Maria de Medeiros estreia filme sobre o que é ser família

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[Fotografia: LOIC VENANCE / AFP]

O filme Aos nossos filhos, realizado por Maria de Medeiros, chega esta semana aos cinemas portugueses, uma década depois de se ter estreado a peça de teatro que o inspirou, numa nova leitura sobre o que é uma família.

Aos nossos filhos é uma longa-metragem de ficção realizada por Maria de Medeiros no Rio de Janeiro e que adapta uma peça de teatro homónima da autora brasileira Laura Castro, estreada em 2013 no Brasil e já apresentada em palcos portugueses.

A peça, que vai buscar o nome à música de Ivan Lins Aos Nossos Filhos – uma mensagem dos brasileiros marcados pela luta pela liberdade nos anos 1960 e 1970 a uma nova geração -, assenta num conflito geracional entre mãe (Maria de Medeiros) e filha (Laura Castro), falando sobre homossexualidade, preconceito e também sobre memórias da ditadura brasileira.

No filme, a narrativa é interpretada por Marieta Severo (a mãe) e Laura Castro (a filha), contrapondo e cruzando a história de ambas: A mãe revive alguns traumas pessoas, de maternidade, quando foi presa durante a ditadura no Brasil, e a filha, lésbica, passa por um processo de maternidade por inseminação artificial juntamente com a mulher.

No filme entram ainda Marta Nóbrega, José de Abreu, Cláudio Lins e Ricardo Pereira, entre outros. Em entrevista à agência Lusa, a propósito da estreia do filme em Portugal, Maria de Medeiros recordou que a peça de teatro representou uma descoberta de “tudo o que significa efetivamente ter crianças numa família homoafetiva” e que alinhou “de imediato” num convite à autora, Laura Castro, para fazer o filme.

Sobre o tema da peça, e por extensão, também da longa-metragem, Laura Castro disse em entrevista à Lusa que tinha vontade de juntar duas gerações de mulheres, “pensando em revoluções sociais e comportamentais”.

Numa década, entre a estreia da peça e a estreia do filme, Laura Castro fala de “uma luta constante” de casais do mesmo sexo que desejam ter filhos, num Brasil que politicamente também mudou.

O filme estreou-se em 2022 “com um impacto também muito diferente no Brasil” e gerou muito debate num contexto de liderança do país pela extrema-direita do presidente Jair Bolsonaro, disse a autora brasileira. “Acho que ganhou uma nova dimensão, de pensar sobre a ditadura militar brasileira, sobre os impactos disso, sobre a democracia, sobre o que é que a gente ainda precisa conquistar” em matéria de direitos, disse.

Maria de Medeiros considera que “de alguma forma o filme integrou toda a angústia” e a ideia de “um retrocesso muito grande, de uma era muito sombria. Esta era Bolsonaro”.

Antes de Aos nossos filhos, Maria de Medeiros assinou outros filmes enquanto realizadora, nomeadamente o documentário Repare Bem, de 2013, e o filme Capitães de Abril, de 2000.

LUSA