Maria do Mar: A loja onde podemos aprender (quase) tudo sobre as crianças

Há certas coisas que nunca vai encontrar na Warehouse da Maria do Mar, em Alvalade. Como brinquedos associados a publicidade ou bonecos animados, nenucos ou fraldas cujos materiais contêm químicos. Em substituição, existem brinquedos de madeira, bonecos mais realistas, em vários tons de pele, e fraldas biodegradáveis, além de mobiliário, têxtil, literatura e tantos outros bens essenciais a pais de primeira viagem.

O que une todos estes elementos? Mónica Albuquerque – a proprietária da marca que neste momento tem já duas lojas em Alvalade e está a caminho da terceira -, mas também o seu gosto por empresas que seguem com princípios sustentáveis. Neste armazém da Maria do Mar, a mobília exposta para venda foi criada para durar para sempre. “Já tivemos uma inundação e continuam impecáveis. Não acredito em mobílias que se desfazem com águas, que se desmontam e nunca mais podem ser usadas. Acredito em mobílias que são feitas para durar e dar aos miúdos um sítio de pausa e descanso”, frisa Mónica.

Quando notamos que grande parte da mobília é nórdica e que o têxtil e as peças de decoração privilegiam as cores claras, Mónica ri-se e diz: “Odeio coisas fofas”. Embora reconheça que grande parte das escolhas da Maria do Mar possam cair nesse estereótipo, garante que a curadoria na sua loja se faz de peças de qualidade.

Ali, não existem brinquedos com pilhas, mas sim peças de madeiras sólidas (mais caras) ou em MDF, um derivado da madeira que dá origem a peças de qualidade e mais baratas que “os brinquedos de plástico do chinês“. Também os biberões são de vidro e as chupetas têm a base da tetina mais fina para não prejudicarem o crescimento dos dentes dos bebés.

Tão importante quanto a qualidade é a quantidade. Mónica, que tem três enteadas mais velhas e um filho de dois anos, garante: “O Manel só tem três brinquedos”. Ela, que já leu tudo o que havia para ler sobre puericultura, psicologia infantil e assistiu a seminários sobre estes tópicos, afirma que os miúdos precisam de menos brinquedos do que os pais possam pensar. “Concordo em absoluto com as teorias de que os miúdos devem ter brincadeiras motoras”, afirma, explicando: “Até aos dois anos, os bebés só precisam um saco de blocos, um puzzle e uma bola. No máximo cinco coisas, não precisam de mais nada”.

A responsável pela loja portuguesa, situada no número 28, da Rua João Saraiva, sublinha ainda que os brinquedos devem ser uma ferramenta da criança e não vice-versa, ressaltando a importância de serem os pais a ensinar. “Acredito na importância de um brinquedo inacabado, em que têm que ser os pais e as crianças a trabalhá-lo. Por exemplo, temos umas cabeças de animais em peluche, que não vão ensinar os miúdos. Têm de ser os pais a explicar-lhes de onde vem o elefante, o som que faz, o que come e como se comporta”. E atira ainda: “Acredito que os pais deviam estar com os miúdos três horas por dia, mas acho que é também uma questão de prioridades e organização. Sem querer ser inconveniente, foi precisamente por saber que nunca ia conseguir estar com os meus filhos com a proximidade que queria, caso trabalhasse numa empresa, que inventei o meu próprio trabalho”.

Maria do Mar: Das festas de anos à loja de referência dos pais, em Portugal

Afinal, como começou Mónica esta marca, que hoje é uma referência em Portugal para pais que procuram um estilo de vida e peças mais sustentáveis? Foi há apenas quatro anos que a lisboeta criou o site Maria do Mar e começou a organizar pequenas festas de anos. Antes disso, tirou um curso de Gestão, trabalhou numa editora de livros portuguesa durante muitos anos, mudou-se para o Qatar, regressou a Portugal e apaixonou-se pelo atual marido, pai das suas três enteadas. “Quando comecei a estar com elas, percebi as necessidades que eu tinha enquanto educadora para conseguir passar-lhes determinadas valores e ferramentas para crescerem mais livres, mais criativas, fortes e felizes”, conta.

O gosto pelas crianças e as referências de ensino na sua vida já lá estavam: a mãe e a avó materna, que viajou pelos cinco continentes, viveu no Brasil e que sempre a inspirou pela busca de uma educação mais autêntica. “O conceito de educar um filho é um bocadinho mais complexo do que parece. Hoje sou mãe de um e madrasta de três. E o impacto que existe em não apoiar os miúdos na brincadeira ou em termos académico, é muito mais consequente do que pensamos”, diz. E acrescenta: “Muitos pais não sabem entrar numa livraria e dizer o nível de leitura dos filhos.”

Percebeu que a grande dificuldade era a curadoria e que havia uma “necessidade gigante” de ajudar os pais. Hoje tem 3 mil produtos à venda no site e mais de sete mil referências nas duas lojas – a outra fica também em Alvalade, na Acácio Paiva, e a terceira, dedicada a roupa sustentável para crianças, abrirá em setembro. Mas tudo começou com as festas de anos que organizava para as suas enteadas, muito elogiadas, e que na verdade se distinguiam também pelas “receitas de bolos caseiros, espetadas de frutas” e pela ausência de processados.

Durante os primeiros anos da Maria do Mar, Mónica dedicou-se assim à organização de festas infantis, vendendo muitos destes produtos no site. Com a gravidez do primeiro filho, foi obrigada a abrandar e o negócio acabou por se materializar, pouco tempo mais tarde, na primeira loja da Maria do Mar, na Acácio Paiva, que hoje é mais focada em lifestyle (agendas, prendas).

Além da nova loja, a lisboeta, que sempre viveu em Alvalade, quer dedicar-se também aos workshops dirigidos aos pais. “Quem é que ensina os pais a educar? É a experiência deles ou a dos pais deles, que hoje são diferentes do que eram”, explica, concordando que a nova geração terá outros desafios, como a sustentabilidade.

Com apenas dois anos, o seu filho já leva uma garrafa de vidro com leite para a escola e um saquinho de pano para a sanduíche. “Nunca comeu comida processada nem açúcar, faço-lhe papas de aveia e o nosso pão é natural, feito por uma senhora em casa”, conta. Já as enteadas são constantemente desafiadas com projetos que podem ser aplicados na vida real. Como o mais recente, inspirado por um documentário sobre a indústria de fast-fashion e o custo real da roupa. “Perceberam que não é possível fazer-se T-shirts a 5 euros. Vão apresentar-me um Powerpoint, fotografias e cartazes…”. E a quem duvidar sobre esta forma de ensinar, responde. “Eles não são nada gozados por isso na escola, hoje em dia eles são fixes por isso”.

 

3 recomendações da Maria do Mar para pais de primeira viagem

Três livros
Educar Rapazes/ Educar Raparigas, de Steve Biddulph
Irmãos, de Rocio Bonilla
Simplicity Parenting, de Kim John Payne

Três produtos
Chupeta MAM Perfect Night – mais fina e flexível na base da tetina
– Biberão de vidro da Avent Philips
– Fraldas biodegradáveis Muumi Baby Starters

 

Crianças que dizem ‘obrigado’ são adultos com “relações saudáveis”