Podia parecer à primeira vista um choque, e logo ao início até foi. Diz Tom Dixon sobre a sua recentíssima colaboração com o Ikea que “começou com roupa de cama e um caixão, mas eles pensaram ser pouco apropriado”.
Acabou por se concretizar numa day bed (não tem uma tradução completamente fiel em Português, a melhor é divã) que se revelou afinal tão Dixon quanto Ikea.
“Sabemos que a cama é a súmula do mobiliário” diz o designer, “e toda a gente precisa de uma. Não interessa se estás preso, a acampar ou no exército, ou no teu leito de morte, toda a gente precisa de uma cama. Acho mesmo que é a única mobília de que realmente se precisa.”
A intenção de Tom Dixon foi também democratizar o já democrático: para o desenho definitivo da coleção de divãs Delaktig (traduzido do sueco, parte de), o designer convidou 75 estudantes do Royal College, da Parsons School of Design, e outros de Nova Iorque e de Tóquio, para contribuir com ideias e alterações para melhor.
Diz Dixon sobre o projeto que se foi tornando antes de tudo “numa jangada, depois numa cama dupla de gaveta, num sistema de sofás para aeroportos. O resultado final é antes do mais uma cama, mas pode também ser tudo o resto.”
O divã Delaktid será debutado em abril, no espaço Multiplex, ao Teatro Manzoni, num evento que decorrerá ao mesmo tempo que o Salone deste ano, entre 4 e 9 de abril. Vai fazer parte do tão mais interessante salão paralelo, o Fuori Salone, que partilhará Milão, como sempre, juntamente com o Salão Internacional do Móvel.
O Ikea produzirá e apresentará ao consumidor lá para o próximo ano de 2018 este divã Delaktid. Olhando para o protótipo é fácil especular se Dixon não terá desenhado para lá já antes, tal é o cunho com que o produtor pode condicionar a forma final; é Ikea sim, mas está ali qualquer coisa que puxa para cima.
Este puxar para cima feito assim, contratando um designer mais que comprovado para desenhar produto de grande superfície, começou na moda, na também sueca H&M. Já em 2004 com Lagarfeld, em 2006 com Stella McCartney, e depois deslumbrando sempre, como com Alexander Wang em 2014 e Balmain em 2015.
A H&M soube sempre fazer este casamento entre democrático e elitista, apresentando as coleções das celebridades convidadas em poucas lojas e em quantidades reduzidas. Tal faz permanecer a aura de bom e raro, como o é o trabalho de designer de nome sonante e conhecido.
A mim aconteceu-me, no ano de Wang, ir comprar uma mochila de malha de pesca preta sobre neoprene, linda, e a custar cerca de €50. Era apenas o terceiro dia depois da apresentação em loja, e já não havia nenhuma. Cheguei a casa, fui ver se havia online, vendida por privados, e sim havia, a custar já pelo menos o triplo, de 150 euros para cima.
A democracia é assim, é sempre um pop um bocadinho mais caro, é o preço da evolução. Mas em última instância é bom que grandes designers tirem partido de máquinas bem montadas, oleadas, lucrativas e democráticas, que ofereçam produto acessível, para que o maior número possível de pessoas possa experimentar o sonho. Resta saber quanto custará a Delaktid.