Um dia depois de António Costa ter anunciado a ex-ministra Elisa Ferreira como escolha do governo português para a lista de nomes a integrar a próxima Comissão Europeia (CE), o presidente Emmanuel Macron também optou por um nome feminino para o mesmo organismo. A ex-ministra da Defesa e antiga deputada europeia Sylvie Goulard é a proposta do executivo francês para integrar a nova composição da instituição europeia, que vai ser liderada por Ursula von der Leyen.
Sylvie Goulard era atualmente vice-governadora do Banco de França, depois de ter deixado o Governo do primeiro-ministro Edouard Philippe em junho de 2017, devido a suspeitas de empregos fictícios por parte do seu partido, o MoDem, no Parlamento Europeu.
Segundo a agência Lusa, apesar de não estar diretamente implicada no caso, esta escolha pode levantar algumas críticas já que a investigação judicial sobre este assunto ainda não terminou e a futura comissária europeia pode mesmo ser chamada a depor.
O MoDem, e os seus líderes, foram um dos apoios de primeira linha do movimento criado pelo Presidente Emmanuel Macron para ser eleito, fazendo com que as suas principais figuras fossem convidadas para integrar o Governo. Sylvie Goulard acabou numa pasta distante dos seus interesses, no Ministério da Defesa, onde apenas permaneceu um mês.
Apesar de a investigação ao MoDem ter sido a razão indicada pela antiga eurodeputada para a saída do Governo, os jornais franceses dão conta que a rigidez das Forças Armadas franceses não terão agradado a Sylvie Goulard.
Ex-ministra francesa vem da mesma área que Elisa Ferreira
À semelhança da candidata portuguesa, Elisa Ferreira, Sylvie Goulard tem uma larga experiência europeia no campo dos assuntos económicos e monetários. Ainda não é conhecida a distribuição das pastas, mas no desempate dos perfis podem pesar questões que têm levantado polémica, do ponto de vista interno e europeu.
Além do caso MoDem, acima referido, o Mediapart, primeiro jornal a sugerir há alguns dias que Goulard seria a escolhida pelo presidente Macron, lembrou que para além dessa investigação, a ex-ministra foi também conselheira especial do Instituto Berggruen entre 2013 e 2016, uma organização financiada por um magnata de Wall Street que dirige um hedgefund com domicílio num paraíso fiscal. Um trabalho que manteve e declarou ainda como eurodeputada.
Já a escolha de Elisa Ferreira, que é a primeira mulher portuguesa nomeada para o colégio da Comissão Europeia, parece reunir mais consenso, pelo menos internamente. A nomeação da ex-ministra foi saudada entre a classe política nacional, ainda que PCP e BE sublinhem que mais importante que os nomes escolhidos são as políticas apresentadas e seguidas pela CE.
Carlos Moedas, atual comissário europeu, com a pasta da Investigação, Ciência e Inovação, considera que a ex-eurodeputada e atual vice-governadora do Banco de Portugal está “muito bem talhada” para assumir uma pasta de natureza económica e financeira, “que se encaixa na perfeição” no seu perfil.
O político, designado ainda pelo governo PSD/CDS-PP e que se prepara agora para passar o testemunho, notou, todavia, que a antiga deputada europeia “também pode fazer muitas outras pastas”, até porque o cargo de comissário é essencialmente político.
Elisa Ferreira foi ministra dos governos chefiados por António Guterres, primeiro do Ambiente, entre 1995 e 1999, e depois do Planeamento, entre 1999 e 2002, e ocupa, desde setembro de 2017, o cargo de vice-governadora do Banco de Portugal.
Quanto à nova Comissão Europeia, presidida por Ursula von der Leyen, deverá começar a ganhar forma esta semana.
Confirmada pelo Parlamento Europeu, em 16 de julho passado, por uma curta margem, como a primeira mulher a presidir ao executivo comunitário, Von der Leyen anunciou como uma das suas primeiras prioridades formar uma equipa totalmente paritária em termos de género, e solicitou aos Estados-membros que lhe apresentassem nomes de dois candidatos (um homem e uma mulher, cada) de entre os quais pudesse escolher, mas Portugal foi dos poucos países a fazê-lo.
O ‘elenco’ final de 26 comissários e respetivas pastas – excluindo a Alemanha, que já tem a presidência, e o Reino Unido, que conta sair em 31 de outubro, na véspera da entrada em funções da nova Comissão — deverá por isso ser ‘fechado’ imperiosamente nas próximas semanas, a tempo para as audições nas respetivas comissões do Parlamento Europeu, que deve pronunciar-se sobre o colégio como um todo em 22 de outubro (e que, regra geral, ‘torce o nariz’ a um ou mais nomes, obrigado a alterações num curto espaço de tempo).
O mandato de Ursula von der Leyen, que terá uma duração de cinco anos, deverá começar no dia 01 de novembro.
com Lusa