Estas mulheres não existem. Mas têm mais seguidores que você

Aqui estão. Sem excesso de vedetismo, sem exigências de estrelas, sem indisponibilidade de agenda, sem imperfeição ou sede de photoshop. Elas são a perfeição em pessoa. Melhor: elas são a perfeição sem pessoas. A The Diigitals Agency ainda reúne pouco mais de mil seguidores mas tem tudo para concentrar atenções. Descreve-se como a primeira agência do mundo totalmente dedicada a modelos digitais, ou uma montra de gente que existe sem existir. Segurem-se, a marcha dos avatares segue a alta velocidade.

Foi você que pediu uma supermodelo alienígena? Pois bem, também se arranja por aqui. Para um exemplo de beleza um pouco mais prosaico, ou real, digamos assim, apresentamos a bela Shudu, modelo negra e curvilínea (descubra as diferenças em relação a uma manequim real, se conseguir, claro), estrela africana, “primeiro supermodelo digital”, com mais de 100 mil seguidores.

Shudu, Brenn, e Galáxia, (a tal que mais parece saída de um filme de Ridley Scott), são criações do fotógrafo londrino Cameron-James Wilson, de 29 anos, que recorre ao software Daz-3D. Da “linha de montagem” saem modelos destinadas ao “mercado de luxo”, devido ao tempo e preço envolvidos na conceção de um manequim em 3D como estes. Uma só modelo, garante, pode custar milhares de dólares. “É um espaço totalmente diferente”, descreve Wilson ao The Strait Times, recusando a ideia de que as modelos em três dimensões irão roubar o trabalho às mulheres verdadeiras, e alterar por completo a lógica dos editoriais de moda ou da publicidade, apesar da polémica desde logo associada à sua invenção.

Mas, parecendo que não, a oferta virtual não para de crescer no setor. Em abril, mais uma agência britânica começava a perseguir o filão das alternativas aos modelos humanos, definindo-se como uma “Agência de Modelos de Realidade Imaginada”. É assim que a Imraz Models tenciona satisfazer ao milímetro as necessidades dos seus clientes, assegurando que através dos seus designers é possível atingir as feições desejadas para expressar uma emoção, com a precisão da régua e do esquadro. “As marcas podem especificar exatamente o que procuram, da raça ao género, passando pelo cabelo”, descreveu à CNN Philip Jay, antigo fotógrafo da revista Playboy, agora ao leme da agência.

Em junho, a mesma CNN recuperava a história de Lil Miquela, influenciadora no Instagram desde abril de 2016, cujas publicações granjearam mais de um milhão de seguidores. Nada de novo até aqui, se compararmos com a capacidade de alcance de outras intervenientes nesta rede. Acontece que Miquela não é uma mulher real, algo que não parece atenuar os avanços dos anunciantes, antes pelo contrário. A prova do impacte de uma personalidade virtual no mundo de carne e osso está à distância da recente lista das 25 mais influentes para a revista Time, que posiciona este avatar no referido ranking. E não pense que Lil serve apenas de cabide para as mais cobiçadas marcas. Miquela está associada a movimentos como o Black Lives Matter e à organização BlackGirlsCode, sedeada em São Francisco, destinada a introduzir a programação e a tecnologia na rotina de jovens meninas negras da zona de Bay Area.

De resto, milhares de “gostos” validam um quotidiano em tudo semelhante ao de uma eterna adolescente. A legião de fãs dá pelo nome de “Miquelites” e a sua estreia nos singles arrancou um lugar no topo do Spotify em agosto de 2017. A fronteira entre o real e o imaginário é mais ténue que nunca, algo que parece ajustar-se que nem uma luva aos parâmetros correntes, pautados por uma nova tendência, a da fluidez de personalidade – não por acaso, há utilizadores que têm mais do que uma conta de Instagram, para trabalhar e espelhar diferentes facetas das suas vidas, uma realidade especialmente associada à geração Z e à população millennial. Miquela tanto fotografa para revistas prestigiadas como surge ao lado de celebridades e a fazer as malas para rumar a Nova Iorque, em mais uma viagem.

O futuro foi lá atrás

Corria o ido ano de 2006 quando o designer Alexander McQueen fez desfilar um holograma da supermodelo Kate Moss, e no que toca à fast fashion a cadeia sueca H&M chegou a utilizar corpos virtuais num dos seus lookbooks de roupa de banho. Já em 2013, e dando um passo mais à frente, Prounza Schouler ilustrava a sua campanha de inverno recorrendo em exclusivo a cenário digitais e à prestação de avatares, muito dentro do espírito Second Life.

Talvez o princípio do fim das romantizadas histórias associadas à origem das estrelas. Gisele Bundchen estava a comer num restaurante da McDonald’s quando foi descoberta? Natalia Vodianova vendia fruta antes da fama? Kate Moss não passava de uma adolescente franzina quando saltou à vista num aeroporto? As histórias sumarentas são passado. Ou mais ou menos.

Na realidade, há quem preconize que os avatares podem complementar a vida profissional das supermodelos reais, garantindo o seu desdobramento. (Ainda) não há teletransporte? Tudo bem. Graças a esta aventura digital, é possível privar com a verdadeira Gisele Bundchen num evento de moda em Nova Iorque e, em simultâneo, ver o avatar da manequim do outro lado do globo, a promover um filme ou marca – com a vantagem que saberia dominar na perfeição o dialeto local.

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