A obesidade, os maus hábitos alimentares, o excesso de sal, o tabaco e o álcool, o sedentarismo. A lista de fatores de risco não é muito longa, mas é já bastante conhecida dos portugueses como a causadora de problemas de hipertensão, que por sua vez provocam mais doenças: neurológicas, cardiovasculares, renais, oculares e muito mais.
“Assassina silenciosa” para muitos, a hipertensão está entre os principais fatores de risco dos acidentes vasculares cerebrais, sendo o AVC a maior causa de morte e incapacidade em Portugal.
“Quando recebemos notícias de que já existem 10% de jovens obesos em Portugal, isso é uma prevalência enorme”, começa por explicar ao Delas.pt o cardiologista do Hospital de Santa Maria da Feira. Para Fernando Pinto, há muito por fazer em matéria de prevenção, sobretudo quando falamos de uma doença que, “entre custos de saúde e custos sociais, se cifra em milhões de euros ao Estado português todos os anos”.
Mas nem só de dinheiro se fala. O cardiologista deixa bem claro que “se estima que a doença roube dez a 12 anos de vida útil, o que é um número muito significativo”,
Enquanto presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), este médico lutou contra o excesso de consumo de sal em Portugal. E se num dos casos venceu, num outro não conseguiu.
“A lei que entrou em vigor em 2009 obrigou à redução do teor de sal no pão teve um impacto enorme. Já uma das ações que infelizmente não viu a sua tradução em forma de lei teve que ver com a necessidade de codificação dos produtos alimentares consoante cores e de acordo com o conteúdo de sal presente em cada produto alimentar”, recorda.
Para o especialista, tal tinha sido uma medida importante no sentido de “facilitar à dona de casa, muitas vezes a responsável de compras do lar, à mãe ou ao pai de família a tomada de opções conscientes na hora de comprar os produtos alimentares, ajudando a fazer escolhas verdadeiramente informadas”.
Recorde-se que o consumo médio de sal diário em Portugal está a rondar os 10,7 gramas, cerca do dobro do que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde: 5 a 6 gramas.
E Fernando Pinto exemplifica: “Uma simples embalagem de cereais para o pequeno-almoço pode ter quantidades de sal muito elevadas e, muitas vezes – e disse-o na Assembleia da República – as mães estão a ‘envenenar’ os seus filhos sem saberem”, recorda, lamentando que “o poder político possa ser mais sensível a outros interesses económicos do que aos da saúde”.
Na galeria acima conheça os alimentos que podem substituir ou ajudar a diminuir o uso de sal na alimentação diária que confeciona em casa. Dicas que chegam em Dia Mundial da Hipertensão, que se assinala esta quarta-feira, 17 de maio.
A hipertensão e gravidez
Fernando Pinto vinca que “as mulheres têm uma forma de hipertensão específica gravídica (durante a gravidez) e que pode ter consequências graves, podendo desenvolver pré-eclampsia ou mesmo eclampsia“. Para lá disso, o especialista vinca que não há uma taxa de prevalência superior nas mulheres do que nos homens. Pelo contrário.
“Um estudo de 2014, intitulado PHYSA e em torno da prevalência da Hipertensão em Portugal e levado a cabo pela SPH, vem explicar que a prevalência da doença é de 42% na idade adulta, em mais de 18 anos. Destes, 44% são homens, 40% são mulheres”, recorda o especialista. Mas o mais dramático, ressalva, é que “1/4 da população hipertensa desconhecia sê-lo e não media a tensão arterial”.
A hipertensão e a necessidade de reaprender a cozinhar
“Tenho essa ideia até da minha prática clínica”, confirma, entre sorrisos, Fernando Pinto. Afinal, assegura o médico, não faltam casos de mulheres que lhe pedem ajuda para mudar os hábitos alimentares e para lhes dar dicas para uma alimentação saudável lá em casa. Seja porque elas passam a ter diagnóstico de hipertensão, seja porque os maridos são agora portadores da doença e é preciso passar a confecionar pratos diferentes.
“Tenho muitas esposas de doentes e até de doentes (elas) a perguntarem como passar a fazer comida saudável e eu aponto sempre para o site da SPH: onde podem encontrar conselhos, receitas e até produtos substitutos do sal”, explica o cardiologista.
Mas o problema passa pelos pacientes chegarem a esta conclusão numa fase da vida em que já pouco se pode evitar. Afinal, sublinha o cardiologista, “deveríamos comer sempre bem, em todas as idades, como faziam os nossos avós: com mais fruta e legumes e menos alimentos processados e gorduras saturadas“. Por isso, a solução não é complexa. “Temos de mudar enquanto sociedade para deixarmos de correr atrás do prejuízo e mudar este panorama”, conclui este membro e ex-presidente da SPH.
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