Gina Rodriguez: “Como mulheres, estamos predispostas a esperar”

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A protagonista de Jane, a Virgem e do novo filme Annihilation falou durante o festival de cinema, música e tecnologia SXSW, no Texas.

O muito antecipado filme de ficção científica Annihilation, realizado por Alex Garland (Ex Machina) tem cinco mulheres como protagonistas: Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez, Tessa Thompson e Tuva Novotny. A receção calorosa da crítica não impediu que o filme fosse diretamente para o Netflix, em vez de ter uma distribuição pelas salas de cinema mundiais. E o facto de serem cinco as mulheres protagonistas continua a ser referido como algo extraordinário.

“É uma bênção e uma maldição”, disse a atriz Gina Rodriguez numa sessão do festival South by Southwest, em Austin. “Uma pessoa quer sentir orgulho por estar neste projeto com mais quatro mulheres fantásticas, mas é triste que estejamos em 2018 e ainda seja notável que cinco mulheres protagonizem um filme.”

“Sou agressiva”, disse Gina, referindo-se à forma como encara não apenas o trabalho mas também os relacionamentos.

É ainda mais raro que uma das protagonistas seja latina. “Não temos latinos suficientes no cinema”, criticou a atriz. “Temos 3% dos papéis com falas no cinema e 2% na televisão. E eu tenho um deles.” Gina é a protagonista da série Jane, a Virgem, do canal CW, que em 2015 lhe rendeu um Globo de Ouro para Melhor Atriz numa série de comédia. A atriz disse, em vez de luta e extrema competição, os atores podem ajudar-se uns aos outros.

“Sou agressiva”, disse, referindo-se à forma como encara não apenas o trabalho mas também os relacionamentos. Gina falava no fecho de dois dias de ativações da aplicação Bumble, criada por Whitney Wolfe Herd, uma cofundadora do Tinder que foi pressionada a sair da empresa por ser mulher. A Bumble tem agora, além da funcionalidade de encontros, uma faceta para encontrar amigos e outra para fazer contactos profissionais, sendo que o controlo é sempre das mulheres.

“Gosto disto da Bumble”, disse Gina, por esse poder dado às utilizadoras. “Porque é que não podemos ser nós a dar o primeiro passo?” questionou. Na Bumble, são as mulheres que têm de iniciar a conversa. É algo que a atriz valoriza, principalmente porque não é essa a forma como a sociedade as educa e consegue ver a forma como temos sido domesticadas pelo que nos rodeia. “Como mulheres, estamos predispostas a esperar.”

O ativismo de Gina Rodriguez tem sido muito visível através do seu envolvimento no movimento Time’s Up, encabeçado por grandes nomes de Hollywood para combater o assédio e abuso na indústria. “O Time’s Up é algo em que pude colocar toda a minha energia”, afirmou, falando da sua vontade de incentivar mudanças no mundo através de positividade. “É bom ter este recurso com mulheres que querem dar poder a outras mulheres”, explicou. “A comida passa de umas para as outras e no final toda a gente come”, resumiu.

Rodriguez frisou que não vivemos isolados e o melhor caminho para o sucesso é trazer os outros connosco.

A jovem atriz, cujo pai incentivava a dizer “Eu posso e eu vou” todos os dias ao espelho, disse que tenta lembrar-se todos os dias de que pode ser o que quiser, quando o quiser. Também continua a manter-se humilde e a aprender com os outros. Porque, como referiu no final, “Tudo isto pode desaparecer.”

Ana Rita Guerra, em Austin