desse tipo de situação, mas lembro também que não é uma matéria sobre a qual a DECO possa opinar”, afirma a porta-voz da entidade.
Apesar dos escândalos recentes a que Portugal tem assistido e relativos a má gestão de fundos das instituições, Luísa Villar crê que “as instituições não são desonestas – eu nunca apanhei nenhuma -, são muitas vezes desorganizadas”. Esta responsável admite, contudo, que, “com as polémicas, é cada vez mais fácil estragar a imagem de uma entidade”. Por fim e tendo em conta os tempos mais próximos, a marketeer apela a que “ajudem muito, mas com conhecimento”.
Imagem de destaque: Shuttertsock
Figuras públicas e marcas de roupa unidas pela solidariedade