O que um furacão me ensinou sobre as minhas prioridades na vida

1-Furacão

Depois de uma semana passada na Carolina do Norte, fica o testemunho de quem se preparou para o pior, com o Furacão Florence a bater à porta dos norte-americanos.

Por Jaqueline Silva, na Carolina do Norte, EUA

Se tivesse de deixar todos os seus bens materiais para trás, levar apenas uma mochila, pequena o que escolheria colocar lá dentro? Esta é uma pergunta para a qual não tinha resposta, até agora. Tive de escolher quatro ou cinco coisas que fossem importantes para mim e simultaneamente necessárias à minha sobrevivência.

O necessário e importante nem sempre andam de mãos dadas e foi a essa conclusão que cheguei quando vi que tinha a mala cheia com o computador, kindle, telemóvel e documentos importantes. Mas de que me serviria o computador se estivesse a morrer de frio em cima do telhado à chuva? Não o podia usar como roupa nem tão pouco comer…

A minha última semana foi passada na Carolina do Norte onde o Furacão Florence destruiu grande parte da costa. Eu não estava na zona de impacto mas não deixei de me preparar para o pior.

O alerta encontrava-se no limite máximo, não se podia sair de casa entre as seis da tarde e sete da manhã, porque os roubos começaram a acontecer. A possibilidade de cheias obrigou-me a colocar todos os meus bens em sacos de plástico gigantes caso a casa ficasse inundada e à porta, tinha a minha mochila preparada para sair a qualquer momento, caso fosse necessário.

É muito raro estarmos em situações extremas onde a possibilidade de perder tudo, inclusive a vida, está em causa. Mas, é nesses momentos que percebemos o que é realmente importante. Os computadores, iPads, roupas e mesmo documentos são substituíveis, é uma questão de dinheiro.

Mas, as nossas capacidades intrínsecas de fazer escolhas acertadas em momentos de stress, de aceitar de forma serena que há uma ínfima possibilidade de correr tudo muito mal levando-nos a perder tudo aquilo que conhecemos e de sermos emocionalmente ágeis para gerir o que ainda não aconteceu, essas capacidades são as que efetivamente precisaremos.

Nesta equação, entre a sobrevivência e resiliência existem os fatores que não controlamos, neste caso o furacão. Para quem vive na costa das Carolinas, sim, foi devastador mas para mim que estava numa zona específica da cidade de Charlotte, foi um momento para estar com amigos e família. A ironia é que mesmo dentro da própria cidade, muitas das pessoas que se refugiaram na casa onde estava ficaram sem eletricidade, algumas sem carros e algumas ficaram com as casas inundadas. Algumas dessas casas estavam apenas a 15 minutos de distância, portanto poderia ter sido comigo.

Aprendi que sofrer por antecipação não melhora os acontecimentos, que o espírito de desapego dos bens materiais auxilia na crença de que vai correr tudo bem, pois efetivamente estes são substituíveis, e que acreditar que temos dentro de nós todos os recursos que precisamos para viver é o melhor kit de sobrevivência.

Faça este exercício. Abra uma mochila pequena e escolha as cinco coisas que levaria consigo em caso de uma catástrofe…

Quais seriam?

Fui ao Burning Man, “a cidade onde somos abraçados por desconhecidos nus”